Guia da Semana

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O sufixo ´ismo´ denota - com um toque de patologia - o exagero e a avidez com que as pessoas consomem roupas, acessórios, alimentos, cosméticos, bebidas, perfumes e qualquer outro item que o senso comum possa considerar supérfluo.

Antagonicamente, o consumo consciente levanta a bandeira de uma nova forma de as pessoas se relacionarem com os objetos e serviços que compram e consomem. Consumir com consciência não é simplesmente saber a quantidade de calorias em seu prato, muito menos saber o tipo de couro de seu sapato. Ter a consciência do impacto social e ambiental daquilo que se consome, ou seja, quem produz, quem financia, quais os recursos utilizados, as práticas adotadas e as conseqüências do resultado do consumo - isto sim deve ser valorizado pelo consumidor dito moderno.

A realidade é que consumimos para viver. Consumir é necessário, diariamente e constantemente. Desde o instante em que nos levantamos e precisamos vestir uma roupa, tomar um café, comer um pedaço de pão, nos locomovermos até nosso trabalho, utilizar os devidos instrumentos para realizar nossas tarefas do dia a dia, até os momentos em que presenteamos um bom amigo, saímos para jantar em um novo restaurante, compramos uma jóia para quem amamos ou tomamos um avião rumo a uma nova aventura. Consumir é viver o dia a dia, com seus prazeres e deveres.

O que pretendo dizer aqui é que consumir não é pecado, não é feio e não deve ser encarado como algo supérfluo. A chamada ´sociedade de consumo´ não pode ser simplesmente vista como a sociedade capitalista e materialista, mas sim como o grupo de indivíduos que é ativo economicamente, e espera-se também, social e ecologicamente consciente.

Apesar de dificilmente eu ser encontrado num shopping center num sábado à tarde, gastando alguns milhares de reais em relógios de pulso e jaquetas modernas, e jantando no restaurante mais caro do local, tampouco é fácil escutar comentários meus a respeito daqueles que julgam correto investir alguns milhões de dólares em uma cobertura luxuosa na Vieira Souto, ou que preferem viajar de primeira classe, comer caviar no café da manhã ou comprar somente roupas de grife. Acredito na lógica da lei da oferta e da demanda, que explica muitas atitudes de consumo.

Minha intenção com este texto é sugerir um momento de reflexão àqueles que constantemente criticam o jovem executivo que comprou um carro de luxo caríssimo, ou a madame que gastou toda a mesada do marido em um vidro de perfume francês. Será que estes críticos têm realmente consciência daquilo que consomem - dos impactos sociais, ambientais e econômicos de seus atos de consumo? Serão eles os mesmos que desconhecem as práticas comerciais adotadas pelos fabricantes daquilo que compram, e que ignoram o destino das embalagens e excedentes do que consomem? Serão estes os que vivem para si e desconhecem a ajuda ao próximo, ao desconhecido e necessitado?

Acho importante que não nos culpemos pela indulgência de uma compra dispendiosa, mas consciente e calculada. Culpemo-nos, isto sim, por atos de consumo por impulso e impensados, inconscientes. E finalmente, culpemo-nos pela inveja tão presente na vida dos que mal-dizem os hábitos de compra de terceiros.


Quem é o colunista: Apenas um rapaz latinoamericano

O que faz: Trabalha com publicidade online

Pecado gastronômico: Pão e chocolate

Melhor lugar de São Paulo: São muitos... o mar, o morro e o povo.

Fale com ele: [email protected]

Atualizado em 6 Set 2011.