Guia da Semana

A lei
De acordo com o Código Penal Brasileiro, suicídio não é crime. Todavia, induzir alguém ao suicídio é crime e a pena é de reclusão, de dois a seis anos, se o ato for consumado; ou reclusão, de um a três anos, se a tentativa resulta em lesão corporal de natureza grave. Nesse caso, a eutanásia pode ser vista como indução ao suicídio, uma vez que a pessoa, não podendo levar adiante o ato, vale-se de alguém para fazê-lo.

Fernando de Oliveira Geribello - FG Advocacia e Consultoria



Há sete anos a advogada *Beatriz, 30 anos, foi deixada pelo noivo no altar. Por esse motivo, ela tentou tirar a própria vida três vezes. Na primeira, quebrou um copo na mão e cortou os pulsos, marcas que carrega até hoje, mas a mãe e o irmão socorreram-na. Na segunda, enfiou o carro embaixo do caminhão, mas o ex-noivo a salvou. Na última, novamente bateu o veículo na traseira de um caminhão e o ex interviu.

"Precisei fazer terapia e passar pelo psicólogo. Depois desse baque, não tive mais minha vida normal, não tenho vontade de viver. Se eu pudesse fazer algo, tentaria me suicidar de novo. Peço todos os dias para Deus me levar", relata.

Foto: Sxc.hu


Por sorte, Beatriz não faz parte das estatísticas. Uma pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde aponta que, em 2004, a taxa de mortalidade por suicídio no Brasil era de 4,5 para cada 100 mil habitantes, um índice comparável ao de países considerados preocupantes. Dados da Organização Mundial da Saúde - OMS, divulgados em 1996, revelam que as taxas de suicídio internacionais são de 25 mortes a cada 100 mil habitantes nos países do Leste Europeu e Japão e cerca de dez por 100 mil na Espanha, Itália, Irlanda, Egito e Holanda.

O estudo do Ministério abrangeu o período de 1994 a 2004 e constatou que o Rio Grande do Sul tinha, no último ano, a maior taxa de mortes masculinas do Brasil, sendo 16,6 por 100 mil homens. A capital com maior incidência foi Macapá (AP), com 13,6 suicídios a cada 100 mil homens. Em relação ao sexo feminino, Mato Grosso do Sul trazia os maiores números: 4,2 mortes a cada 100 mil mulheres. Na capital de Teresina (PI), a taxa era idêntica. Mesmo o número de homens suicidas sendo mais elevado, o crescimento maior se deu entre elas, sendo 24,7% para as mulheres contra 16,4% para eles.

Perfil do suicida
Idade: 20 a 29 anos (1946 óbitos em 2004)
Região: Rio Grande do Sul (homens) e Mato Grosso do Sul (mulheres)
Cor: branca (4515 óbitos em 2004)


Mas o que leva tanta gente a se suicidar? A psicóloga Rita Jardim explica que a depressão, quadro psicótico por doença alucinatória-delirante, uso de drogas ilícitas, álcool e personalidade manipuladora ou histriônica são possíveis causas. De qualquer forma, a maior incidência está entre os 20 e 49 anos de idade. Entre 50 e 59, a taxa era de 992 óbitos em 2004, sendo que, entre 15 e 19, o número era de 640. Os homens ainda são os que mais cometem o ato, mas as mulheres são as que tentam mais.

Foto: Sxc.hu
Para a psicanalista Adriana Bastos, as paixões contribuem para o suicídio, não apenas por namorados e noivos, como também família, trabalho, amigos e outros. Quando alguém se depara com uma perda e não tem estrutura para agüentar, acaba partindo para a última opção. "A tentativa de suicídio deve ser entendida como uma tentativa desesperada de pedir ajuda."

O membro do Conselho Estadual de Saúde do Estado de São Paulo Marcimedes Martins da Silva conta que as causas também variam conforme a cultura e o país. No Japão, preservar a honra pessoal traz um grande número de casos. Já no Oriente Médio, a vontade de ser honrado na vida pós-morte leva ao suicídio altruísta, ou seja, morrer pela causa coletiva. No Brasil, os fatores acabam sendo afetivos e econômicos.

Rita explica que a idéia de que "quem faz, não avisa" não é verdadeira, já que cerca de 70% dos indivíduos que cometeram suicídio procuraram atendimento nos últimos seis meses antes do ato.

"Algumas pessoas não conseguem expressar o motivo, alegando uma angústia existencial e falta de motivação para ´ir em frente´. Outras relacionam ao término de um relacionamento. Idéias delirantes e alucinações podem estar presentes, induzindo ao ato suicida (´você não serve para nada´, ´se joga da janela´, ´o mundo é podre, nada vai melhorar´). Após a tentativa fracassada, muitos dizem que se sentem arrependidos e alguns afirmam que tentarão novamente, caso suas ´reinvidicações´ não sejam atendidas. Outros evitam falar sobre o ocorrido, demonstrando indiferença para o fato; esses últimos merecem uma vigilância maior", diz.

Não existe um perfil psicológico único do suicida. Entre os pacientes jovens, seja do sexo feminino ou masculino, as tentativas costumam estar relacionadas a questões amorosas, sendo uma forma de manipulação e controle do outro. Nos idosos, a depressão se torna um fator de risco, além de questões existenciais como isolamento familiar e social, sentimento de decadência imposto pela sociedade e fragilidade física.

Foto: Sxc.hu


Raramente ocorre o suicídio antes dos 10 anos de idade. Em alguns países, o ato predomina nas faixas de 40, 50 ou 60 anos. De acordo com Martins, o "Mapa da Violência 2006 - os jovens do Brasil" informou que, a partir dos 10 anos, há uma forte escalada ascendente de suicídios, chegando a uma máxima expressão aos 21 anos. "Ações desesperadas de crianças e jovens preocupam, pois contaminam o grupo social e podem desencadear muitos atos semelhantes", ressalta.

No Brasil, contam-se três mulheres para cada dez homens que se suicidam, já no Japão, o número de homens é o dobro em relação às mortes no sexo feminino. Muitas pessoas tentam cometer o ato mais de uma vez. Em determinadas circunstâncias, o método utilizado não promove êxito ou o paciente é socorrido a tempo. Algumas vezes, porém, a própria pessoa utiliza um procedimento que possa ser visto ou chega a comunicar a intenção para terceiros, com o intuito de ser socorrida.

A tentativa de suicídio pode significar que a pessoa está buscando coragem para chegar ao ato fatal. O sentimento de baixo-estima, insegurança, um luto mal elaborado ou uma frustração levam a sentir-se inútil diante do mundo. Com a mente confusa, ela parte para o ato suicida.

Foto: Sxc.hu
Após a tentativa, a avaliação inicial deve ser feita pelo psiquiatra e pelo médico clínico, uma vez que se trata de emergência. Após receber alta, o paciente terá o diagnóstico realizado pelo especialista e será prescrito o tratamento adequado, sempre com acompanhamento psicológico.

A psicóloga Silvana Peres ressalta que a tentativa é ainda mais cruel para a família, que tem que conviver com alguém que não quer estar entre eles. Sentindo culpa, os familiares passam a realizar todas as vontades da pessoa para que o ato não se repita. O importante é saber que agir dessa forma não resolve, é preciso que eles entendam efetivamente o que se passa com a pessoa.

Primeiros Socorros
Foto: Sxc.hu
? Pessoa que toma uma dosagem alta de remédios:
Provocar o vômito e levar para o pronto-socorro para fazer lavagem gástrica.

? Pessoa que tenta cortar os pulsos:
Fazer garrote no local e levar para o pronto-socorro imediatamente.

? Pessoa que toma veneno de rato:
É muito perigoso, porque o veneno de rato é anticoagulante e, se não for feita a lavagem gástrica imediatamente e a pessoa não tomar os remédios necessários, pode levar ao óbito.

? Pessoa que tenta se enforcar:
Tirar o que tiver provocando o enforcamento e, se a pessoa tiver lúcida, fazer respiração boca a boca. Caso não esteja, levar para o pronto-socorro imediatamente.

? Pessoa que se dá um tiro:
Se for na boca ou na cabeça, não há o que fazer, mas se for em um local que der, fazer o garrote imediatamente para estancar o sangue e levar para o pronto-socorro.

Dicas: cardiologista Mauro Tenenbaum - Downtown



O suicídio se encaixa em muitas definições, sendo tanto um alívio para qualquer problema, uma fuga ou até uma forma de chamar a atenção de alguém. "Eu sou médica do Hospital Municipal Lourenço Jorge, um hospital emergencial. Não há um dia que não tenha uma pessoa nessa situação dramática. Em conjunto com a psicologia clínica, tentamos entender a motivação e se há alguma doença que esteja determinando essa ruptura com a vida", lembra Rita.

Foto: Sxc.hu


Martins possui uma tese de mestrado relacionada aos bilhetes que suicidas deixam antes de partir e fotos tiradas pela perícia. Esses recados são dos tipos mais variados, desde advertências, confortos, despedidas, testamentos, epitáfios, acusações e outros.

Eles podem tanto ser direcionados para pessoas específicas ou ter como destinatária a sociedade em geral. Alguns chegam a buscar a aprovação pelo ato cometido, demonstrando preocupação social com a imagem do morto. Outros, ainda, procuram pessoas para quem tentam transferir o sentimento de culpa, denunciando-as de terem auxiliado ou provocado o suicídio. Por último, há quem queira consolar as pessoas que ficaram, como amigos e familiares.

Fotos tiradas por peritos criminais nos locais onde os corpos foram encontrados fazem parte do procedimento para instruir os processos. Não são raros longos processos, alguns tendo que ser encerrados mesmo sem convicção de que sejam suicídios. Há casos de famílias importantes que até procuram dissimular o suicídio por laudos médicos.

Atenção!!! O psicanalista Mário Rossetti alerta que não há como identificar aquele que quer se matar ou não. O que se sabe é que o suicídio é um alívio para algum mal-estar impossível de saciar. Além disso, nunca subestime alguém que diz que vai se matar, pois a pessoa pode estar falando muito sério, mesmo que pareça improvável. Caso isso ocorra, leve imediatamente para o tratamento adequado, que tem início com medicamentos (para depressão, ansiedade, alucinações...) e segue com o acompanhamento psicológico.

Bilhetes de suicidas: veja alguns recados deixados por suicidas resgatados por Marcimedes Martins da Silva em sua tese de mestrado: Suicídio - Trama da Comunicação



Um outro olhar: saiba o que diz a doutrina espírita sobre o assunto



Ajuda: saiba onde encontrar ajuda para os possíveis suicidas e para as famílias daqueles que se foram





*Nome alterado a pedido da entrevistada.

Colaboraram:
? Marcimedes Martins da Silva
? Mário Rossetti
? André Siqueira
? Centro de Valorização da Vida - CVV
? Fernando de Oliveira Geribello
FG Advocacia e Consultoria - Rua Riachuelo 44, CJ 55 v- SP
Fone: (11) 5055-4372
? Rita Jardim
Parceria com Pink Chic: Downtown - Av. das Américas, 500, Bl. 04, Lj. - RJ
Fone: (21) 2496-3668
? Adriana de Assunção Bastos
Downtown - Av. das Américas, 500, Bl. 20, Sl. 205 - RJ
Fone: (21) 2491-9880
? Silvana Peres
Clínica Água Viva em parceria com Clínica Pazos - Centro Empresarial Barra Shopping - Av. das Américas, 4200, bl 4, Sala 106, Ed. Buenos Aires - RJ
Fone: (21) 3150-2819/2818
? Mauro Tenenbaum
Downtown - Av. das Américas, 500, Bl. 04, Sl. 320 - RJ
Fone: (21) 3171-3171

Atualizado em 6 Set 2011.