Guia da Semana

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Depois de alguns anos recebendo presentes e beijos no Dia dos Pais, começamos a pensar no que nossos filhos pensam de nós. Aí, reflito sobre o fato de que nossos filhos talvez sejam, das nossas pessoas mais queridas, as que menos nos conhecem, já que nos vemos e nos falamos pouco.


Tudo o que eles, em geral, sabem da gente, é que não temos medo de quase nada, sabemos um pouco sobre tudo, não somos tão tolerantes como a mãe e vivemos, na maior parte do tempo, sérios.


Sei de tudo isso, porque, como filho, também é assim que vejo o meu pai: nunca chora, nunca se queixa e nunca está em crise; por mais que o mundo lá fora o fustigue, que a vida o frustre, ou que os seus sonhos não se realizem.


Quem nos ensinou a ser assim? Por que assumimos essa máscara de "fortaleza permanente" e privamos nossos próprios filhos de nos conhecerem melhor?

Será que assim é melhor para eles? A resposta, a princípio, é difícil. Mas, como gostaria de ter conhecido o meu pai muito mais do que conheço e não vejo hoje muitas brechas para isso, penso que talvez não precise dessa forma. Até porque meus filhos podem se sentir obrigados a corresponder a expectativas que pensam que tenho sobre eles - e isso pode ser pesado.


Então, se, por um lado, o papel de "rocha sólida" lá em casa é meu e não quero transferi-lo para ninguém, por outro, quem sabe, eu poderia, aos poucos, ir me mostrando mais gente para os meus filhos. Assim, eles saberiam que são filhos de um ser humano.


Você quer trilhar esse caminho comigo? Então vamos lá. Que tal tirar imediatamente a roupa do trabalho quando chegamos em casa e, depois de um banho rápido, nos entrosarmos com a molecada naquilo que é importante nesse momento para eles?


Quem sabe elogiar o penteadinho da sua filha e as bugigangas que a mãe dela comprou para orná-la? Brincar com a sua boneca predileta, admirar os detalhes do seu quarto e assistir um pouco de TV com ela? E tentar jogar o vídeo game com o filhão, aprender a cumprimentá-lo daquele jeito esquisito que ele sabe, ou convidá-lo para ir à oficina buscar o carro?


Essas e tantas outras atitudes nos lembrarão que, primeiro, somos pais e, depois, profissionais. E, a eles, mostrarão o quanto também somos desajeitados com muitas coisas, que não sabemos dizer direito a cor das cortinas; mas sabemos rir e perder, e que - como eles - temos ainda muito que aprender.


Claro que cada coisa tem de vir ao seu tempo. Mas eles têm de saber que também tínhamos nossos ídolos, nossos brinquedos, nossas dificuldades na escola, nossos medos. Que já apanhamos na bunda, já levamos muitas justas broncas e que, mesmo assim, ainda reverenciamos o nosso pai - mesmo que velhinho, cheio das manias, intolerante com as músicas modernas e achando que tudo "no meu tempo" era melhor.


Não é fácil, eu sei, meu amigo. Mas dê aos seus filhos a chance de o conhecerem como os seus mais antigos amigos. Se não o fizer, chegará o dia em que eles vão achar definitivamente que você é só o pai herói mesmo - importante, mas igual a tantos outros que existem por aí.

Leia as colunas anteriores de Alessandro Vianna:

Adolescência

Aprovação na escola

O desafio do vestibular

Quem é o colunista: Alessandro Vianna.

O que faz: Psicólogo clínico.

Pecado gastronômico: O bom e velho bife à parmegiana.

Melhor lugar do mundo: Um lugar em que se unam praia, sol e uma boa companhia.

O que está ouvindo no carro, iPod, mp3: No carro encontram-se desde um bom sertanejo até um rock mais pesado.

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Atualizado em 6 Set 2011.