Guia da Semana

Foto: Getty Images



Sempre pareceu uma menina recatada. Nos tempos de colégio, sentava no meio da sala de aula, ainda que enfrentasse, sem ninguém saber, uma dificuldade imensa para enxergar o quadro negro. Tinha receio de ser usada como ponto de referência, caso começasse a usar os óculos de grau. Mas, próximo à faculdade, não teve mais como evitar.

Passou a adolescência driblando a timidez e engatou, no final dela, um namoro com um amigo de infância rechonchudo. Saíam somente aos sábados, depois que ele voltava cansado do futebol. Um cineminha ou um passeio no shopping eram de praxe. Morria de vontade de ir dançar em boates da moda, ouvia as amigas contarem sobre seus fins-de-semana, fingindo dar pouca importância.

Iniciou sua vida sexual aos 18 anos. A mãe nunca tomou iniciativa em conversar sobre sexo. Carola e católica, defendia que toda mulher deveria esperar o casamento para entregar-se a um moço de "boa índole".

O namorado propôs um jantar no dia dos namorados e depois esticaram para um motel próximo. Ele pediu champanhe e chegou a acender velas. Ela estava pronta. Comprava revistas e lia entusiasmada a parte lacrada sobre sexo. Depois de um beijo demorado, ele apagou as luzes e ela se quer o viu sem roupa. Poucos minutos depois chegou a sentir uma leve dor, amenizada pelo álcool presente no sangue. Sentindo o peso do corpo dele, ela chegou a ensaiar um momento de prazer e antes que conseguisse, ele tinha acabado. E foi assim toda vez.

A sua vida em quase nada apresentava surpresa ou fatos inesperados. Trabalhava durante o dia no banco e ia direto para a faculdade à noite. Planejava sem muito esmero o casamento. Guardava parte do salário e, todo mês, comprava alguma peça do enxoval.


Num desses passeios para a compra da peça do mês, passou em frente a uma loja de lingerie e viu na vitrine uma calcinha vermelha de renda. "Que vulgar, adorei", pensou. Também pensou em entrar na loja, mas acabou indo comprar o conjunto de cama que havia planejado.

Há poucos meses do casamento, as amigas organizaram o seu chá de panela. Entre inúmeras brincadeiras inocentes com as tias e a mãe presentes, as amigas a levaram para o quarto dos fundos e, a sós, fecharam a porta e vendaram seus olhos. Ela ouviu a porta abrir e entre conversas cúmplices, uma delas mandava a outra vigiar o corredor. Ligaram o som e ela sentiu alguém chegar por trás da cadeira em que estava sentada.

Chegou a ensaiar falar algo, mas foi impedida por um dedo grosso que calava sua boca. Ligaram o som e, então, sentiu um homem forte e robusto levantar seu corpo da cadeira. Entre risos nervosos de quem estava presente, ela dançou, passou com a iniciativa dele a mão sobre a sua barriga nua e, antes que alguém desconfiasse, ele encerrou dando um morango em sua boca e um leve encostar dos lábios dele sobre o dela. Saiu sem ela sequer tê-lo visto. Ficou noites em claro sonhando com aquele dia.

Sem conseguir mais se concentrar em nada ela, conseguiu que a amiga confessasse quem era aquele homem, onde trabalhava e como fazia para encontrá-lo. Disse que queria indicar para outra pessoa e acabou descobrindo tudo o que queria. Anotou o nome da boate em que trabalhava e guardou na carteira.

A dois dias para o casamento, numa sexta-feira quente, ela saiu do trabalho com uma sacola à tiracolo. Ligou para o noivo e disse que iria sair com as amigas. Próximo à meia-noite, ela saiu do táxi com o cartão da boate na mão. Ajeitou a calcinha vermelha e entrou.

Atualizado em 6 Set 2011.