Guia da Semana

Foto: Sxc.hu


No próximo dia 10 de junho acontece a 11ª Parada GLBT, na Avenida Paulista (SP). No ano passado, o movimento levou às ruas de São Paulo cerca de 2,2 milhões de pessoas, reunindo gays, lésbicas, bissexuais, transgêneros e simpatizantes. A luta contra o preconceito cresce a cada dia e as portas se abrem para aqueles que querem revelar a sua verdadeira orientação sexual. Mas, e quando essa escolha chega depois?

Imagine um namoro heterossexual. Um homem e uma mulher apaixonados trocam carinhos e vivem bem. De repente, as atitudes de uma das partes indicam que algo está estranho na relação. Os companheiros passam a ser mais amigos do que namorados e o tudo acaba. Meses depois, a parte em questão se revela homossexual.

Foi exatamente o que aconteceu com a estudante F.C., 21 anos. Dois anos depois do namoro de cinco meses, ela descobriu que o ex-namorado gostava de homens também. "Ele tinha uns gostos estranhos, gostava de Madonna, Britney Spears, Christina Aguilera, assistia a musicais... Mas na época eu não me importava, achava que seria preconceito associar isso à homossexualidade! Sempre houve desconfiança por parte de colegas de colégio e amigos, mas quando soube que ele realmente era gay, fiquei meio chocada. A desconfiança passou a ser certeza.", lembra.

Foto: Henrique Parra


O psicólogo e sexólogo Paulo Bonança diz que não é tão simples saber quem é e quem não é. Às vezes, é possível identificar pelo tom de voz ou forma de movimentar o corpo, mas muitos não possuem os trejeitos. "Existem homens com o olhar afeminado e não são homossexuais. A melhor maneira de saber a orientação sexual do companheiro é perguntar. Se você tem intimidade o bastante com ele, não há porque ter vergonha", diz.

O especialista lembra que o ex-namorado não é, necessariamente, bissexual. Ele pode ter uma fantasia com pessoas de ambos os sexos, mas isso é diferente de desejo. Quando existe o desejo, aí sim existe a bissexualidade.

Há também o fato de ser e não atuar. Muitas pessoas podem ter a opção pela bissexualidade sem nunca terem atuado como tal. Assumir o desejo pode ser difícil por vários motivos, como pressão familiar, social e cultural. Muitas vezes a própria pessoa cria expectativas de vida que podem cair por terra caso o desejo sexual seja assumido. Por exemplo, um menino que foi criado para ser pai de família terá dificuldades em assumir que gosta de outros homens.

Para quem recebe a notícia, também não é tão simples assim. A ex-companheira pode achar que a culpa pela escolha do outro vem dela mesma, da família e inúmeros outros fatores. De qualquer forma, é importante lembrar que a opção não é apenas sexual, mas também afetiva.

"Todos nós somos um pouco bissexuais. Se não fôssemos, como poderíamos amar pessoas do mesmo sexo como o pai ou a mãe? Afetivamente podemos gostar de qualquer pessoa", completa Bonança.

Segundo a psicóloga Kelen Pizol, há dois motivos para se manter o relacionamento heterossexual. O homem ou mulher pode saber de sua homossexualidade e não assumí-la por fatores externos como família. Por outro lado, durante a confusão de desejos, a pessoa parte para a primeira opção que é o relacionamento hetero e somente depois descobre sua verdadeira opção.

Ela lembra que existem casos que vão além, quando o casal segue para o matrimônio. Principalmente entre os mais velhos, muitos homens não assumem sua orientação em função do fator cultural.

Kelen conta que a maioria dos homossexuais que atende em seu consultório têm uma idade média entre 17 e 23 anos e o medo da rejeição familiar é a principal causa da procura pela psicóloga.

"A sociedade não é o maior problema porque as pessoas costumam se encaixar em grupos sociais de acordo com seus gostos e preferências. O medo ainda é da família não aceitar, a não ser que se more em cidades muito pequenas onde não há espaço para as diversas tribos urbanas", afirma.

O psiquiatra e especialista em homossexualidade Alexandre Saadeh tira dúvidas
Quando
A orientação sexual costuma ser despertada já na infância e fica mais evidente na adolescência.

Como
Muitas vezes o homossexual tem relações com pessoas do sexo oposto, mas não se sente realizado. É bastante comum ele se tornar mais amigo do que namorado do companheiro. Geralmente o namoro se inicia justamente porque existe uma grande amizade entre os dois e o homossexual quer fugir do seu real desejo.

Será que ele é?
No namoro, é possível que a freqüência das transas seja menor e os olhares dele reparem mais outros homens que mulheres, mas muitas vezes não é possível saber se o parceiro é homossexual somente pela observação.

O outro lado
Existem muitos casos onde o companheiro heterossexual já havia percebido que a relação não era completa, mas foi necessária a revelação para tudo fazer sentido. É importante lembrar que existem duas partes, que é a sexual e a afetiva, e a parte que estava presente durante o namoro (afetiva) era verdadeira. O parceiro não tem a intenção de enganar o outro, portanto o assunto deve ser bem discutido para que o companheiro heterossexual não se sinta diminuído.



Saiba da onde vem a homossexualidade



Conheça depoimentos de pessoas que assumiram sua homossexualidade para o ex-namorado, família e amigos



Colaboraram:
? Paulo Bonança
? Kelen Pizol
? Alexandre Saadeh
? Cláudia Alves
? Renato Zamora
? Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo

Atualizado em 1 Dez 2011.