Fotos: Sxc.hu |
Aquela sensação de estarmos ameaçados, uma angústia, um nojo inexplicável pode ser seu maior ponto fraco. O meu? Baratas, claro! Há quase 400 milhões de anos, esses seres obscuros e peçonhentos já habitavam o planeta. Segundo o psicanalista da minha tia, o medo de baratas envolve tudo aquilo que detestamos nos outros, em relação à personalidade, índole e caráter. Tudo isso é transferido para a coitada da bicha.
Indagações à parte, a questão aqui é que eu realmente tenho pavor deste inseto. Li outro dia num site que muitas pessoas dizem ter fobia de barata, mas que tudo não passa de balela e a verdade é que as pessoas sentem apenas asco do bichinho. Mentira! Pois nessa mesma matéria, lá no finalzinho, o autor explicava que para se ter fobia total de barata, o indivíduo deveria apresentar um sentimento desproporcional, absurdo (já me senti a própria doente) - e além de tudo, a pessoa enquadrada nesse perfil, costuma reagir com falta de ar, palpitação, mãos frias e todas essas coisas que eu costumo sentir... Dizem também que o fóbico por baratas simplesmente não dorme enquanto não tiver certeza absoluta de que não existe nenhuma viva em sua casa, pois caso saiba de alguma, esta, por sua vez, precisa estar mortinha, bem matada e bem morrida.
Admito que tenho um histórico meio bizarro com isso. Uma vez em casa estava sozinha, quando logo avistei uma dessas safadas. Pra quê! Comecei a ter aquele meu ataque histérico e insano e me pus a gritar um monte de palavrões desordenados: sua puta, safada, desgranhenta, morfética, vagaranha, perdeu a mãe na zona, cachorra, quer dizer barata...
Elas realmente me tiram do sério!
O primeiro passo que ela deu para debaixo da mesinha do telefone, dei um salto mortal para esquerda; conseguindo contorná-la, de olhos fechados, claro. Abri a porta, daquele jeito imbecil, dando muitas voltas nas chaves, seguido daquele movimento repetitivo na maçaneta. Resumindo: a porta demorou pelo menos 3 vezes mais do que deveria para abrir mas tudo bem. Sofro de fobia com baratas. Reajo assim e tenho dito.
Enfim. Abri a porta. Saí para o corredor e a fechei. Parei, olhei para os dois lados do corredor e como já era quase meia noite e meia, tentei verificar quais apartamentos estavam iluminados por debaixo da porta. Tudo isso foi muito rápido e apertei a campainha dos vizinhos da frente, pois ouvi um barulhinho de televisão ligada.
- Oi, vizinho, boa noite! Desculpe incomodar, mas sabe como é... Noite quente, veraozão... TEM UMA BARATA NA MINHA SALA!!! Você pode matá-la pra mim?
- Claro, claro, onde está? Posso entrar? - Está ali, ali ó!!! Vou ficar do lado de fora e quando você matar, pode jogá-la na privada e dar a descarga pra mim?
- Ok!
- Deus te abençoe, meu filho! Boa noite!
Esse é meu jeitinho de lidar com tal situação. Outra vez chamei o marido da síndica, que eu sempre desconfiei que era veado, que por sinal tirou a maior onda da minha cara, desacreditando no meu pavor; mas matou a baratinha. É, vai ver no fundo no fundo, ele não gostava mesmo de baratas... Se é que você me entende caro leitor...
Aproveitando o gancho, falando de veados e fobias... Tenho uma amiga que morre de medo de se apaixonar por um gay. Pode? Fobia mesmo. A primeira coisa que ela pergunta é: Meu bem, você é hétero?
Cada um com seus medos e fobias. Pode ser de uma inofensiva lagartixa ou um delicioso horário de verão. Medo de abismos, precipícios, medo de morrer, de tomar banho, horror exagerado à escuridão, medo de altura, de lugar aberto e alto ou até medo de vomitar (quando se viaja de avião) e claro, medo da falta de ter medo.
Pois é, caríssimos, o importante é assumir a sua fobia e não surtar. Porque elas com certeza existem e são injustamente inexplicáveis.
Quem é a colunista: Carolina Marçal, mutável e total do bem.
O que faz: é publicitária, ama viajar, ler e escrever.
Pecado gastronômico: chocolaaaaaaaaate!
Melhor lugar do Brasil: qualquer um onde eu possa ver as estrelas.
Fale com ela: [email protected] ou acesse seu blog.
Atualizado em 6 Set 2011.