As noites do final de semana ganharam, literalmente, um novo colorido. Mesmo quem se negue a ligar a TV em pleno sábado à noite, se rende às frases "Ai, como eu tô bandida" e um inconfundível "Eu, hein" ou "Tá no cutuque" falados pela mais nova queridinha do programa Zorra Total, na TV Globo, a transexual Valéria. Interpretada pelo ator Rodrigo Sant´Anna, ao lado de sua parceira de longa data Thalita Carauto, a esquete Valéria e Janete faz parte do quadro Metrô Zorra Total do humorístico e faz sucesso na telinha.
A atração começou há cerca de dois meses, a princípio com quatro minutos de duração. Hoje, a dupla fica no ar por quase 15 minutos e a grande responsável por isso é a audiência crescente. Antes, o primeiro bloco do programa registrava picos de 21 pontos no ibope. Agora, com a travesti e sua amiga, o quadro bate, em média, 25 pontos de audiência, recorde da atração. Tamanha repercussão indica, inclusive, que os dois podem ganhar um programa exclusivo na TV Globo.
Amigos há muito tempo, a dupla faz sucesso também no quadro de Lady Kate (Katiuscia Canoro), como os atrapalhados Admilson e Clarete, personagens também vindos do teatro, onde protagonizam o espetáculo Os Suburbanos, com direito a Valéria, Janete e tudo mais.
Na correria das gravações, Rodrigo Sant´Anna tirou um tempo da agenda para falar mais sobre esse sucesso no quadro da transexual e afirma que o pretende inovar sempre, para que a atração não caia na rotina. Confira!
Guia da Semana: Como surgiram os personagens Valéria e Admilson?
Rodrigo Sant´Anna: Eu venho de uma realidade de subúrbio e a maioria desse universo, desses personagens, faz parte da minha história. Eu absorvi muita coisa do cotidiano de onde eu vivia e canalizei tudo isso nas figuras que faço no programa. O Admilson veio antes da Valéria, mas os dois são mesmo grandes reflexos da minha vivência.
Guia da Semana: Você se inspirou em alguém para compor os trejeitos, as frases clássicas como "Como eu tô bandida" e o visual?
Rodrigo: Não existe alguém específico que eu tenha me inspirado. Foi mesmo uma junção de fatores e coisas que me levaram a compor os dois personagens. Nasci no Morro do Macaco, Vila Isabel, depois fui morar em Quintino. Foi uma criação como um todo e eu mesmo que os bolei assim.
Guia da Semana: O texto é escrito por você? E o improviso, inclusive com os figurantes no metrô?
Rodrigo: O texto da peça é feito por mim, mas no Zorra não. Existe uma equipe de roteiristas que faz as nossas falas. Temos uma abertura grande para criar. Rola um improviso total e a gente fica bem a vontade para fazer isso também. E, principalmente, para trazer coisas novas em cima de um roteiro que já foi pré-estabelecido.
Guia da Semana: Então há uma preocupação para que o quadro não caia na rotina?
Rodrigo: Existem todos os tipos de situações possíveis e imaginárias para que isso não aconteça. São realmente todas as preocupações (risos). O que fazemos é resguardar o trabalho da melhor maneira e já pensar em próximas ideias. Temos que estar atentos para criar sempre novas possibilidades, mas é algo que não podemos construir sozinhos, dependemos da produção do programa também.
Guia da Semana: Você já participou do elenco de A Turma do Didi e depois foi para o Zorra. Após a TV, qual a maior mudança na sua vida?
Rodrigo: Acredito que tenha me dado uma segurança maior. A TV proporciona uma estabilidade financeira, uma visibilidade maior. Você consegue ampliar os trabalhos, no sentido de ser mais visto, isso é uma das grandes diferenças. A experiência acrescenta. Eu falo que o momento em que eu mais sinto a força da televisão é quando chego ao teatro e vejo que está lotado.
Guia da Semana: Você e a Thalita Carauta trabalham juntos há um tempo. Como começou a parceria?
Rodrigo: No espetáculo Os Suburbanos, de onde vieram os personagens, eu que dirigi. Agora no espetáculo solo é ela que me dirige. É uma parceria que vem de um tempo. Nos conhecemos em um curso de teatro e, desde então, rolou uma afinidade. Nos tornamos grandes amigos e todo o sucesso que temos no trabalho é um reflexo da nossa relação na vida. Fizemos o projeto do metrô juntos, para a peça, e chegou no Zorra.
Guia da Semana: Tem receio de ficar marcado por algum personagem?
Rodrigo: Antes mesmo da Valéria eu já tinha o Admilson, um personagem de grande apelo popular e que faz parte de um universo diferente do dela. Diante dessa realidade eu me tranquilizo. Agora é pensar em um próximo com a mesma qualidade e continuar interpretando.
Guia da Semana: Quando decidiu se tornar ator?
Rodrigo: Sempre fui muito tímido. Com 18 anos comecei a fazer para me desinibir, fui entrando cada vez mais na área e me apaixonei.
Guia da Semana: Os vídeos da Valéria no YouTube são sucesso. Acredita que a repercussão do quadro se deve ao fato do Brasil estar passando por algum tipo de mudança em relação à homossexualidade?
Rodrigo: Acho que isso sempre foi retratado nos quadros do Zorra, com outros personagens, inclusive. Não vejo como uma aceitação maior. Principalmente no humor, os personagens gays sempre tiveram uma aceitação e a Valéria é mais um para complementar esse quadro.
Guia da Semana: Há muitas vertentes do humor atualmente, inclusive com a chegada do stand-up. Você já sofreu algum tipo de preconceito por interpretar personagens mais caricatos?
Rodrigo: Nunca houve resistência. Eu acredito que toda forma de humor é válida. Se tem qualidade não importa o meio, o veículo, o estilo. O humor sempre teve uma restrição no sentido das pessoas não respeitarem como uma arte igual as demais. Mas em contrapartida, é o meio onde as pessoas mais recebem carinho. Não sei dizer se estamos mais evoluídos ou não.
Guia da Semana: Quais suas referências no gênero?
Rodrigo: Como um trabalho, na questão de tipos, o Chico Anísio é genial. Agora, como gosto muito de escrever e dirigir, enxergo no Miguel Fallabela uma grande admiração.
Guia da Semana: Pensa em trabalho futuros que envolvam outras áreas, tipo cinema?
Rodrigo: Eu não fecho as portas para nenhuma área e quero mesmo é trabalhar.
Atualizado em 10 Abr 2012.