Guia da Semana

A sociedade ainda conservadora preserva determinados valores de inconceber aquilo que foge da padronização estipulada, como o travestismo e o transexualismo, distúrbios referentes à vivência do papel dos sexos.

Diferenças entre Transexual, Travesti e Homossexual

? Transexual: sente a sua identidade trocada
? Travesti: não sente a sua identidade trocada, mas usa roupas e tem trejeitos do sexo oposto para satisfazer as suas necessidades eróticas e se excitar
? Homossexual: não sente a sua identidade trocada, mas sente atração afetiva e sexual pelo mesmo sexo



O desejo de um homem se apresentar ao mundo como uma mulher e ser considerado como tal, implica no travestismo. Esta tendência pode chegar ao interesse e a convicção de pertencer ao outro sexo, figurando o transexualismo. Geralmente, o indivíduo transexual sofre com sua condição sexual anatômica e espera uma intervenção cirúrgica que lhe mude o sexo. O transexualismo é encarado como acentuação máxima de travestismo.

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"A psicologia entende o transexualismo como transtorno de identidade de gênero, problema que causa muito sofrimento às pessoas quando as mesmas não buscam ajuda psicológica, pois significa que a pessoa biologicamente é de um determinado sexo, mas se sente de outro. Pessoas transexuais têm a clara sensação que são ´almas´ masculinas em corpos femininos ou vice-versa. Elas se sentem diferentes desde a infância e sofrem uma pressão muito grande para terem um comportamento de acordo com o sexo biológico. Muitos relatam a sensação de estarem constantemente representando um personagem", esclarece a psicóloga Luciana Amadi.

A cirurgia de mudança de sexo pode ser adotada pelo transexual com no mínimo 21 anos de idade, submetido à análise em um período de dois a cinco anos precedente ao ato cirúrgico. Antes de encaminhar o paciente para uma possível cirurgia, ocorre uma avaliação multidisciplinar com diversos profissionais, entre eles, endocrinologista, cirurgião-plástico, ginecologista, urologista, psiquiatra, psicólogo e assistente social. São eles que por meio de avaliações definirão a viabilidade ou não da transmutação sexual, tendo em vista que se trata de um tratamento irreversível.

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O início do tratamento se dá com a transformação hormonal (hormonioterapia) e a psicoterapia. A hormonioterapia auxilia o transexual na conversão física, conferindo a ele caracteres sexuais do sexo oposto. Aos homens são indicados hormônios anti-androgênios que inibem os caracteres masculinos e promovem alterações corporais para as femininas. Estas mudanças dizem respeito à suavização da voz e da pele e ao aumento das mamas. Já a psicoterapia ocorre também durante o tratamento da hormonioterapia, este período é chamado de ´Teste da vida real´ e espera-se que o transexual gradativamente abandone o papel sexual anterior, iniciando sua transformação. Após este processo, ocorre uma auto-avaliação para realmente decidir se é isto mesmo que ele deseja.

"Se tudo correr bem nestes dois anos, a cirurgia de redesignação de sexo é efetuada. Por tratar-se de uma cirurgia muito invasiva, o processo de sofrimento é bem grande, tanto físico como emocional, porém, quando o período crítico de recuperação cessa, normalmente a pessoa sente-se muito realizada e finalmente completa", diz Amadi.

O transexual que vai fazer a cirurgia de reversão para a linha feminina pode realizá-la pelo SUS ou em clínica particular. Neste tipo de procedimento é impossível o operado possuir útero ou ovários, devendo aproveitar seus órgãos genitais antes de modificá-los.

Já a reversão para a linha masculina funciona somente em ambiente universitário, por estar em fase experimental. Cerca de 30 dias após a cirurgia, o paciente pode levar uma vida normal e três meses depois, a cicatrização está perfeita.

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"Existe a possibilidade de realizar a cirurgia de redesignação de sexo, tanto para a linha feminina como para a masculina - esta com mais dificuldades", afirma o médico cirurgião plástico Hamilton Gonella. Para ir para a linha feminina, extirpa-se o pênis, impossibilitando a reversão ao sexo anterior. Por isso, o paciente passa por psicanálise, a fim de que tenha convicção plena da sua decisão, uma vez que ela é definitiva.

O tamanho do pênis implantado deve ter dimensões normais, sendo proporcional à resposta do hormônio no clitóris. A reconstituição do novo aparelho genital é feita a partir da utilização da coxa retoabdominal e do antebraço (cirurgia microcirúrgica). No Brasil, uma operação deste porte custa aproximadamente R$ 20.000 e fora do país chega a U$ 20.000.

"Após a cirugia, o indivíduo descobre novos valores e atinge a maturidade com apoio psicológico e ajuda de todas as pessoas envolvidas, que fazem parte do seu círculo afetivo. Neste processo há a busca de reinserção social para o resgate dos valores que se achavam perdidos na situação e na vivência anterior", afirma o psiquiatra Leonard Verea.

Para a psicóloga Maura Albanesi, a cirurgia deve ser recorrida em última instância, quando houver a certeza do paciente, afinal o perigo de crise de identidade após a mudança de sexo é eminente, especialmente se as sessões de análise não tiverem sido bem construídas e amarradas. O cuidado com a depressão pós-cirúrgica é um fator relevante que deve ser repensado. O transexual quer unir o poder masculino e feminino em um único ser, não se considerando nem homem e tampouco mulher, e sim a totalidade. Transmutar-se significa anular uma das suas possibilidades sexuais.



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A transexual, Maria Luiza da Silva, até ano passado José Carlos da Silva, cabo da aeronáutica aposentada compulsoriamente, segundo ela, de maneira discriminatória, declarou em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, ter sido reformada (tipo de aposentadoria militar) e ter o salário reduzido, no ano de 2000, logo após ter iniciado a sua fase de transição sexual, ao passar se vestir como mulher.

Foi uma junta de médicos que determinou a aposentadoria de Maria alegando inaptidão para o serviço de manutenção de aviões. De acordo com ela, o laudo médico é contraditório por declarar ´incapacidade´, mas não restringir o esforço físico. Quando reformada, confirma redução de quase 50% de seu salário, recuperado integralmente por decisão judicial.

No ano passado, conseguiu mudar na Justiça, nome e sexo em seus documentos civis. Ela conta ainda, que a mudança de sexo foi recebida com estranheza no meio militar e que sofreu preconceito pela sua decisão. Hoje, sua principal atividade consiste em um trabalho voluntário em um hospital de Brasília, com pessoas que sofrem de transtornos de identidade sexual.



A falta de informação desenvolve mal-entendidos e gera preconceito, até mesmo por parte da própria pessoa. Muitas vezes, o envolvimento com a prostituição e drogas é visto como válvula de escape e solução de sobrevivência de sua condição. Os transexuais ainda são marginalizados e excluídos, alvos do espanto e da rejeição do mundo que os cerca. A população social causa conflito entre o indivíduo e a sociedade, mas o real problema está na falta de maturidade e discernimento para a auto-aceitação. Saber administrar as diferenças entre o ser em essência e a estarrecedora massificação da maioria é uma tarefa empreendedora que requer sabedoria.

Colaboraram:
? Luciana Amadi
Endereço: Rua Alvorada 472 - Vila Olímpia - São Paulo - SP
Fone (11) 3668-7476
Email: [email protected]
? Maura Albanesi
Instituto de Psicoterapia Progressiva Maura De Albanesi
Endereço: Rua Dr. João Pinheiro, 22 - Jardim Paulista - São Paulo - SP
Fone: (11) 3884-3125
? Leonard Verea
Instituto Verea
Endereço: Rua Lavandisca, 741 cj. 104/108
Fone: (11) 5051-2055
Email: [email protected]
? Carlos Cury
Endereço: Av. José Munia, 5.555 - Jardim Higienópolis - S. José do Rio Preto - SP
Fone: (17) 3229-1370
? Hamilton Gonella

Atualizado em 6 Set 2011.