Casais se afastam dos amigos e aderem a filosofia do isolamento transcendental sobre proteção daquilo que julgam ser amor.
Por Redação Guia da Semana
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"Minha melhor amiga, se tornou uma estranha para mim, depois de alguns meses de namoro. Transformou-se em outra pessoa. Só procura as amigas quando briga com o namorado. O relacionamento dos dois é infantil e vivem em uma redoma escapando de tudo e de todos aqueles que acreditam destruir o sentimento de um pelo outro. O namorado dela freqüenta passeios femininos por ciúmes de suas amigas. Ele não se toca e ela admite", conta *Cibele.
Como diz a letra da música Tão Seu, da banda mineira Skank "A minha casa sem você é triste, a espera arde sem me aquecer". O exagero é uma característica extremista que carrega em si predomínios negativos. A reclusão no próprio relacionamento amoroso afasta o casal do convívio saudável, criando um impasse entre o amor e a fixação no outro.
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O isolamento social causado pelo namoro não figura doença. Ele está mais relacionado à formação das personalidades de cada um durante a infância e também no transcorrer do relacionamento. O psicanalista Leon Nussbaumer explica que a formação da personalidade da pessoa se faz por, aquilo que ele chama, de fixação de pontos de espera, constituídos a partir dos acontecimentos memorizados ou recalcados no inconsciente, podendo ser positivos, negativos ou neutros. Estes pontos podem ser distinguidos por machos e fêmeas. O adulto usa inconscientemente seus pontos de espera para se definir, para complementar sua personalidade juntando-se a pontos de espera de outra pessoa. É a eterna busca da perfeição do espelho no outro. Este processo de determinação da personalidade humana está ligada à genética e à força dos acontecimentos.
Todos os humanos são mutáveis, dotados de dons específicos e designados a uma passagem que se transforma a cada dia. Durante este período ocorrem novos aprendizados que implicam necessariamente em algum resultado evolutivo da essência do ser. Namoros embasados em perda da individualidade não permitem o desenvolvimento dos envolvidos, uma vez que estão enjaulados em um invólucro de estagnação criado por eles mesmos.
"Uma amigona minha deu uma afastada depois que começou a namorar. Geralmente gosto dos namorados das minhas amigas, mas o dela especificamente não dá! É patético como ficam com muita manha na frente de todos, fazendo voz de criança. Não gosto disto. Dá até enjôo", desabafa *Joyce.
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Acontecimentos negativos podem provocar traumas e neuroses recalcadas no inconsciente, podendo levar ao apego demasiado do outro por carência, imaturidade ou infantilismo. Quando esta necessidade evasiva toma forma de possessão são os pontos fêmeas (receptivos) de espera que tentam preencher seu vazio acoplando-se aos pontos machos (ativos) do outro. A dor do refletir instaura medo e insegurança e gera conflito de personalidade. Em alguns casos, uma das partes acaba assumindo o papel do outro, sofrendo assim, a perda total de sua personalidade.
"Dois amigos meus simplesmente se afastaram das confraternizações, porque tinham de passar o tempo todo com as namoradas. Eles são muito submissos, mas jogam a culpa nelas, dizendo que entendem o ciúme, já que se elas também não fizessem esforço para os verem sempre, eles também não iriam gostar e ficariam enciumados. Mas isso é balela, eles perdem a individualidade deles assim. Para mim o errado do relacionamento é se relacionar, mas se for inevitável, não deve haver sentimento de posse", desabafa *Pedro.
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Para a psicóloga, Rita Monteiro, o melhor que o casal apaixonado tem a fazer é tentar conciliar o namoro com passeios sociais entre eles e os amigos. A relação não pode ser embebida de um gole só, senão se afogarão na própria água por não saber viver direito um relacionamento a dois, que faz parte da ordem natural da vida, entretanto não se resume apenas nisto. Amor também é ceder sem julgar imprecisamente o ser amado. Vale explicitar que a frase ´amizade é para sempre, amor pode acabar´ não passa de um mito. Todo tipo de relacionamento pode acabar, até porque, a única certeza que temos é o agora. Pior que casal meloso é amigo intrometido ou incompreensível.
O alerta fica por conta do cuidado redobrado para o relacionamento não virar tortura. Estar ligados 24 horas por dia não leva a relação necessariamente ao desgaste, mas cria um estado de sofrimento direcionado a tratamento. Já dizia o filósofo Sócrates ´Conhece-te a ti mesmo´. Cabe ao casal conhecerem-se entre si e compreender-se consigo. Quanto mais se conhece a personalidade do parceiro mais fácil será a resolução das dificuldades que sempre surgem. O exercício da paciência, da auto-compreensão e do entendimento do ser e estar do outro é a verdadeira terapia do casal.
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"Se pela força do amor deste casal nasce o afastamento do mundo a sua volta e se há a percepção disto como uma falha ou um sofrimento, uma terapia poderia levar os parceiros a conhecer melhor a formação das suas personalidades e do seu relacionamento para restabelecer um equilíbrio entre a relação amorosa e o convívio social" diz Nussbaumer.
O desejo de refletir aquilo que se deseja no outro é utópico e sofredor, a medida que desvirtua o ser humano do aprendizado mais singelo da vida, que consiste no ato de amar, de maneira a somar e conseqüentemente multiplicar sem contradizer o preceito.