Teo falava rapidamente sobre muitos assuntos, todos ao mesmo tempo. Ele estava angustiado, raivoso e, até aquele momento, não sabia me dizer o que estava lhe deixando inquieto. Decidi não interrompê-lo para que eu pudesse ter clareza sobre os motivos daquele seu estado.
Percebi que os temas sobre os quais falava tratavam de situações tensas e violentas. Eram discussões em que ninguém ouvia ninguém. Perguntei a ele se o estopim de seu desassossego poderia ter sido causado pelas lembranças que o final de seu casamento lhe fez emergir. Ele me interrompeu.
- Mas ela era um sargento! Retrucou como se eu o acusasse ou estivesse chamando sua atenção.
- Minha ex-mulher era uma sabe-tudo, gostava de mandar na casa, nos filhos, em mim. Ela vivia dizendo o que eu devia ou não fazer. Achava-se intuitiva, nunca paranoica.
Eu lhe interpelei apontando a dificuldade de comunicação presente entre ambos. Ele me respondeu que sua ex-mulher o fazia sentir-se sozinho, diminuído, como se o casamento fosse só dela. Nele, Teo se sentia desempenhando um papel coadjuvante, uma peça de decoração, jamais co-autor.
Pelo seu tom de voz eu pude compreender o quanto ele afogava suas frustrações em raiva, um desespero que continuamente era convertido em angústia. Mas o que me chamou atenção em seu estado foi a intensidade da dor escondida pelas mágoas. Ele se tornou uma pessoa dura e rígida.
Teo fechou-se para o novo, para o frescor da descoberta e do inusitado. Ele desenvolveu uma tese através da qual explicava o mundo. Com isto, limitou o horizonte emocional de sua adultez.
A brutalidade presente em suas atitudes buscava silenciar a dor causada pelas inúmeras situações de violência a que foi exposto durante sua vida. De longe, poderíamos chamá-lo de machão, mas, quem o conhecia de perto, conhecia-o por "fera ferida": alguém que não sabia lidar com a experiência emocional da dor.
As expectativas de Teo sobre o casamento não poderiam se realizar, tendo em vista a mulher que havia escolhido. Mas seria possível com alguma outra mulher? Perguntei a ele. Afinal, de onde vem tamanha exigência?
Sua angústia se converteu em um choro que moveu todos os músculos de seu corpo, fazendo-o respirar aliviado. Com aquele pranto, ele começou a se despedir da sua rigidez exagerada, passando a construir um outro modo de estar no mundo. Pôde dizer adeus ao primeiro amor e resgatar o que este havia lhe despertado: delicadeza e suavidade.
Ele aprendeu a rir do machão pneumático que foi durante anos e que só tinha olhos para a beleza ciborgue. Quando começou a aceitar o final de seu casamento, deixou as "maravilhosas do silicone" para os homens sem imaginação!
Leia as colunas anteriores de Sócrates Nolasco:
Mulher, juventude e amor
Bandidos
Saindo de que armário?
Quem é o colunista: Sou aquele que deixa o que encontrou melhor do que estava antes.
O que faz: Psicanalista, Escritor e Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Pecado gastronômico: Ostras com Cristal do Roederer.
Melhor lugar do Mundo: Yosemite National Park e San Francisco.
O que está ouvindo no carro, iPod, mp3: Yoshida Brothers.
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Atualizado em 6 Set 2011.