Guia da Semana

Foto: Gabriel Oliveira
Arte milenar estampada na pele. No estúdio Leds Tattoo, em São Paulo.

"A arte não reproduz o que vemos. Ela nos faz ver". A frase do escritor francês Paul Klee traduz a liberdade que todo indivíduo possui de analisar toda e qualquer manifestação de arte. E também de fazê-la. Uma dessas muitas manifestações são expostas com as tatuagens. Os desenhos permanentes existem há milhares de anos, fazendo parte da cultura de tribos indígenas, como a Maori, existente em países como Nova Zelândia e Polinésia, onde marcar a pele representa o grau de sabedoria de cada índio. Além disso, a tatuagem representa um momento que a pessoa deseja registrar.

Antes vista somente como "coisa de homem", nos últimos anos, o número de mulheres procurando por tatuagens aumentou. De acordo com o Sindicato dos Estúdios de Tatuagem e Body Piercing (SETAP-BR), desde 2000, a cada ano há um aumento de cerca de 60% do público feminino na procura por estúdios de tatuagens.

Foto: Arquivo Pessoal
Uma das produções de Ana Idza.

O SETAP registra todos os estúdios do país, por meio de uma credencial, renovada a cada seis meses. Para associar um estúdio ao sindicato, o profissional precisa fazer cursos de Biossegurança e Esterilização, Fisiologia da pele e primeiros socorros. Para o estúdio, é necessário ter um alvará sanitário, esterilização por autoclave e pagar uma taxa de adesão, no valor de 50 reais. Além da legalização, o sindicato também contribui para a divulgação dos trabalhos, eventos relacionados e cursos técnicos para os tatuadores. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) também registra todos os estabelecimentos e inspeciona o local e todo o material usado pelo tatuador.

A escolha do profissional é uma incógnita que muitos têm, quando resolvem fazer uma tatuagem. Sérgio Maciel, conhecido como Leds, há 25 anos tatua em São Paulo e recomenda que é necessário procurar conhecer a história do profissional, ver imagens de seus trabalhos, verificar os materiais, se as agulhas usadas são mesmo descartáveis e se o estúdio é limpo. "São vários pontos a serem pesquisados, ao procurar um profissional. O tatuador precisa ser dedicado, ter um bom trabalho. O cliente tem que se certificar bem e ter referências de outras pessoas que já se tatuaram com o profissional", completa. O tatuador cobra de acordo com o desenho escolhido ou com o tempo gasto na produção. "Para uma tatuagem pequena ou média, o valor varia entre 200 e 400 reais. Já um fechamento de braço, eu cobro em média 2 mil reais. Isso também acaba caindo no tamanho do braço, no número de sessões e se o desenho tem ou não muitos detalhes", explica Leds.

Cuidados e Curiosidades
No pós-tatuagem, o profissional coloca uma bandagem protetora e recomenda passar um creme ou pomada antiinflamatória, próprio para tattoos (feitos a base de bepantol). Depois de uma hora, o tatuado pode retirar o curativo e passar algumas camadas desse creme. Esse procedimento é feito até que forme a casca e ela caia. Sempre lave a tatuagem com água limpa e com sabonetes sem fragrâncias.

Evite:
- retirar a casca, pois prejudica no processo de cicatrização (quando a casca começar a cair, pode trocar o creme por uma loção branca, sem fragrância);
- luz direta do sol na tatuagem, durante duas semanas;
- piscina e praia;
- coçar ou ficar tocando a tatuagem.

Não se recomenda tatuar dentro da boca, pois a tinta não se fixa à pele e o desenho vai se deformando com o tempo. Partes exóticas, como pênis e vagina, no Brasil, é proibido pela Vigilância Sanitária que se tatue. Já na Europa, essa prática é legalizada.


A designer editorial, Solange Rennó, de 25 anos, possui três tattoos. Duas em cada tornozelo direito e uma grande nas costas. "A primeira tatuagem que fiz, eu tinha 23 anos. Foi um girassol pequeno no ombro esquerdo, que depois foi a base para fazer a grande que tenho nas costas", conta. Depois que visitou uma convenção de tatuagens, Solange percebeu que os desenhos grandes ficam pesados de acordo com as cores usadas. "Foi então que decidi por uma composição de girassóis e a fada em azul, pra contrastar com o amarelo das flores. As joaninhas vieram depois, também com a intenção de contraste entre as cores, pois estava faltando tons de vermelho", revela.

Já a Ex-BBB e produtora de moda Bianca Jahara possui 15 tatuagens e fez sua primeira tribal na barriga com 13 anos. "Sempre gostei de tatuagens, desde muito nova. Vejo a tatuagem como forma de arte estampada na pele. Como uma roupa criada por um estilista ou uma jóia, que está 24 horas em mim. Acho sensual ter muitas tattoos", disse. Outros desenhos que Bianca tem são um raio atrás do braço esquerdo, dois laços de presentes, um em cada parte de trás das coxas, além do antebraço esquerdo inteiro fechado.

Ambas escolheram os profissionais por meio de indicações de amigos. "A composição de girassóis, eu fiz com o tatuador do meu primo e de todos os amigos dele, depois de ter pesquisado todo o trabalho do profissional", comenta Solange. Bianca fez com diversos tatuadores. "Hoje eu tomo muito cuidado, estudo muito bem os trabalhos do profissional e também o desenho. Antes eu escolhia o primeiro tatuador e escolhia o desenho na hora, coisa de criança", brinca.

Foto: Arquivo Pessoal
Cobertura de tatuagens mal feitas, especialidade de Ana Idza.

Arrependeu?

Uma moda que surgiu nos últimos anos, foi tatuar as letras iniciais do nome ou a foto "da pessoa especial". Mas, no futuro, isso pode causar certo arrependimento e o desejo de retirar a tatuagem. O dermatologista César Clemente Cuono explica que a retirada não é 100% efetiva. "Pode ser realizada uma dermo abrasão, que é um lixamento cirúrgico da região tatuada. Estas soluções normalmente deixam cicatrizes. A mais indicada, e que pode ter melhores resultados, é a remoção a laser. Porém, é importante que o cliente saiba que não é em todos os casos que a remoção é perfeita. O valor mínimo para cada sessão de retirada é de 300 reais", explica. O tom das cores influencia quando o cliente opta por cirurgia a laser. As cores escuras, normalmente pretas e azuis, possuem uma facilidade maior de remoção. Já as tatuagens com cores claras são mais difíceis de serem tiradas, por causa da absorção do laser ser mais fácil com cores escuras.

Caso o cliente não deseje esse procedimento, pode optar por fazer outra tatuagem. Ana Idza é especialista em coberturas e normalmente isso acontece, porque a tattoo antiga foi mal feita. "Com o aumento do número de pessoas tatuando sem preparo e vocação, as pessoas buscam um profissional às vezes sem preparo nenhum, além da pesquisa de preços mais baixos, mas o barato pode sair muito caro. Eu consigo fazer com que a tatuagem fique um trabalho limpo, sem nenhuma marca do desenho anterior", ressalta a tatuadora.

A escolha do desenho depende do momento de cada pessoa, mas nunca esquecer que essa arte pode ficar estampada na pele para o resto da vida. "Eu gosto sempre de fazer esta observação para quem esta começando a se tatuar: não faça por fazer, somente para ser um tatuado. Nunca faça tatuagens da moda, que passam, como desenhos animados ou personagens que você gosta no momento. Essas coisas passam e caem no ridículo. Se popularizam e depois fica como uma tatuagem sem criatividade. Imagina o que deseja e peça para o tatuador criar pra você sua própria arte", finaliza Bianca Jahara.

As mulheres são a maioria
Em 17 de junho, às 20h, estréia no People+Arts o Los Angeles INK, com Kat Von D. Com mais de dez anos de profissão e especialista em retratos em cinza e preto, Kat montou seu próprio estúdio, o High Voltage Tatoos.
Na sua equipe, as mulheres são maioria, com Hannah Aitchison e Kim Saigh. O único homem é o experiente Corey Miller.
A série mostra um pouco de como é a rotina de uma das cidades mais movimentadas dos Estados Unidos e as histórias das pessoas que procuram pela arte de Kat Von D.


Colaboraram:

? Dr. Cesar Clemente Cuono - Médico Dermatologista

? Ana Idza

? Estúdio Cia. Da Tattoo

? Leds Tattoo

Atualizado em 10 Abr 2012.