Todo final de ano é a mesma coisa. Época em que as pessoas prometem seguir suas metas para o ano que está por vir, pensar em tudo novo; arrastar com afinco o regime "Duro de Matar 25 - a missão"; dar um salto para um novo empreendimento; ter ou não ter cachorro; ter ou não ter outro filho; fazer um upgrade em algum setor da sua vida, seja no plano de saúde, na troca do carro, ou na escola das crianças; ganhar na loteria; viajar pelo mundo; fazer muitos cursos; outra lua de mel; namorar; embelezar-se - afinal, o cabelo também precisa de um novo corte e... A roupa do reveillon, já comprou?
Com tantas preocupações que nos fazem quase beirar a loucura, chego à conclusão que o melhor a fazer é relaxar e observar, dentro de nós mesmas, a pessoa que ficou ali adormecida, sem rumo. E, por que não, convidá-la a uma linda viagem ao seu eixo central?
É o que chamamos de interiorização. Parece simples, mas não é. Pode o terapeuta chegar pra você e ditar toda a cartilha do beabá, o psicólogo, o acupunturista, sua professora de ioga, pilates, o Mágico de Oz, a mãe, a fada madrinha, não importa. Enquanto você não estiver preparado para mudar, nada acontecerá.
E, quando você obedecer às regrinhas básicas, começando do zero, limpando a mente de problemas e se dedicando inteiramente a uma só coisa de cada vez, focando em seus objetivos e planejando melhor, tudo irá clarear. Os caminhos vão se abrir aos poucos, e a sensação será altamente satisfatória.
Sim, uma limpeza da alma, literalmente. Deixando de lado o que não presta, as futilidades, as coisas inúteis e sem importância para dar espaço a tudo que realmente alimenta seu coração.
Quer sensação melhor do que se sentir viva? E estar viva não é simplesmente se preocupar em acordar todos os dias, comer e dormir. E reclamar, claro, da falta de tempo, se questionando, indignada, por que do dia não possuir umas 30 horas...
Isso é viver no piloto automático. E isso é vida? Por que não subir em uma árvore em meio a uma praça, jogar bola com os pés descalços, fazer pinturas com tinta guache e sujar até a pontinha da orelha? Eu tive o prazer de escalar uma árvore esses dias - brincadeira essa que há tempos não fazia -, e foi uma experiência maravilhosa. Ralei minha barriga toda, é verdade. Mas é como se eu tivesse resgatado a menininha que habitasse em mim, que na verdade nunca deixou de existir, mas, certamente, foi atropelada por uma série de compromissos e responsabilidades que a vida exigiu. Uma coisa é crescer, outra é deixar de ser criança. E isso pode ser um crime! Deixar pra trás as travessuras e molecagens pode transformar você em uma pessoa velha e chata, rapidamente. E não falo de velhos chatos por conta da idade, e sim por conta da mentalidade ranzinza e sem cor que algumas pessoas preferem imprimir. São pessoas opacas, pois perderam todo seu brilho e carisma pelo simples ato de viver com emoção.
Brincar com crianças, mergulhar no universo infantil, adentrar uma nova atmosfera e sentir-se feliz por pequenas coisas pode ser um enorme avanço. Ao ver minha filha praticando o seu "tchau tchau cocô", que está indo embora ao dar a descarga, são momentos únicos, em que eu sinto um orgulho imenso de ser um pouco criança novamente e viver sem a chatice de precisar levar tudo tão a sério.
Então, renovar as energias neste fim de ano, pra mim, terá cheiro de rabanada com jabuticabeira e pé sujo. Cara de porquinho cor de rosa, princesas encantadas e muito mais histórias pra contar...
Leia as colunas anteriores de Carolina Marçal:
Mulheres liberais
É pra rir ou pra chorar?
Uma balzaca, sim senhor
Quem é: Carolina Marçal.
O que faz: É mãe, escritora e ex-chocólatra.
Pecado gastronômico: As panquecas da minha avó!
Melhor lugar do mundo: Qualquer um onde eu possa ver as estrelas.
O que está ouvindo no rádio, carro, mp3, iPod: Coco Rosie, Radiohead, Strokes, Jamiroquai e Talking Heads! E de tudo mais um pouco...
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Atualizado em 6 Set 2011.