Guia da Semana

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Imagine se o detergente ou a mamadeira do bebê pudessem causar infertilidade! Alguns estudos sugerem que substâncias liberadas por esses produtos afetam o sistema reprodutivo, principalmente em mulheres. De qualquer forma, não se assuste. Não há nada totalmente comprovado e você não ficará estéril porque lava a louça.

"Não dá para dizer que alguém ficou infértil por causa de um detergente. Se fosse assim, as domésticas e faxineiras seriam inférteis, o que é absolutamente falso. Para ter um efeito tão dramático, deveria ser algo com alta exposição e por tempo prolongado mas, em geral, essas substâncias não são tão absorvidas e o efeito é reversível, dado o afastamento da fonte. As pessoas passariam mal antes de serem afetadas seriamente", explica um dos coordenadores do Programa de Reprodução Assistida do Hospital São Paulo, Renato Fraietta.

Existem algumas substâncias que podem interferir negativamente na fertilidade, desde que haja forte exposição, o produto seja ingerido ou fortemente inalado, pois dificilmente apenas o contato com a pele levará ao problema. A ação de determinados ativos se daria por alteração hormonal ou ligação a proteínas do óvulo.

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Os alquifenóis, encontrados em certos produtos de limpeza, fazem a ligação com o DNA do óvulo de maneira estável, prejudicando aquela leva de células afetadas. O especialista lembra, no entanto, que a ligação não é tão intensa quanto a que acontece numa quimioterapia, por exemplo.

Para evitar riscos, use luvas durante a manipulação dos produtos químicos, não fique exposta por muito tempo às substâncias, arejando de vez em quando. Também tome os devidos cuidados com produtos de origem desconhecida.

Fraietta acrescenta que não é possível precisar quanto tempo de exposição é necessário para chegar ao ponto de causar infertilidade. De qualquer forma, cerca de três a seis meses depois de cessado o contato com o ativo, o quadro é revertido e a pessoa volta a ser fértil.

Compostos produzidos pelo homem, como organoclorinas e hidrocarbonos, demonstraram possuir ação estrogênica, anti-estrogênica ou anti-androgênica. Estrogênio é o hormônio feminino responsável por inúmeras alterações no corpo da mulher, inclusive nos órgãos reprodutores e fabricação de células. Portanto, quando esses hormônios sofrem alguma ação externa, outras questões femininas serão influenciadas, inclusive a ovulação.

As organoclorinas (DDT, DDE) são sintéticos encontrados no ecossistema e transmitidos através do aleitamento materno e alimentos em geral.

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"Um efeito bem conhecido e altamente mutagênico (que causa mutações) em fetos, foi a experiência da exposição de mulheres grávidas ao dietilbestrol - DES, componente ambiental de ação estrogênica. A exposição a esses compostos durante a fase de organogênese (período intra-útero) é a mais vulnerável", lembra o especialista em reprodução humana Emerson Barchi Cordts.

O formol, contido nos alisantes para cabelo, é bastante tóxico e deve ser evitado ao máximo. O cheiro entra pela respiração e, após ser absorvido pelo pulmão, segue para a corrente sanguínea, atravessando as paredes das células e provocando danos não apenas ao sistema reprodutor, como a toda saúde.

É importante ressaltar que os efeitos de todos esses produtos na infertilidade são especulações, pois ainda não há estudos definitivos para comprovar tais fatos. A indústria de cosméticos, por exemplo, utiliza como matéria-prima produtos sintéticos com ação hormonal. Existem relatos de aumento de infertilidade masculina numa determinada população banhada pelo rio Tâmisa, na Inglaterra. Descobriu-se que, anos atrás, a água do rio era contaminada pelos produtos e dejetos de uma indústria de cosméticos. Mesmo assim, outros fatores podem estar envolvidos nas situações.

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O que se sabe é que suplementos comuns em academias, como anabolizantes, utilizados para aumentar a atividade anabólica muscular à base de testosterona, bloqueiam o eixo hormonal hipotalâmico-hipofisário, ou seja, diminuem a fabricação de espermatozóides e contribuem para infertilidade masculina.

Em laboratórios de reprodução, o almíscar artificial, encontrado em fragrâncias e perfumadores de ambiente, é proibido, por se tratar de um ativo tóxico ao embrião.

"Estudos mostram que materiais compostos de plástico, como copinhos para tomar café, liberam substâncias com alto teor de estrógeno, quando em contato com algo quente. Isso pode contribuir para a endometriose, trazendo como conseqüência a infertilidade feminina", alerta a especialista em endometriose e reprodução humana Rosa Maria Neme.

Suspender o uso da substância é o melhor tratamento, já que as alterações são momentâneas e não a longo prazo. Nos homens, é mais difícil ocorrer interferência dos ativos.

Alimentos

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Obesidade causa infertilidade. Presente em cerca de 40% da população americana e 16% da brasileira, a doença é decorrente da ingestão de gordura TRANS, má alimentação e vida sedentária. Além de afetar o sistema reprodutor, traz resistência insulínica, hipotireoidismo, diabetes mellitus e síndrome dos ovários policísticos.

Essas alterações levam a distúrbios de ovulação (disovulias) ou mesmo à falta de ovulação (anovulação). Os problemas respondem por até 40% de causas de infertilidade em países desenvolvidos e com hábitos alimentares ruins, como os Estados Unidos.

Os alimentos com gordura TRANS, típica de fast-foods, ocasionam desequilíbrio entre as concentrações de Omega 3 e Omega 6 no organismo. Dessa forma, o aumento do Omega 6 constrói moléculas inflamatórias (prostaglandinas), envolvidas na formação ou piora da endometriose, uma das principais causas femininas de infertilidade.

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Quanto aos alimentos, não há descrição de nenhum que leve diretamente ao problema, com exceção daqueles tratados com hormônios. Rosa explica que o alto teor de estrógeno em frangos criados com hormônios, por exemplo, provocam a alteração na ovulação da mulher.

Barchi conta que diversos estudos recentes foram publicados demonstrando os efeitos de fito-estrogênios. Os compostos, provenientes de plantas e utilizados como suplementos alimentares na cultura ocidental, mimetizariam a ação dos hormônios estrogênios, de uma forma mais leve. Eles seriam as flavonas (cereais e frutas), isoflavonas (soja, lentilhas, feijão), lignans (cereais e frutas) e coumestans.

"Há necessidade de estudos complementares, mas esse tipo de ação hormonal parece não causar qualquer interferência no processo reprodutivo e na infertilidade, muito menos influência negativa na gestação. Pelo contrário, as isoflavonas têm demonstrado ação efetiva de potencialização da terapia de reposição hormonal em mulheres na menopausa, assim como efeito protetor para arteriosclerose e doença cardiovascular, por diminuir as taxas do colesterol ruim", diz.

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A falta de vitamina B12, vitamina C e aminoácidos ajuda a reduzir a fertilidade, de acordo com o especialista em reprodução humana assistida Eugênio Magarinos Torres. Por esse motivo, mulheres que fazem dietas muito radicais possuem dificuldades em engravidar.

Alimentos vegetais podem também ser um risco quando contêm concentrações altas de pesticidas e agrotóxicos. Os produtos exercem uma ação negativa, principalmente na produção de espermatozóides. Para evitar o problema, antes de consumir lave bem os alimentos e deixe-os submersos em água por 20 minutos com produtos à base de cloro (como Hidrosperil).

Torres explica que, para quem vive nos centros urbanos, é difícil evitar as substâncias que causam prejuízos à fertilidade. O que o especialista indica é fugir o máximo de locais com o ar muito poluído e procurar uma alimentação cada vez mais natural, com menos agrotóxicos. Além disso, evite fumar, já que o cigarro também é um causador da infertilidade.

Riscos para a gravidez
Alimente-se corretamente! Um hábito alimentar errado interfere na vida da futura mamãe e do bebê. "Uma vez uma paciente me contou que abortou sem querer, porque fez chá de uma planta abortiva sem saber (Melão São Caetano). Existem plantas que podem ser abortivas", conta Torres. Além disso, o excesso de cafeína (coca-cola, café, mate...) influencia de forma negativa no desenvolvimento da gravidez.



O preço da fertilidade

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Os preços de um tratamento para infertilidade dependem da técnica (inseminação ou fertilização). Mesmo dentro da opção de fertilização, existem variáveis, como o tipo de medicação e dosagem escolhida, de acordo com a idade da paciente e a causa do problema. No caso da in vitro, por exemplo, é preciso avaliar se terá congelamento de embriões ou não.

Barchi explica que, de uma maneira geral, o mercado traz clínicas conceituadas que cobram, em São Paulo, de R$15 mil a R$30 mil para realizar a inseminação artificial sem medicação. O preço para fertilização in vitro varia entre R$7 mil e R$10 mil por tentativa, sem medicação.

Na mulher, os danos causados por tóxicos são mais difíceis de serem tratados do que nos homens. Caso o espermograma esteja alterado e permaneça por muito tempo assim, mesmo após cessar o uso de determinada substância, ele deverá partir para a reprodução assistida através da Injeção Intracitoplasmatica de Espermatoziode - ICSI. O tratamento custa cerca de R$9 mil a cada tentativa.

É importante lembrar que, mesmo com o homem fértil, a mulher possui possibilidades de engravidar de acordo com a idade. Caso ela tenha até 34 anos, a chance é de 30%, até 39, diminui para 25% e, com mais de 40, são menores que 10%.

Cuide-se: conheça alguns programas que cooperam para os tratamentos contra infertilidade.



Greenpeace: saiba sobre o estudo do Greenpeace relacionado aos impactos de substâncias sintéticas na saúde humana.



LEIA MAIS: conheça os tratamentos para a nfertilidade.



Colaboraram:
? Emerson Barchi Cordts - Programa Bem Querer
? Rosa Maria Neme
Fone: (11) 3052-1109
? Eugênio Magarinos Torres
Clínica Bebê de Proveta - Centro Médico Richet Barra: Av. das Américas, 4.801, Sala 126 - RJ
Fone: (21) 3111-4792
? Renato Fraietta
Programa de Reprodução Humana do Hospital São Paulo - 0800 7723322

Atualizado em 6 Set 2011.