Em 2006, aproximadamente oito milhões de casais sofriam com infertilidade no Brasil e 20% da população mundial não conseguiam ter filhos. O sonho de ter uma família completa apresenta problemas femininos em 30% dos casos, masculinos em outros 30%. As estatísticas revela ainda que 20% das causas envolvem o casal e 10% dos pares demonstram infertilidade sem causa aparente*.
Com a dona de casa Ângela Maria Rocha Garcia, 39 anos, o problema de infertilidade não acusou nada nos exames. Ela tentou tratamentos por remédios e acompanhamento médico e, depois de três anos de tentativas sem sucesso, resolveu adotar Lucas, hoje com sete anos. Dois anos e quatro meses após a adoção, já tendo finalizado os tratamentos, Ângela engravidou de Heloísa, hoje com cinco anos.
A terapeuta comportamental Karen Camargo explica que "a principal queixa dos casais que têm dificuldades para engravidar é a questão da incompetência e ansiedade. Eles se perguntam o que há de errado com eles (ou com cada um), sentem-se incompetentes por não conseguirem fazer algo que deveria ser natural (engravidar). A ansiedade também atrapalha muito. É comum os casais engravidarem quando desistem da idéia, pois assim a ansiedade (e conseqüente estresse) estão mais equilibrados".
A cada ciclo menstrual de uma mulher comum, cuja idade reprodutiva termina aos 48 anos em média, há 15% de chances de engravidar. Ainda assim, o fator genético pode influenciar a fertilidade de homens e mulheres. As principais causas da infertilidade na mulher são relacionadas a problemas no ovário, anatômicos (como alterações na trompa), aderências na cavidade uterina e dificuldades em captação de espermatozóides pelo colo do útero.
Numa ejaculação, o homem libera cerca de 20 milhões de espermatozóides por mililitro, sendo que, em uma relação, ele costuma lançar de dois a cinco mililitros. Quer dizer, a cada relação sexual, o homem envia para o útero da mulher de 40 a 100 milhões de espermatozóides. Mesmo assim, os homens também podem ser inférteis, sendo que a produção inadequada de esperma pode se dar por traumas, infecções, alterações genéticas e ausência de espermatozóides.
De acordo com o especialista em reprodução humana Luiz Eduardo Albuquerque, se um casal realizasse todas as formas possíveis de tratamento, teria apenas 5% de chances de não conseguir realizar uma gestação. Outro ponto importante é que, em qualquer tratamento que se aumente a quantidade de óvulos disponíveis aos espermatozóides, aumentam-se as chances de bebês gêmeos.
Causas da infertilidade
Um estudo realizado em Portugal, de acordo com dados do Projeto Beta, entre 2005 e 2006, mostrou que a maioria dos casais inférteis esconde o problema por medo da exclusão social e preconceito. Mas você sabia que os hábitos alimentares desses casais podem ser fatores que contribuem para a infertilidade?
A gordura trans presente em alguns alimentos está associada a doenças cardíacas e aos riscos de infertilidade, de acordo com uma pesquisa da Harvard School of Public Health (Boston, EUA). Os pesquisadores constataram o fato após observar que pacientes com dificuldades em engravidar (tendo como causa problemas de ovulação) consumiam maior quantidade da gordura do que as mulheres férteis.
O especialista em reprodução humana Nilo Frantz lembra que "o ganho ou a perda excessiva de peso também podem levar à sub-fertilidade ou à infertilidade". Cerca de 12% dos casos de infertilidade estão associados a um extremo baixo peso ou à obesidade.
Uma pesquisa do IBGE apontou que 40% dos brasileiros estão acima do peso. Mulheres obesas têm um menor número de ciclos ovulatórios, ou seja, ovulam menos quando comparadas a mulheres com peso adequado para a estatura. O tecido adiposo tem um papel importante no metabolismo dos hormônios e, conseqüentemente, influencia a capacidade reprodutiva.
Outro vilão da infertilidade é o cigarro. Estudos comprovam que o produto pode provocar danos aos óvulos e espermatozóides. Além disso, a exposição a determinadas substâncias químicas (agrotóxicos), às radiações e às altas temperaturas no ambiente de trabalho, bem como o uso contínuo de certos medicamentos, de drogas (como maconha e cocaína) e de bebidas alcoólicas também podem diminuir a fertilidade.
Tratamentos
Os tratamentos para infertilidade variam desde remédios à base de hormônios que incentivem a ovulação no corpo da mulher até cirurgias para casos de trompa obstruída, por exemplo. A endometriose, doença benigna que acomete cerca de 20% das mulheres em idade reprodutiva, é a causa mais freqüente de cirurgias.
A psicóloga Karen Camargo lembra que os tratamentos hormonais podem gerar conseqüências semelhantes à TPM (Tensão Pré-Menstrual) para o corpo da mulher. Essa transformação pode causar mudanças no humor, maior irritabilidade, sensibilidade e mau humor. Os potentes fármacos estimulantes da ovulação podem, em algumas pacientes, levar a um quadro de inchaço, desconforto abdominal e, em uma pequena parcela, à necessidade de internação.
"Hoje o valor do tratamento caiu cerca de 50% em relação há uma década, tornando-se acessível a uma parcela maior da população. Dessa forma, o número de crianças geradas com o auxílio das técnicas de Reprodução Humana aumentou em cinco a seis vezes em pouco mais de dez anos.", afirma Nilo Frantz.
Um tratamento simples, que faz a programação de relações sexuais e pode ou não vir acompanhada do uso de medicamentos, varia entre R$ 500,00 e R$ 1.000,00. Já a cirurgia, tem um custo médio de R$ 5.500,00, fora o valor dos remédios.
O ginecologista Luiz Eduardo explica também que há dois tipos de inseminação artificial. "Na intra-uterina, o sêmen é preparado fora do corpo da mulher, mas a fertilização é realizada naturalmente, após a colocação do sêmen na cavidade uterina", completa.
A segunda forma é a fertilização in-vitro. Nela, é gerado o famoso "bebê de proveta", quando há a coleta de óvulos e sêmen e a fertilização é realizada em laboratório, fora do corpo da mulher, para depois ser colocada no útero, onde haverá a gestação normal.
As duas formas são acompanhadas de remédios com hormônios que auxiliam o tratamento. A fertilização intra-uterina custa, acrescentando o valor dos remédios, cerca de R$ 1.800,00 e a in-vitro, R$ 4.000,00. Na primeira, há 20% de chances de acontecer uma gestação (sendo que as chances normais de uma mulher fértil são de 15%), já na segunda, o número aumenta para 40%.
O SUS (Sistema Único de Saúde) oferece atendimento gratuito para casais inférteis, apesar de os medicamentos não serem custeados pelo Sistema. Isso significa que, em uma fertilização in vitro, por exemplo, são necessários aproximadamente R$ 4.000,00 com medicações.
Entenda a endometriose |
O que é? A endometriose consiste em uma concentração das células responsáveis pela menstruação (endomentriais) fora do local usual. O especialista em reprodução humana Nilo Frantz diz que essas células deveriam apenas revestir o útero internamente, mas são frequentemente encontradas nos ovários, trompas, bexiga e intestinos. Sintomas A manifestação mais comum inclui dor na pelve (baixo ventre), mas muitas mulheres não apresentam sintoma algum (forma silenciosa da doença), descobrindo a doença apenas quando tentam engravidar. Pesquisadores relatam endometriose em 40% a 50% das mulheres com dificuldade em engravidar. Tratamento A gestação natural pode ocorrer quando o grau da doença é leve, mas os quadros mais severos, com a obstrução das trompas, por exemplo, são necessariamente tratados por técnicas de reprodução assistida. Os custos variam de acordo com a técnica indicada e o protocolo de medicamentos. |
* Dados fornecidos pelos entrevistados
Colaboraram:
? Karen Camargo - (11) 3758-5642
? Luiz Eduardo Albuquerque
? Nilo Frantz
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Atualizado em 10 Abr 2012.