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Você não gosta mais de mim? O que houve? Perdeu a confiança? O que eu fiz para você me tratar assim? Dramalhão digno de novela mexicana à parte, as indagações citadas são algumas das muitas feitas por amigas possessivas que estendem o seu ciúme aos relacionamentos fraternais.
Contrariando muitas divagações, o ciúme não é prova de segurança, tampouco de amor e fraternidade, mas sim reflexo da insegurança pessoal transferida para as relações.
"Na minha adolescência fui rejeitada pelos meus colegas de sala. Até hoje tento suprir esta carência por não ter sido aceita. Quando conheci minha amiga a supervalorizei e estabeleci um laço de amizade muito forte. Se a vejo dando atenção para qualquer mulher me bate desespero só de imaginar que ela vai gostar mais da outra do que de mim", diz a esteticista *Patrícia, 24 anos.
A profunda insatisfação consigo, mesmo que inconsciente, a necessidade de controlar o outro e ser vista no papel de vítima, além da ausência de felicidade plena constituem o perfil de uma pessoa que sofre de ciúmes. Sua auto-defesa consiste em atribuir culpa ao outro, menos a ela mesma, ainda que seja digna de auto-punição. O lema quase mantra "Tenho ciúmes porque você provoca. Você dá motivos" é interiorizado diariamente ou à medida que se sente pressionada por uma situação.
No relacionamento entre amigas, em geral, as crises de possessividade ocorrem no período da adolescência, onde o processo de formação de personalidade ainda está se constituindo e a identidade tomando forma e conteúdo. Nesta etapa, o anseio por fazer parte de algum grupo e manter a popularidade em alta é algo natural. Em contrapartida, na fase adulta, tal comportamento é encarado com certa estranheza, já que figura um retrocesso à adolescência.
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A estilista *Kátia, 22, conta que certa vez, desenvolveu um trabalho para uma mulher dez anos mais velha. Tornaram-se amigas e saíam sempre juntas, mas logo percebeu o perfil centralizador e dominador da companheira. Como mantinha contato com outra cliente, saíam juntas também. Algumas vezes a amiga cimenta as acompanhava, mesmo não suportando a situação. Para afastá-la da cliente teceu intrigas, dizendo que ela possuía relacionamento íntimo com outras pessoas. O fato culminou quando, por ciúmes e despeita, a cliente cancelou o trabalho que havia feito com a estilista, exigindo todo o dinheiro de volta.
A mulher é um ser dotado de carência quase insaciável. Ela necessita de outro alguém para se sentir completa. Ter uma amiga a quem possa contar suas intimidades é uma característica feminina incorrigível. Como ela abre demais sua vida, se submete a questionamentos e julgamentos alheios.
"O homem já possui um perfil mais reservado. Ele pode ter um melhor amigo, mas dificilmente vai abrir sua vida intensamente ou dividir suas particularidades. Já se a mulher sente perder território, a relação pode passar por um estremecimento. A partir do instante que uma das partes expõe o objeto confidenciado à amiga para terceiros, evidenciando a perda de exclusividade, ocorre quebra do elo da amizade", explica a psicóloga Maura Albanesi.
Deve haver um cuidado em relação ao comportamento da amiga ciumenta. Se a relação se transformar em obsessão, de maneira perseguitória, é hora de estabelecer sinal vermelho por tempo indeterminado.
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"No meio da faculdade entrou uma garota nova na sala que conquistou a amizade de todos. Não tardou para que ela fizesse parte do meu grupo e conseqüentemente se tornasse amiga das minhas amigas e sua confidente. Fui jogada para escanteio. Acabei me rendendo e mantemos uma amizade legal, mas confesso já tê-la odiado", declara a designer *Priscila, 21.
A amizade sadia percorre por valores de confiança, sinceridade e credibilidade, mas mantendo distanciamento para não haver invasão de privacidade. Intimidade é um ingrediente que quando mal dosado estraga qualquer receita. Relacionamentos em que as partes tomam atitudes invasivas perante a realidade do outro, estatisticamente estão fadados ao fracasso.
Se tomarmos como parâmetro, homens mantêm amizades de infância com facilidade maior do que as mulheres, justamente por conseguirem ser mais racionais e menos emotivos. O laço de amizade é fortificado ao longo dos anos, sem jamais transpor a intimidade. Provavelmente este seja o toque especial mais assertivo para a preservação do relacionamento e manutenção de sua saúde.
Amiga de verdade incentiva o nosso melhor. Enaltecer os nossos erros de maneira enfadonha é colocar-se na posição de inimiga. "A melhor maneira de lidar com os ciúmes em um relacionamento de fim fraternal é mudando de amiga para evitar uma sucessão de fatos desagradáveis. É extremamente inconveniente conviver com alguém que se preocupa em subjulgar o outro, camuflando defeitos da própria personalidade. O amor é um exercício que primeiro deve acontecer de você para você mesmo. Quem não se ama e não tem liberdade, jamais vai amar e libertar o outro", finaliza Albanesi.
Colaboraram:
? Maura Albanesi
? *Katia
? *Patrícia
? *Priscila
Atualizado em 6 Set 2011.