Guia da Semana

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Vale ou não a pena investir tempo e dinheiro em sessões de terapia que mais lembram um bate-papo com um desconhecido? Eis um questionamento filosófico que move muitas pessoas até ao divã.

Antes de tudo, se desvencilhe dos mitos, porque terapia não é coisa para maluco e render-se à proposta exige mente aberta a novas experiências e adesão ao lema dedicação, comprometimento e responsabilidade.

Se ainda que diante de uma situação difícil você é capaz de resolvê-la sozinha sem maiores dificuldades, potencialmente pode dispensar o discurso do terapeuta. Caso contrário, enfrentar este profissional se torna quase que indispensável para manter o equilíbrio emocional e escapar do desarranjo mental.

"Sofria com minha timidez demasiada. Todos reclamavam e isso me atrapalhava. Quando ia até a casa de alguém, mal conseguia manter um diálogo ou fazer ações simples e mecânicas como comer ou ir ao banheiro. Cheguei a ponto de temer perder meu namorado devido a minha personalidade introvertida. Resistia às sessões de terapia por preconceito", conta a estilista Janete Frommer, 38.

Ao se falar em terapia, as pessoas imaginam uma sala com divã, onde o paciente se senta e o terapeuta escuta-o falar desenfreadamente sobre sua vida e ao final esboça um simples ´aham, compreendo´. Nem todas as sessões terapêuticas são assim. Esta clássica situação consiste na psicanálise, onde o especialista pouco interfere no relato do paciente. Já nas psicoterapias, há uma troca, onde o psicólogo interage, construindo a terapia juntamente com o paciente.

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Quando você percebe não dar conta de uma situação e sozinho sequer consegue lidar com isto é hora de assinar a lista vip dos adeptos da terapia e preparar o bolso, afinal esta viagem ao centro da essência humana exige disponibilidade financeira em torno de R$ 80,00 a R$ 300,00 por sessão.

Há seis anos, a jornalista Cinthia Figueiredo, 26, revela fazer terapia e afirma não viver inteiramente longe das sessões que a conduzem a compreender os seus anseios internos e visualizar aquilo que pretende para o futuro. "Foi uma grande decepção amorosa que me fez conhecer os caminhos da terapia. Sempre acreditei nesse lance de desabafar e se aconselhar para determinar o que fazer da vida e comigo funciona".

A terapia é um tratamento da alma, onde o alcance do auto-conhecimento torna a pessoa capaz de retomar o contato com sua própria essência. A finalidade é tratar as doenças emocionais, a partir do instante em que o indivíduo está desfocado de seu ser e direcionado apenas ao meio.

Segundo a psicoterapeuta Maura Albanesi, a terapia é um facilitador para o encontro consigo mesmo, à medida que a pessoa toma a vida nas próprias mãos e se torna dona do próprio destino, porém não funciona com todo mundo. "A vida é terapêutica e só flui à base da fé, entrega e confiança. O que viabiliza a terapia é acreditar no profissional que conduz o processo e na funcionalidade do método".

Geralmente, um tratamento terapêutico envolve avaliação psicológica, coleta de dados, estudo das causas que desencadearam o sintoma e tratamento. Cada terapeuta usa das técnicas que dispõe, podendo ser terapia artística, processo regressivo ou autobiografia.

O publicitário André Mancini, 30, nunca teve uma namorada, aliás, jamais viveu um relacionamento verdadeiro. "Nunca fui correspondido quanto às minhas paixões, mas tenho muita vontade de ser amado. Sinto vergonha do fracasso das minhas relações descompassadas e que nunca atendem minhas expectativas. Passei acreditar que o problema era eu e mergulhei na terapia. Só obtive melhora quando aceitei que ela poderia me ajudar".

"A pessoa tem que estar preparada e pré-disposta a aceitar e fazê-la, pois, caso contrário, os sintomas tornam-se ainda mais resistentes. Vale lembrar que os problemas discutidos na terapia não são resolvidos da noite para o dia", lembra o psicólogo Alexandre Bez.

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A evolução acontece a partir da quarta sessão, quando a pessoa vai reencontrando sua própria força. Os problemas mais comuns que arrastam pessoas aos consultórios dizem respeito aos conflitos existenciais como síndrome do pânico, dificuldade de se relacionar, traição, desemprego, instabilidade econômica e emocional; e distúrbios como esquizofrenia, o T.O.C., transtorno bipolar afetivo e a mania de perseguição.

Os casos mais prolongados se relacionam às síndromes psiquiátricas, já que o restabelecimento é mais complexo. Albanesi esclarece que quanto mais emotiva e menos racional for a pessoa, mais simples e rápido será o resultado. É necessário que ela consiga entrar em contato com o sentir, até porque a cabeça não lida com a emoção e sim com a razão.

"Tem gente que faz terapia há 14 anos. Adoro fazê-la, mas não pretendo criar dependência. Preciso resolver os meus conflitos, mas sem perder a consciência de capacidade individual. Acredito que a relação com o terapeuta também fica desgastada e o efeito se torna insatisfatório", opina a enfermeira Clarisse Loretta, 28.

Para a terapeuta e autora do livro 100% madrasta - quebrando as barreiras do preconceito, Roberta Palermo, o paciente deve confiar no profissional, por isso a conversa em uma sessão é de grande responsabilidade, mas não há receita e nem manual. Não existe o certo ou errado, e sim o adequado e o inadequado para cada um.

"Terapia requer humildade e coragem, porque é muito difícil olhar para nós, justamente por estarmos acostumados a trabalhar para fora, ou seja, na introversão e descobrir o reverso se torna uma questão de disciplina", completa Albanesi.


Alexandre Bez:
(11) 8588-8007

Maura Albanesi
(11) 3884-3125
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Atualizado em 6 Set 2011.