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Ser Campeão Paulista já não deveria representar muita coisa na história do Corinthians, time que mais vezes venceu a competição. Mas esta 26ª conquista teve um sabor especial para o torcedor corintiano. Não apenas por ser a primeira vez, desde os anos 70, que o dono do caneco sai invicto, sem uma derrota sequer. A vitória coroa um processo de recuperação pelo qual o Corinthians vem passando desde o final de 2007, ano em que atingiu o fundo do poço, ao ser rebaixado para a Série B do Brasileiro.
Para boa parte da torcida, o símbolo do resgate da autoestima do Corinthians foi a vinda do atacante Ronaldo. O jogador chegou ao clube no final de 2008, com muito barulho e muita desconfiança. Estreou só na metade final do campeonato e já saiu fazendo gol decisivo e contra o arquirrival, empatando de cabeça, aos 47 do segundo tempo, contra o Palmeiras. Cresceu ainda mais nas finais, marcando gols decisivos contra São Paulo e Santos - com direito ao gol antológico de cobertura na Vila Belmiro, que arrancou palmas de Pelé.
Mas o começo do resgate começa antes, bem antes. Começa depois do Paulistão de 2003, acumulou maus resultados, times horrendos e viu seu nome estampado nas páginas policiais. Em 2004, chegou a ser ameaçado de rebaixamento no Paulistão. No torneio nacional, já havia passado raspando em 2006, antes de cair de vez em 2007. No meio disso tudo, há o título nacional de 2005, glória que veio junto um conjunto de problemas.
O time foi montado com dinheiro de uma parceria firmada com a MSI, representada pelo iraniano Kia Joorabchian. Foram milhões gastos em contratações, especialmente a do atacante argentino Carlos Tévez. Vieram denúncias: a empresa foi acusada de usar o clube para lavagem de dinheiro da máfia russa, do magnata Boris Berezovsky. O escândalo estourou em 2006 e se arrastou por meses, destruindo o ambiente do clube.
A MSI deixou o clube com uma singela dívida de quase R$ 100 milhões, sem dinheiro para contratações e com um ambiente de trabalho esfacelado. É nessa situação que o time disputaria as últimas partidas do Brasileiro daquele ano. O final dificilmente poderia ser outro. Após o empate com o Grêmio em Porto Alegre, em 2 de dezembro, estava sacramentado fundo do poço corintiano.
O novo presidente Andrés Sanches (um dos homens de confiança de Kia, diga-se), contratou ainda em dezembro de 2007, o técnico Mano Menezes. Começava o resgate da autoestima. O time disputou a Segundona com um elenco modesto, mas batalhador e com alguns bons valores, como o zagueiro Chicão, o meia Douglas, o lateral André Santos e o atacante Dentinho. Passeou pela competição, com três derrotas, em 38 jogos disputados. No mesmo ano, bateu na trave na Copa do Brasil, derrotado pelo Sport na final - para delírio dos secadores.
Começou esse ano com o time planejado, sem trocar de técnico e com uma tranquilidade que há uns bons anos não se via no Parque São Jorge. E com a melhor surpresa dos últimos anos: Ronaldo. Agora, pela primeira vez em um bom tempo, o Timão disputa o Brasileirão e a Copa do Brasil, apontado como um dos favoritos. Negociou o maior conjunto de patrocínios da história do futebol brasileiro - algo perto de R$ 30 milhões - ainda que a camisa esteja parecendo um macacão de Fórmula 1.
Mano Menezes, aliás, merece um destaque. O estilo do treinador tem muito a ver com os bons resultados e, mais ainda, com o ambiente de paz que se instalou no Parque São Jorge. Que continue o bom trabalho.
A conquista do Paulistão 2009 foi o fim da longa via crucis corintiana, causada por anos de desmandos de dirigentes que usaram o clube para seu próprio favorecimento. Agora, parece haver uma vela no fim do túnel, mantida acesa por profissionalismo na condução dos negócios e trabalho duro no dia-a-dia. Há ainda problemas, mas o caminho parece estar sendo trilhado. Que continue assim. Ou, como canta a Fiel Torcida: "Não pára, não pára não pára!".
Leia a coluna anterior de Nicolau Soares:
O Timão subiu! E agora?
O que faz: Um dos autores do Futepoca (Futebol, Política e Cachaça).
Pecado gastronômico: Pastel de feita sabor Bauru e caldo de cana.
Melhor lugar de São Paulo: Mesa na calçada num boteco de esquina, que, segundo minhas fontes, é coisa só nossa.
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Atualizado em 6 Set 2011.