Guia da Semana

Por Adriana Farano

No filme "Eu, eu mesmo e Irene", o ator Jim Carrey vive um personagem que sofre de dupla personalidade. Charlie é um trabalhador honesto, pai de três filhos e sempre disposto a ajudar todos da cidade. Quando ele esquece de tomar seus remédios a sua segunda personalidade Harry, vem à tona. E ele não tem nada em comum com Charlie, é beberrão, agressivo e grosso com todos. No filme a história está estereotipada e bem escrachada.
Já na vida real as coisas não são bem assim. Chamado de Transtorno Dissociativo e de Identidade, o problema tem como característica principal a presença de duas ou mais identidades, que recorrentemente assumem o controle do comportamento. "Isso acontece porque a pessoa sofreu algum tipo de abuso na infância, pode ter sido sexual, ou uma grande repressão verbal. Para conseguir esquecer desse fato marcante ele gera outra personalidade totalmente diferente do que são", explica Durval Luiz de Faria, psicólogo e professor da Pontifica Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Normalmente a pessoa que sofre com o Transtorno não se lembra da sua outra "cara" e acaba tendo convívios em diferentes grupos sociais. "Cada estado de personalidade pode ser vivenciado como se possuísse uma realidade, auto-imagem e identidade próprias, inclusive um nome diferente. Em geral existe uma identidade primária, portadora do nome correto do indivíduo, a qual é passiva, dependente, culpada e depressiva", esclarece o psicoterapeuta e médico clínico Dr. João Augusto Fiqueiró. Por isso não pense que aquela sua amiga que fala uma coisa pra você e diz outra para os demais tem dupla personalidade, o problema é sério, complexo e tem um difícil diagnóstico. "Aqui no Brasil as pessoas não sabem muito sobre esse assunto e como temos uma grande variedade de religiões eles acabam sendo incorporados por esse meio, o que máscara a doença e prejudica o tratamento", completa Dr. Roberto de Santa Rosa, terpsicoretransterapeuta e diretor de Comunicação do Sindicado de Psicólogos do Rio de Janeiro.
A pessoa não costuma ter recordações da infância e muitas lembranças podem estar sujeitas as distorções. Normalmente eles são altamente hipnotizáveis e sugestionáveis. Por outro lado, o responsável pelos atos de abuso físico e sexual pode inclinar-se a negar ou distorcer seu comportamento. Tudo dificulta o diagnostico, e em muitos casos há mais de uma patologia envolvida.

O tempo necessário para a mudança de uma personalidade para outra é uma questão de segundos, ou pode ser gradual. O indivíduo pode ter desde duas até 10 identidades, que com freqüência contrastam com a identidade primária (por ex., são hostis, controladoras e autodestrutivas). "Eles também podem manifestar sintomas como, por exemplo, pesadelos, flashbacks e respostas de sobressalto. A automutilação e comportamento suicida e agressivo podem ocorrer", acrescenta Dr. Fiqueiró.

O tratamento deve ser feito com medicamentos e terapia. A cura se dá quando o paciente resolve o trauma da infância e consegue se desvencilhar das suas personalidades múltiplas. "Isso pode levar de quatro a seis anos, a hipnose é um complemento que consegue resolver o problema na sua origem. Mas como é raro achar alguém que tenha esse quadro patológico, os profissionais acabam não sabendo qual o melhor método a ser utilizado", diz Dr. Santa Rosa.

Serviço:

Roberto Santa Rosa
Fone: (21) 2224-1762
João Augusto Fiqueiró
Fone: 3287-9206

Durval Luiz de Faria
Fone: 3864-2170

Atualizado em 6 Set 2011.