Guia da Semana

Toda mulher tem alguma parte do corpo que gostaria de mudar, seja uma gordurinha extra, um nariz longo ou um cabelo armado. De qualquer forma, existem algumas coisas que não podem ser mudadas com tanta facilidade, como uma paralisia ou a falta de um membro do corpo.

A vaidade pode ser um ponto comum entre elas, mas as semelhanças não param por aí. A sexualidade também está na lista. Deficiência não é sinônimo de impotência, é apenas uma forma de desenvolver novos métodos para sentir o prazer.

Foto: Arpa2004.fotoblog.uol.com.br
Ana Rita de Paula
A psicóloga e consultora de órgãos públicos e ONGs Ana Rita de Paula parou de andar aos oito anos por conta de uma síndrome neurológica progressiva. Hoje, ela não come nem escreve sozinha, mas isso não a impede de ter relações. "Meu namorado é negro e eu sou tetraplégica. Ambos enfrentamos preconceitos e isso nos uniu ainda mais. Estamos juntos há 26 anos e nenhum tipo de deficiência pode afetar o desempenho sexual da mulher, desde que ela se sinta desejada."

O psicólogo e especialista em sexualidade humana Fabiano Puhlmann Di Girolamo explica que apenas pessoas que possuem algum tipo de lesão na medula correm o risco de perder a sensibilidade. Mesmo assim, essas pessoas ainda possuem outros sistemas (simpático e parassimpático) que permitem algum tipo de sensação como o calor do corpo ou arrepios. Além disso, a mulher ainda é capaz de seduzir e ter filhos.

Uma das pacientes de Puhlmann, por exemplo, é uma mulher tetraplégica, ou seja, que não possui movimento nos quatro membros, mas trabalha, estuda, se apaixonou e vai dar a luz a gêmeos nos próximos meses.

Diferente do tetraplégico ou paraplégico, uma pessoa que sofre algum tipo de amputação, possui paralisia cerebral, osteogenese imperfecta (ossos quebradiços) ou outros problemas não perde a sensibilidade. Nesse caso, a questão maior que se enfrenta é o preconceito.

Quebrar esse obstáculo é a principal barreira que qualquer pessoa com alguma deficiência carrega. "Eles vêm aqui querendo ser ouvidos. Eu ouço, mas não tenho dó. Precisam ter força e se levantar, temos que trabalhar a auto-estima", completa o especialista.

Foto: Divulgação
Mara Gabrilli
A vereadora (SP) Mara Gabrilli, 39 anos, sofreu um acidente, em 1994, que a deixou paraplégica. Há sete anos fez um ensaio sensual para a revista Trip e namora há cinco. "Logo após o acidente, uma das coisas que questionei foi em relação à sexualidade, sobre o que ia sentir e a intensidade. Eu estava com medo, mas tudo seguiu bem", conta Mara, que teve a sensibilidade aumentada na parte interna do órgão genital e diminuída na parte externa.

O sexo feminino deve estar atento aos seus pontos erógenos, que variam de pessoa para pessoa. De acordo com o especialista em sexualidade da AACD, Marcelo Ares, aquelas que sofreram lesão medular perdem parcial ou totalmente a sensibilidade dos órgãos genitais, podendo atingir o chamado paraorgasmo, uma sensação de prazer que não chega a ter todas as propriedades de um orgasmo. Para isso, ela deve descobrir áreas do corpo que antes não eram tão exploradas, como os mamilos, por exemplo.

Já o homem possui uma sexualidade focada no órgão genital. Apesar da possibilidade de manter a ereção presente quando sofre de alguma paralisia, ele perde o controle da ejaculação. Quando a lesão é incompleta, é possível que ele consiga ejacular normalmente através da relação sexual ou estimulado por procedimentos mecânicos. Em homens que tiveram lesão completa, um número pequeno (de 1% a 5%) pode conseguir ejacular.

Outras deficiências

Foto: Sxc.hu


Ariel e Rita são casados, possuem uma vida sexual ativa e trabalham. São também protagonistas do filme "Colegas", de Marcelo Galvão, que ainda não começou a ser gravado. O que eles têm de diferente? Possuem Síndrome de Down.

"Eles são incríveis, apaixonados por cinema e muito bons na arte de interpretar, pois, como as crianças, acreditam nas fantasias que criam e por isso vivem de forma real a história dos seus personagens", conta Galvão.

Puhlmann explica que o namoro entre essas pessoas pode se desenvolver desde uma forma infantil de relação até casos mais "calientes". Muitas vezes eles são confundidos com "eternas crianças", quando na verdade só precisam de uma educação sexual que ajude na adaptação ao meio. Esse procedimento precisa também da compreensão dos pais, que devem ensinar aos filhos formas de se protegerem de abusos sexuais.

Se a deficiência intelectual (mental) não interfere na sexualidade, o que dizer de uma pessoa cega? O especialista lembra que essas pessoas desenvolvem uma grande percepção e possuem fantasias diferentes.

Segundo ele, existem muitas mulheres que se relacionam com homens cegos e adoram, pois a sensibilidade faz com que eles trabalhem mais as preliminares e possuam mais tato para lidar com a relação sexual.

LEIA MAIS: Você sabia que existem homens que sentem desejo sexual acentuado por mulheres que possuem deficiência?



Colaboraram:
? Fabiano Puhlmann Di Girolamo
? Marcelo Ares

Atualizado em 10 Abr 2012.