Teo me falou sobre o desconforto que o acompanha de longa data. Pedi a ele para descrever os sentimentos que estariam associados a esta experiência. Com alguma dificuldade, respondeu: "raiva e irritação". Percebi que ambos estavam associados à necessidade de provar diariamente que é o primeiro em tudo que faz. Ser o primeiro, para Teo, era o mesmo que ser um vencedor. A partir do segundo lugar, para ele, todos eram perdedores. Vivia como se sobre ele estivesse depositada a esperança de todos. Esta exigência foi assimilada e determinou para ele o parâmetro do que é ser homem.
Teo desenvolveu uma habilidade para aprender rapidamente uma situação e adaptar-se a ela. Suas histórias estavam repletas de situações de perigo com desfechos de sucesso. Mas esta necessidade de ser o campeão vitorioso a qualquer custo acabou fazendo com que ele adotasse uma atitude extremamente defensiva e reativa diante dos pontos de vista diferentes dos seus, em que sua inteligência e sensibilidade sucumbiam às ameaças de transformar-se em perdedor. Chegou a pensar em tomar algo para aumentar seus músculos - precisava sentir-se forte, potente, destemido e ávido sexualmente. Um exterminador do presente. Afinal, nos dias de hoje, sucesso e supremacia podem ser alcançados, combinando musculação e política.
Disse-lhe que o preço pago é alto demais, pois aquele que busca o excesso de vitória termina vivendo em um mar de indignidade. Haja vista que, para conseguir tal empreitada, ele deveria ser dissimulado. Caso contrário, não daria conta do rancor e da paranoia que acompanha quem busca o impossível: ser exclusivamente o primeiro.
A raiva e a irritação que sente dizem respeito à sua impotência em transformar este estado de coisa no qual não consegue ser ele mesmo. Para cumprir este protocolo, Teo perdeu a ousadia que, em seu tempo, ficou restrita às tatuagens, aos piercings e a uma estética sexo-libertária.
Ele me disse: "eu sou aquele que é necessário quando é necessário". Eu lhe respondi que havia uma diferença significativa entre o sentido desta frase pronunciada por um operador da bolsa ou um político e alguém que assume a sabedoria como o fio condutor de sua vida.
A sabedoria exige conhecimento e domínio de si, que o eterno vencedor desconhece. Para adquiri-la, é necessário recuar e compreender como a própria história lhe atravessa, de tal maneira que sua capacidade de admirar seja maior que o sentimento de raiva que carrega. Para tal empreitada, a força física, a conta bancária e o sexo atlético são armas inúteis.
Desarmado, o guerreiro pode perceber que a admiração promove a gratidão, fruto da sabedoria de quem ousou assumir-se como um guerreiro desarmado.
Leia as colunas anteriores de Sócrates Nolasco:
Virando a mesa
Mulher, juventude e amor
Bandidos
Quem é o colunista: Sou aquele que deixa o que encontrou melhor do que estava antes.
O que faz: Psicanalista, Escritor e Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Pecado gastronômico: Ostras com Cristal do Roederer.
Melhor lugar do Mundo: Yosemite National Park e San Francisco.
O que está ouvindo no carro, iPod, mp3: Yoshida Brothers.
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Atualizado em 10 Abr 2012.