Guia da Semana

Uma das (muitas) fotos da série: "Poses que temos que fazer para o álbum"

Rituais de casamento deveriam estar elencados como um dos fatores causadores de transtorno bipolar: vão te levar da maior felicidade deste mundo ao desespero mais completo.

Não há como organizar um e sair impune: fatalmente alguém vai reclamar; do garçom a quantidade de canapés - ou coxinhas, se você for uma alma mais simples -, da música da igreja a dama de honra - que sempre sai desembestada na frente da noiva ou pára no momento crucial, a menos de meio metro do altar.

A quantidade de detalhes que a noiva deve decidir a poucos dias do gesto tresloucado é de enlouquecer até a Danuza Leão. E lá vai ela, entre a prova do vestido e da maquiagem decidir se os arranjos são de margaridas, orquídeas ou gérberas, se vão ou não servir bem-casados, se a banda que toca no casamento deve ou não tocar uma valsa quando os noivos chegarem.

Teve uma que, desesperada, deixou para a sogra a escolha da música da saída da igreja. Teve que agüentar a cara de espanto dos convidados que falavam inglês ao ouvir tocar a música Sexed Up, de Robie Willians, cujo refrão, traduzido, diz algo como "Porque a gente não se separa logo?". A sogra? Bem, a sogra disse depois na festa, entre um gole de champagne e outro, que a música tinha tocado na novela e parecia tão bonita...

Vencida a hora do sim, há que se suportar a festa, feita quase que exclusivamente para embebedar os convidados e estressar a noiva - que a essa altura, não quer pensar em nada mais que um bom banho quente. Sim, porque depois de chegar das invariáveis fotos pós-casamento (meninas, fotos na praça, na praia e no meio da Paulista, não!!!!) os noivos ainda tem que passar de mesa em mesa cumprimentando todo mundo: da própria mãe ao primo do meio-irmão do afilhado da sogra (entendeu? nem ela).

Pensa que acabou? Não: antes de a noiva conseguir comer um mísero canapé (ela, que não comeu nada de dia para ficar "bem" no vestido) ainda tem que tirar fotos com todos os 12 casais de padrinhos, segurando a pá do bolo com o outro coitado faminto que ela já pode chamar de marido e claro, não deixar de posar, para o deleite dos avós, com os braços cruzados segurando taças de champagne.

Eu não. Deixo as festas grandes para os aniversários, destes onde as pessoas não vão por obrigação, não te dão de presente um candelabro de prata e um conjunto de travessas de inox, bebem, dançam e realmente se divertem.

E já aviso antes: casando um dia desses, pulo essa etapa toda, rapto o noivo para uma viagem de no mínimo quinze dias longe de qualquer pessoa vagamente conhecida e na volta, chamo uma dúzia de pessoas realmente íntimas para comer um peixe, tomar um vinho e comemorar um momento tão especial - que não precisa de fitas de veludo, damas de honra e dúzias de margaridas para me fazer incrivelmente feliz.

Quem é a colunista: Flávia Faccini.
O que faz: jornalista, escreve sobre teatro para o Guia da Semana. É muito observadora. Cuidado, ela pode escrever sobre você.
Pecado gastronômico: Torta de reis e a carne seca do Filial.
Melhor lugar do Brasil: Praia de Maracaípe, em Pernambuco.
Fale com ela: [email protected] ou visite o blog da autora.

Atualizado em 6 Set 2011.