Foto: Sxc.Hu |
Um dia, ao entrar no elevador de um prédio comercial da Avenida Paulista, tive que ouvir o seguinte diálogo entre dois jovens rapazes:
"Acho que o Reinaldo vai sair."
"Se ele sair o departamento afunda."
"É, mas estão querendo trazer o Hélio de volta."
"O Hélio!? Pô, o Hélio é hunter cara, esse é hunter!"
"Hunter total, cara. Hunter total..."
Entre o constrangido e o divertido, olhei para o estereótipo dos dois mancebos. Era clássico: brancos, cabelos bem aparados, camisa social com gravata - mas sem paletó -, mangas dobradas na altura do antebraço, exalando futuro, carreira e sucesso.
Fiquei pensando comigo: hunter total... Claro que entendi que no mundo corporativo, aquela expressão devia significar algo como muito competente e dinâmico. Era o sujeito, enfim, uma ótima opção para substituir o tal Reinaldo, que podia até ser bem competente, mas não era hunter total.
Houve um tempo em que o mundo corporativo era meu sonho de carreira e que termos corporativos em inglês faziam parte do meu vocabulário. Assim, também já usei expressões como feedback, follow-up, database, benchmark, upgrade, business plan, startup, network, target group e etc. Hoje, no entanto, fujo disso. Mas ter estado lá, ao menos em sonhos e em inúmeras leituras da revista Exame e dos livros do Philip Kotler e do Peter Druker, me deixa à vontade para falar disso.
A comunicação é fundamental em todos os níveis da sociedade. Sua clareza e eficácia são indispensáveis. Não poderia ser diferente no mundo corporativo. Há ainda que se lembrar que todo universo profissional conta com seus jargões, que são seus códigos próprios, seja por uma melhor comunicação entre seus membros, seja apenas como um pedantismo exibicionista.
O que diferencia um do outro é o bom senso, que às vezes escapa das pessoas. Especialmente dos jovens, ávidos por se mostrarem integrados e "antenados" com seu núcleo de trabalho.
O uso de estrangeirismo é sempre alvo de polêmicas apaixonadas e, muitas vezes, de discussões irracionais. Há quem o defenda integralmente, há quem os queira exterminados do vocabulário, quase como uma limpeza étnico-vernacular. E há os sensatos, que admitem seu uso quando se tornam mais claros, precisos e sintéticos do que nosso próprio idioma.
Fugir de estrangeirismos é bobagem, pois qualquer língua do mundo está contaminada por eles, vindos de colonizações, imigrações, ocupações militares ao longo da história ou simplesmente pelo efeito da globalização.
Mas não se deve deixar seduzir pelo glamour patético de certos termos absolutamente desnecessários, quando não simplesmente exibicionistas. O importante é a clareza da mensagem, um processo que se dá com a interação harmônica entre emissor, receptor, meio, conteúdo e forma. E para que isso funcione bem, é preciso sempre se buscar, acima de tudo, a simplicidade e o bom termo, que até pode ser estrangeiro, só não pode ser banal.
Como disse certa vez o consultor Max Gehringer, em sua coluna na rádio CBN, usar certos termos estrangeiros impressiona, mas exagerar pode ter o mesmo efeito que chamar o jornalista Heródoto Barbeiro de Heródoto "Hair Stylist".
Quem é o colunista: gordo, ranzinza e de óculos.
O que faz: blogueiro, escritor e metido a crítico de cinema.
Pecado gastronômico: massas.
Melhor lugar do Brasil: qualquer lugar onde estejam meus livros, meus filmes, minhas músicas, meus amigos e minha namorada.
Fale com ele: [email protected] ou acesse seu blog
Atualizado em 10 Abr 2012.