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Todos sabem o que tem acontecido nos últimos dias na cidade de São Paulo. Fala-se muito do acidente aéreo. Realmente uma fatalidade! Mas muito antes disso acontecer, eu me interrogo se vale a pena continuar morando na maior cidade da América Latina.
São Paulo, acho muito parecida com Nova Iorque, apesar de nunca ter visitado. Amigos já disseram e principalmente posso perceber pelos filmes e seriados que assisto, em especial Sex and the City, que SP e NY têm muito em comum, sempre com os exageros característicos das megalópoles. Gastronomia, moda, nightlife e cultura são alguns dos benefícios que nós paulistanos temos, por suportar todas as dificuldades, também exageradas de São Paulo. Trânsito caótico, alto custo de vida, poluição (até o Kassab amenizou um pouco a visual) e a atual violência. Sempre deixei claro minha admiração e adoração pelo Rio, mas jamais havia pensado em adotar a cidade para viver. Bem dito, jamais havia! Dia desses sonhei que morava no Rio, super close, trabalhando até as 16h45, curtindo o pôr-do-sol de Ipanema, tomando cerveja na Lapa. E eu que nem de cerveja gosto. Argh! Daí acordei, graças a Deus, para os trabalhos exaustivos até altas horas, a selva de pedra e o Gim Tônica que somente São Paulo ou Nova Iorque podem me proporcionar.
São Paulo por ser a cidade dos exageros também traz à tona ações que aterrorizam nossa vida. E é por conta disso que relato minha relação de amor e ódio a São Paulo.
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Lembram do ataque do PCC? O sensacionalismo da imprensa, aliado ao medo evidente das pessoas, fazia com que muitos amigos de fora da cidade sempre me ligassem pra saber se estava tudo bem comigo. Nessa época, não se via outra coisa senão ruas vazias e desertas. Sabe aquele club que inaugurou com uma péssima divulgação? Algo assim. O comércio também foi super afetado. Empresas dispensavam seus funcionários mais cedo. As pessoas tinham medo de vir a São Paulo. Pra todo lado se avistava milhares de carros de polícia e soldados visivelmente nervosos. O cinza dos uniformes policiais então tomou conta da cidade, que nos dias normais já tem esse tom de cor.
E o que dizer da onda de violência que assolou o Jardins? Logo a região dos Jardins - entende-se Cerqueira César, Jardim Paulista, Consolação - que é sinônimo de consumismo fashion para uns e de puro capitalismo pra outros, foi cada vez mais registrando casos de agressões, inclusive com casos fatais. Falaram em skinheads, punks e até mesmo grupos homofóbicos, como os causadores de tanta intolerância. A verdade é que pra essas pessoas a vida humana não vale nada. Ouvi historia de casais homossexuais agredidos em plena Avenida Paulista, uma moça espancada na porta de uma pizzaria na Rua Augusta, além do caso do garçom que foi assassinado no mesmo pedaço. Quase esqueci do caso do professor, também homossexual, que foi espancado pelos tais "Homens de Preto".
Tudo isso é caso de polícia, atos que um pobre trabalhador como eu não pode evitar. Mas não é somente a violência que estressa e amedronta o paulistano. É só pensar no frio que assolou a cidade semanas atrás que eu já tremo. O que foi aquilo? Adoro frio sabe, acho que as pessoas ficam - ou pelo menos deveriam - mais elegantes. Os trenchs, as parkas, as polainas e tudo mais que se pode usar e abusar no inverno pode ser usado, ou melhor, desfilado. Mas, mesmo com esse argumento de ter a chance de elogiar ou gongar o povo, a cidade não está acostumada com tanto frio, típico das regiões mais sulistas do Brasil. Nessa hora, a gente não pensa em outra coisa, senão se agasalhar, seja da maneira que for. E daí acontece a desgraça. Você sai pra trabalhar e, de repente, parece que você está em Lages/SC. Isso te força a comprar urgentemente um casaco, algo que não deixe você congelar. Mas então, o vendedor te empurra um cachecol, um gorro, luvas, etc, e quando vê, você estourou seu limite do cartão de crédito, mas compensou com um look de inverno que até os nova-iorquinos sentiriam inveja. Eu que não resisto a um convite pra deitar o cabelo, nessa época do frio em São Paulo pensava duas vezes antes de sair pra dançar. Em compensação, não fazia cerimônia quando me convidavam pra almoço, jantar, lanche da madrugada ou qualquer coisa que enchesse meu estômago de besteiras engordativas. Parece que o frio te força a comer mais do que você pode. O inverno é ingrato! E depois da tempestade vem a bonança, ou melhor, depois da perturbação, vem a boa ação.
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Todo esse frio me fez pensar nos desabrigados, nas pessoas que sofrem nessa época do ano, sem algo pra vestir. Decidi então fazer uma limpa nos meus armários. Comecei a jogar fora as roupas rasgadas e que não prestavam nem pra limpar a casa. Minha mãe sempre diz que devemos doar aquilo que não serve mais ou que somente ocupa espaço no nas gavetas. Diz ainda que essa ação dá espaço para as roupas novas entrarem no nosso closet. Assim espero! Sempre fui muito apegado às minhas roupas. Acho que cada look conta uma situação ou representa algo que você viveu. É assim na história da moda, e sempre foi assim comigo. Então fiz. Separei peças que vão de Slam a Alexandre Herchcovitch, peguei minha fase mais consumista, a de clubwear... No final, uma sensação de alívio pairou no meu coração. Só de pensar que a pessoa que receber minhas roupas estará carregando parte da minha história, minhas boas ações e minhas qualidades me deixam realizado. Principalmente porque sei que uma das pessoas agraciadas, realmente precisa de algumas de minhas qualidades em sua vida.
Falando sério agora. E quando penso na catástrofe do vôo 3054, fico perplexo. A cidade que possui os dois maiores aeroportos do país, que circulam milhares de pessoas por dia, está fragilizada, deixando seus cidadãos aterrorizados, até mesmo aqueles que como eu, nunca tiveram medo de voar. Já viajei com famoso que deu ataque de pelanca no meio de turbulência. Enquanto eu sempre relaxei, ou pelo menos tentava. Agora, além dos atrasos e cancelamentos dos vôos, tenho ainda que administrar meu subconsciente. Já tenho viagem prevista ainda pra esse mês...
Mas ainda assim, diante de tudo isso, eu constato que além de orgulho, sinto grande satisfação em fazer parte do clã dos moradores paulistanos, que não se abatem mesmo diante dos últimos acontecimentos.
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Quem é o colunista: Ale di Lima
O que faz: Agente artístico e freqüentador assíduo do underground paulistano.
Pecado Gastronômico: Pavê preto e branco, devorado durante o day off.
Melhor lugar do Brasil: O pôr-do-sol na praia de Ipanema.
Para falar com o Ale: [email protected]
Atualizado em 6 Set 2011.