Guia da Semana

Foto: Gael Oliveira/APH

Tatiana, em sua palestra na Campus Party Brasil 2011, em São Paulo

Olhos azuis, cabelos castanhos, esbelta e de fala mansa. Carioca, 37 anos e dona de um currículo invejável - até mesmo entre seus colegas homens -, ela não é modelo, atriz, cantora ou artista plástica. Tatiana Rappoport é pós-doutora em Física e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Como se não bastasse, ela é uma das referências brasileiras na pesquisa do grafeno, material derivado do grafite e uma das apostas da tecnologia nos próximos anos.

O que chama mesmo a atenção, além do respeito conquistado no mundo acadêmico, é o fato de Tatiana ser uma das pouquíssimas mulheres a alcançar o mais alto grau de estudo, reconhecimento e dedicação em uma área quase exclusivamente masculina. "Mas isso está mudando aos pouquinhos", ela comenta, modestamente.

Seu histórico acadêmico impressiona. Seus estudos de graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado foram em Física - e é especializada em Física de Matéria Condensada. O currículo invejável levou ao convite para ser uma das palestrantes que subiu no palco principal da Campus Party, evento ocorrido em São Paulo no mês janeiro, que contou com nomes como Al Gore e Steve Wozniak. "Eu adorei, fiquei mais alguns dias por lá, eu também gosto de informática", conta, empolgada.

Mas engana-se quem pensa que Tatiana só fala de partículas, grafeno, fórmulas e assuntos indecifráveis para a grandíssima maioria da população o dia todo. Ela é o que se pode chamar de mulher multimídia. Para começar, ela também gosta de camping. "Quando eu era mais nova, eu saía para acampar. Já acampei no topo do monte Roraima [o segundo mais alto do Brasil, com 2.875 m, que fica entre a Venezuela, Guiana e o estado brasileiro de Roraima]. Fui também para a Chapada Diamantina e fiz trekking na Patagônia", conta. E, se não está embrenhada em trilhas ou barracas - "agora eu já não acampo tanto quanto antes" -, além de estudar as propriedades do grafeno, gosta de sair com os amigos. "Não sou paradona. Tenho um grupo grande de amigos aqui no Rio".

Nascida em Buenos Aires - ela chegou ao Brasil com dois anos de idade e naturalizou-se brasileira -, é a única da família que se enveredou pelos números e fórmulas: seu pai é arquiteto, sua mãe é artista plástica e seu irmão, web designer. E logo cedo descobriu do que gostava. "Adorava matemática. Tive dúvidas entre estudar Matemática e Física na faculdade", lembra. "Tive um professor muito bom de Física no ensino médio - inclusive ele foi professor de vários físicos. Ele me influenciou muito".

Tatiana é casada - seu marido também é físico -, não tem filhos e nem é de ficar pensando muito no que pretende fazer no futuro. Seus planos estão voltados para o estudo do grafeno, a menina dos seus olhos azuis."Eu quero trabalhar, por um bom tempo, com o grafeno, principalmente na relação dele com o magnetismo. Mas não sou de fazer planos de longo prazo", completa.

Atualizado em 6 Set 2011.