Guia da Semana



Muito se tem discutido sobre os erros de árbitros durante esta Copa do Mundo. Comentaristas indignados, torcedores raivosos, jogadores e técnicos furiosos. Às vezes, um erro do juiz se torna o ponto fundamental da análise de algumas partidas.

Tive a ideia de escrever sobre isso ao ver uma entrevista de João Havelange há alguns meses. Pra quem não sabe, Havelange foi presidente da FIFA (entidade máxima do futebol) por 24 anos. Assumiu em 1974 e foi o presidente responsável pela explosão de popularidade do futebol mundo afora, principalmente da Copa do Mundo. Se a Copa hoje é sinônimo de grandes investimentos e é um dos maiores eventos do esporte mundial, isso se deve muito ao trabalho de Havelange.

Numa entrevista a Silvio Luiz, uma frase me chamou a atenção: "A graça do futebol está no erro do árbitro".

É um esporte diferente dos outros. Um esporte imprevisível, onde tudo pode acontecer: Um erro do juiz, uma furada do zagueiro, um buraco no campo, um frango do goleiro, etc. Tudo pode mudar um resultado antes visto como imprevisível.

Quem diria que a Espanha, favorita à conquista da Copa, cabeça-de-chave e campeã europeia, perderia de forma tão melancólica para a Suíça?

O equívoco do juiz não é novidade em se tratando de Copas. Em 1962, por exemplo, Garrincha havia sido expulso na semifinal contra o Chile. Estranhamente, a súmula deste jogo não foi entregue e o gênio das pernas tortas foi liberado para jogar a final. Conta a lenda, que dirigentes brasileiros levaram o árbitro peruano Yamasaki para a noite, o embebedaram e o fizeram esquecer de entregar o documento. De qualquer forma, Garrincha jogou a final e o Brasil foi bi-campeão mundial.

Em 1966, um dos erros mais absurdos das copas ajudou a dar o primeiro (e único) título mundial à Inglaterra. A bola chutada por Hurst na prorrogação bateu no travessão e não entrou. A rainha inglesa, presente no estádio, teria ficado vermelha de vergonha se visse o replay, que mostra claramente que nem em cima da linha a bola tocou.

Já em 1982, na Espanha, um gol anulado erroneamente mudou o destino da competição. No primeiro jogo da seleção de Camarões, contra o Peru, um impedimento absurdo marcado pelo árbitro austríaco Wöhrer tirou o gol de Roger Milla (aquele mesmo!), que daria a vitória a Camarões e tiraria da competição ninguém mais, ninguém menos do que a Itália, a campeã daquela Copa.

O que dizer então da "mano de dios" de Diego Maradona, nas quartas de 1986? E os erros de arbitragem que tiraram Itália e Espanha da Copa de 2002, nos jogos contra a Coreia do Sul, que chegou até as semifinais graças a isso?

E o GOLAÇO do Luís Fabiano contra a Costa do Marfim? Será que daqui a 40 ou 50 anos vão deixar de mostrar esse lance espetacular, porque o jogador matou a bola na mão duas vezes?

Esses foram erros que sempre acontecerão pelo simples fato de que isso é futebol. Não consigo imaginar nosso querido esporte com cinco ou seis juízes em campo, com paralisações a cada lance duvidoso para olhar o replay. Sem polêmica, sem discussões, sem a graça de sair na rua no dia seguinte e tirar sarro do adversário, que perdeu o jogo com gol de mão e impedido.

Aos puritanos, sentados em suas poltronas de couro, nos estúdios com ar condicionado, água gelada e cafezinho com biscoitos, aconselho a pegar um par de chuteiras e ir pra qualquer campinho por aí bater uma bola. Ali também não vai ter replay, não vai ter sensor na bola, nem tira-teima.

Se não gostam de esporte assim, como ele é e sempre foi, que vão assistir outro diferente, como Tênis por exemplo. Lá há três juízes, replay com computador, uma bola e só dois atletas. É mais fácil.

Caio Calazans(@cabrito13) trabalha na área de softwares, estuda jornalismo e étorcedor apaixonado, que frequenta estádio desde criança, admirador dofutebol arte, do futebol força, da pelada com os amigos e até do jogo debotão

Atualizado em 12 Fev 2014.