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Sempre defendo a saúde da mulher como um planejamento preventivo - acompanhamento médico, exames periódicos, observação dos sinais de alguma disfunção. Enfim, procedimentos corriqueiros para manter a saúde. Mas, agora vou contar a história da Maria, você conhece?
Maria tem 33 anos, é casada, teve poucos namorados, mas teve relações sexuais com todos. Bom, "poucos" é relativo... Melhor estavam nossas avós que tinham relações só com um e como eram virgem, não tinham HPV, DSTs (gonorréia, sífilis, clamídia), engravidavam entre 15 e 23 anos, ou seja, no máximo potencial de fertilidade, também menstruavam pouco porque tinham de 4 a 7 filhos e até amamentavam! Não tinham o leite infantil NAN. Coitadas! Fadadas a exercer a mais nobre e gratificante função da vida que é a maternidade.
Eu sou obstetra, cuido de mulheres-mãe e nada se compara à emoção do nascimento de uma criança. Imagine no coração de uma mãe, é indescritível! Devem existir várias teorias sobre este gene maternal, não importa, o fato é que em algum momento da vida ele pode se manifestar e aí você vai se lembrar que deveria ter cuidado melhor da fábrica de bebê.
A gravidez é um processo regido pelos hormônios, resultado do ato sexual de pessoas saudáveis. A Maria, aquela de alguns namorados, tem bons hormônios, boa saúde, relação aparentemente prazerosa e constante; e o moço em questão é bonzinho também, mas ela não consegue engravidar. Contam as más línguas que ela puxou uma tia, mas enquanto não se confirma esta história, ela fez um exame, a histerossalpingografia (radiografia contrastada das trompas) que mostra uma trompa entupida.
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Depois de quatro anos tentando engravidar com apenas uma trompa saudável, o médico indicou videolaparoscopia (microcirurgia para estudar a pelve) e ela já estava com 37 anos, quando descobriu que tem endometriose estadio IV e útero pouco aumentado e amolecido. O médico também falou em adenomiose, mas não foi novidade, ela já sabia que o útero era grande, vinha acompanhando o crescimento da patologia com vários ultrassons. Mas e daí? O útero iria crescer mesmo durante a gestação!
O problema é que o ultra-som não trata mioma, endometriose, adenomiose, cisto de ovário. A principal causa da obstrução tubárea (entupimento das trompas) é infecciosa e um processo bilateral, porque as bactérias não têm radar, elas atacam os dois lados. A endometriose é uma doença progressiva, é ruim hoje e pior amanhã, portanto tem que tratar agora e manter o controle da doença.
Agora, com 37 anos, a Maria quer me fazer uma pergunta: "endometriose tem tratamento?" Eu respondo. Tem tratamento, sim, e até prevenção. A amenorréia (ausência de menstruação) ou gravidez é o melhor tratamento, mas quem tem endometriose avançada não engravida, já ouviu falar da história do ovo e da galinha?
Ouvi dizer que a Maria está juntando um dinheiro para correr atrás da saúde perdida e que se tudo der certo, mesmo gastando 12 mil reais, ela vai tentar o bebê de proveta, agora, que está com 40 anos.
Quem é a colunista: Denise Coimbra é médica ginecologista e obstetra.
O que faz: é formada pela Santa Casa de São Paulo. Participa do grupo de Reprodução Humana da UNIFESP e tem uma clínica em São Paulo especializada em Saúde da Mulher e Fertilização.
Pecado gastronômico: petiscos com cerveja, em um bar com amigos.
Melhor lugar do Brasil: Guarujá, onde curto meus fins de semana com meu marido e minha filha.
Como falar com ela: Acesse o site ou [email protected]
Atualizado em 10 Abr 2012.