Sexta-feira, final de tarde. Saio do banho e, de cabeça quente - não por causa da água -, contrario o meu hábito de passar o hidratante enquanto estou sentada, sobre uma toalha, na cama. Mudo a rotina e vou, toda molhada, pegar o vidro no quarto para fazer o trabalho do "espalha-creme" no banheiro. Tudo bem se a ideia parasse por aí. Só que os meus neurônios estão em colapso... Apoio o pé direito no cesto de roupa suja, me inclino, o cesto vira, eu me desequilibro, bato com as costelas esquerdas na tábua do vaso sanitário e me estabaco no chão. Muita calma nessa hora! Estou sozinha, tenho que me prestar os primeiros socorros. Com cuidado, fui levantando. Pelo visto, não quebrei nada. Mas procuro a emergência de um hospital para garantir. Várias radiografias. "Fissurou uma costela, não há nada a ser feito. Vou receitar uma pomada para você passar nos hematomas que vão aparecer".
Volto para casa, deito na cama, respiro fundo, fecho os olhos e concluo que só uma UPP - Unidade de Psicologia Pacificadora - pode resolver a minha vida. Algo semelhante à nova política de segurança pública do estado do Rio de Janeiro: as Unidades de Polícia Pacificadora ocuparam as comunidades cariocas, antes dominadas pelo tráfico de drogas. Para quem devo solicitar uma UPP especial? Para o governador Sérgio Cabral, o secretário de segurança José Mariano Beltrame? Talvez o melhor seja escrever para a chefe de polícia civil, a delegada Marta Rocha. Deve ser mais fácil uma mulher entender o embrolho em que a minha cabeça se encontra.
O inferno astral, por causa de uma lua no sol da estrela de Plutão, começou na segunda-feira. Sou jornalista e estava muito infeliz no meu emprego. Bota infelicidade nisso! Depois de várias sessões de terapia, onde fantasiei uma balança - punha em um prato o meu salário e no outro a minha insatisfação - pedi para ser mandada embora. Quero tocar a minha carreira de escritora. Em frangalhos por ter jogado para o espaço um trabalho seguro, avistei o ex-marido na portaria do meu prédio. Era tudo o que faltava para piorar o dia. Ali mesmo, ele me perguntou se eu não poderia "dar uma força e indicar" a atual namorada dele para uma vaga no meu emprego. Pediu simples assim. Caramba, me esquece! Ou, como dizem os adolescentes, me erra! Larguei-o falando sozinho. Necessito de uma Unidade de Psicologia Pacificadora para me proteger de pessoas que insistem em remexer nas minhas antigas mágoas, ainda não cicatrizadas. E das novas também - porque eu ainda não sei se vou segurá-las. Dormi mal naquela noite, tive pesadelos. Neles, as contas me soterravam, os credores batiam à minha porta e o meu nome parava no SPC - Sociedade Perseguidora dos Caloteiros.
Cedinho, na terça, liguei para a minha melhor amiga que certamente acabaria com a minha insegurança. Contei que pedi demissão. Ela foi compreensiva, incentivadora, amável...: "Você ficou maluca, perdeu o juízo! Como pode fazer isso?" Ai, preciso de uma UPP que me dê colo e apoio quando sou incompreendida.
Na quarta, mãos à obra. Mandei 44 emails, com o meu currículo anexado, para editores de jornais e revistas, assessores de imprensa e agentes literários. Com certeza, pelo menos um deles se interessaria em publicar ou divulgar as minhas crônicas. Ansiosa, interrompi o regime e devorei um pote de sorvete, o de chocolate cremooooooso. A minha balança começou a gritar comigo. "Você não tem força de vontade, agora sou eu que estou desistindo de você!" Mereço uma Unidade de Psicologia Pacificadora capaz de adoçar o meu coração, sem me engordar, quando as coisas estiverem um pouco amargas.
No dia seguinte, esperançosa, abro os meus emails. Não, não, não, não, não, não, não, não, não! Essa é a tradução de todas as respostas que recebi. Umas floreadas, algumas com pedidos de desculpas e outras frias mesmo. Desejo uma UPP que me proteja de quem não acredita em mim e nos meus sonhos.
Na sexta de manhã, desci para comprar pão com a pior cara e roupa que eu tenho. Olhos inchados, cabelo preso no alto da cabeça - uma mistura de coque com rabo de cavalo -, camiseta surrada e jeans moído. Ando e vejo um homem atravessando a rua em minha direção. Não é possível! Nenhuma árvore para eu me esconder atrás. Ele já me viu. É o meu novo vizinho, apelidado por mim de monumento, por quem venho arrastando um trem. Abaixo a cabeça, digo um oi baixinho e noto que estou usando um chinelo laranja e o outro vermelho. Anseio por uma Unidade de Psicologia Pacificadora que me torne invisível nas situações constrangedoras, de mico total.
Só para isso? Não, já que vou pedir uma UPP especial espero que ela termine também com essa minha mania de perfeição, de achar que posso matar um leão por dia, com as lágrimas fora de hora, a culpa por não conseguir ser o que as pessoas esperam de mim, o complexo pela celulite, pela estria, a barriguinha e a impaciência que sinto ao tirar as sementes do mamão papaia.
Estou aqui quieta, depois do hospital. Uma amiga e colega de profissão telefona. Ela vai dar uma força nos meus planos. Sim, sim, sim, sim, sim, sim, sim, sim! E eu vou ficar de cama por causa do tombo? Eu não! Jogo a balança traidora na lata de lixo. Amanhã vou para Búzios. Mas governador, secretário e delegada, a minha Unidade de Psicologia Pacificadora eu quero!
Leia as colunas anteriores de Vera Lucas:
Saia de calça!
Aventuras de uma mudança
Futura inquilina
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O que faz: Jornalista, escritora e equilibrista.
Pecado gastronômico: Pizza e brigadeiro.
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Atualizado em 11 Fev 2014.