Guia da Semana

Foto: Getty Images


País que se libertou do regime de apartheid nos anos 90, a produção de vinhos na África do Sul ganhou visibilidade global somente nas últimas duas décadas. Para concorrer com os famigerados rótulos do velho mundo, a nação conta com um clima favorável no plantio de uvas - forte calor de dia e baixas temperaturas à noite. O Guia da Semana conversou com o especialista Roberto Sami Acherboim sobre os principais atrativos do blend da nação sede da Copa de 2010.

Origem

Por estar no meio da rota para as Índias e por ser um ponto de parada obrigatório de abastecimento, os holandeses foram os que levaram as primeiras mudas de videiras para lá, ainda no século XVII. Posteriormente, franceses fugidos de perseguições religiosas embarcaram no local, trazendo em sua bagagem o domínio das técnicas vinícolas e toda a sua experiência na área. O país chegou a ganhar fama pela produção de um renomado vinho doce, produzido a partir de uvas moscatel, mas o domínio britânico sobre a África do Sul cortou os suprimentos de uvas francesas e obrigou o país a exportar toda a sua produção para a Inglaterra, refletindo em uma queda de qualidade.

No início do século XX, a fabricação foi ajudada pela formação de cooperativas, objetivando melhorar a qualidade em busca da excelência na área. Após esse longo período de esquecimento, os vinhos sul-africanos voltaram a fazer parte da elite mundial, e prometem permanecer por lá muito tempo.

Foto: Roberto Acherboim


Confira os principais tipos de cultivo nas viniculturas da África do Sul, segundo Roberto Sami Acherboim
- Merlot : sozinha ou em corte com Cabernet Sauvignon, produz vinhos muito ricos, densos, elegantes e complexos.
- Sauvignon Blanc : Produz alguns poucos vinhos excepcionais, complexos, frescos com boa acidez. Em fase de expansão.
- Muscat: Responsável pelos vinhos doces, fortificados, etc. Não muito alcoólicos, mas bastante aromáticos e gostosos.
- Shiraz: Bastante popular no país, gera vinhos elegantes, que lembram a pimenta preta típica da uva, assim como frutas vermelhas.
- Chardonnay: Fermentada em barricas produz alguns vinhos suntuosos, com toques cítricos, madeira. Têm bom corpo e boa alcoolicidade. Também em expansão.
- Cinsault: Conhecida no país como Hermitage, é uma uva conhecida por sua alta produtividade e resistência. Vinhos pálidos, porém com potencial de envelhecimento.
- Pinot Noir: uva da Borgonha, de difícil adaptação longe de sua terra natal. Na África do Sul, começa a obter resultados muito bons, com boa complexidade, e paladar redondo e agradável.
- Chenin Blanc: Conhecida no país como Steen, é a cepa que recobre a maior parte dos vinhedos do país. Seus vinhos são secos, jovens, saborosos e vivos. Dura mais quando utilizada em variantes doces.
- Cabernet Sauvignon: A rainha das uvas tintas também comparece no país, principalmente na região costeira. Gera vinhos situados entre os frutados e elegantes e os corpulentos e longevos, por vezes tânico em excesso. Recentemente vem ocorrendo um grande aumento na qualidade, em função do uso de barricas de carvalho francês.
- Pinotage: Fruto do cruzamento da Pinot Noir com a Cinsault (Hermitage), criada em 1925 na Universidade de Stellenbosch, é a contribuição sul-africana para a vinicultura mundial. Gerava vinhos muito bons, porém que apresentavam aromas químicos, de acetona. Hoje em dia, com novas técnicas de vinificação e "afinamento" em barricas de carvalho gera alguns grandes vinhos, mais complexos. Podem até envelhecer, embora sejam melhores quando jovens.

Confira a lista de cinco produtores da África do Sul

Raka - Destaque para o Biography Syrah que, entre os 6.000 vinhos degustados para o John Plantter South African Wines 2007 e a safra 2004, foi um dos 24 vinhos cotados com nota máxima 5 estrelas. Para os críticos, ele apresenta aroma de frutos maduros e especiarias. O enófilo Archeboim aponta também o Pinotage e Sauvignon Blanc, com boa qualidade, assim como todos os vinhos da linha "básica" (que de básica não tem nada).

Boekenhoutskloof - Para o crítico de vinho mais famoso e temido do mundo, Robert Parker, a Boekenhoutskloof produz os melhores e mais estilosos vinhos da África do Sul. Em sua visão, o Cabernet Sauvignon deles é "profundo, complexo, extraordinário, lembrando um St. Julien de uma grande safra. Um dos mais finos na África do Sul". Roberto Archeboim ainda destaca o The Chocolate Block e o Porcupine Ridge Syrah.



Foto: Roberto Acherboim

Simonsig - Foi fundada por Franz Malan em Stellnbosch, uma das principais regiões vinícolas do mundo na atualidade. Destaque para o top de linha Tiara, com corte ao estilo de Bordeaux, além do Mr. Borio's Shiraz e os espumantes Cape Classique Rosé e Brut. O especialista destaca um ótimo custo-benefício, com bons preços e ótima qualidade, numa importadora quase desconhecida do grande público.

Meerlust - Produtora de vinhos de padrão internacional, a fazenda teve sua casa principal erguida em 1693, que permanece inalterada,considerada patrimônio histórico do país. Todos os vinhos são conservados e envelhecidos em barris de carvalho francês na própria propriedade. Roberto dá destaque para o Rubicon, Chardonnau e Merlot.

Klein Constantia - Localizado nas encostas mais frias da região, dando origem a uvas brancas de extraordinária qualidade. O Vin de Constance são as meninas dos olhos da produtora, um puro moscatel de colheita tardia, com dois anos de estágio em barris de 500 litros de carvalho francês. No paladar a doçura é intensa e se sobrepõe à acidez, na bebida com cor âmbar intensa.

Atualizado em 1 Dez 2011.