Já se foi o tempo em que filme infantil era sinônimo de filme ingênuo, com tramas previsíveis e personagens estereotipados. As crianças sempre tiveram, é claro, algumas boas opções nos cinemas e em Home Video, mas, na última década, a tendência de lançar filmes para filhos e pais, com a inocência do infantil e a complexidade do adulto, vem dominando o mercado.
O Guia da Semana selecionou alguns dos melhores longas-metragens (a maioria de animação) criados para crianças, mas que também deixam muitos adultos maravilhados. Confira:
A Fantástica Fábrica de Chocolate (1971)
Willy Wonka é um ícone do imaginário infantil e adulto desde o livro de Roald Dahl, de 1964. O filme de 1971 capta o espírito irônico e levemente aterrorizante do personagem, na pele de Gene Wilder, ao mesmo tempo em que oferece aquele deslumbre infantil sobre um lugar fantástico e cheio de segredos.
Quero Ser Grande (1988)
Adorado por crianças, adolescentes e adultos, o filme com Tom Hanks apela para um dos sentimentos mais universais que existem: o de inadequação. O protagonista é uma criança que se sente mais adulta do que é tratada, mas, quando transformada magicamente, descobre ser apenas uma criança presa num corpo adulto.
O Estranho Mundo de Jack (1993)
A animação com influências expressionistas criada por Tim Burton (mas dirigida por Henry Selick) tem o apelo musical de filmes infantis e mostra diferentes mundos fantásticos inspirados nos feriados de Halloween, Natal e Páscoa, o que desperta a curiosidade dos pequenos. Os personagens e seus conflitos, porém, são complexos e macabros o suficiente para prenderem a atenção de qualquer adulto.
O Rei Leão (1994)
Qualquer um dos “grandes clássicos da Disney” poderia entrar nesta lista, mas O Rei Leão é o mais maduro deles. Seja tratando da morte sem rodeios, ou mostrando os efeitos da tirania de Scar, o filme tem seu lado sombrio que contrasta com o colorido da selva de Timão e Pumba. A história, que explora relações de poder, é derivada direta de um clássico da literatura shakespeareana: O Rei Lear.
A Viagem de Chihiro (2001)
Se, de um lado, estão os clássicos da Disney, do outro estão os clássicos do estúdio Ghibli. A Viagem de Chihiro foi o maior sucesso ocidental entre as animações de Hayao Miyazaki e ajudou a popularizar a forma japonesa de contar histórias infantis: tratando fantasia com naturalidade, respeitando a curiosidade da criança e ensinando valores como generosidade e respeito aos mais velhos e à natureza. No filme, Chihiro vê seus pais se transformarem em porcos durante uma mudança e vai trabalhar para uma bruxa a fim de salvá-los.
Ratatouille (2007)
Desde Procurando Nemo (2003), a Pixar foi se especializando em animações “adultas”, voltadas para pais e filhos. Os Incríveis (2004) deixou essa linha ainda mais forte e, em 2007, veio Ratatouille. O longa, ambientado em Paris, tem uma sutileza até então inédita em animações ocidentais, tanto visualmente quanto no conteúdo, e deixou os adultos de olhos cheios d’água. O filme conta a história de um rato apaixonado por gastronomia, que faz amizade com um humano e passa a trabalhar às escondidas num restaurante.
Wall-E (2008)
Logo depois de Ratatouille, a Pixar lançou outro filme que ficaria marcado como um dos melhores da década – infantis ou não. Em Wall-E, um robô trabalha juntando o lixo numa Terra abandonada, quando conhece outra robô, que busca sinais de vida (uma planta) naquele solo. Os dois vão para uma nave espacial onde, descobrimos espantados e envergonhados, vivem o que sobrou dos humanos – sedentários e infantilizados. Um tapa-na-cara dos pais com lições essenciais para os filhos.
Mary e Max (2009)
Neste stop-motion australiano, a pequena e tímida Mary se corresponde por cartas com o grandalhão Max – um homem com síndrome de Asperger. Mostrando a doença no dia-a-dia, com um humor trágico, o filme atinge uma maturidade excepcional. Os temas do longa ainda passam por amizade, confiança e consequências de pequenos atos.
Up! Altas Aventuras (2009)
O ponto alto da trajetória “adulta” da Pixar foi o lançamento de Up! Altas Aventuras. O filme tem um protagonista idoso e viúvo, o que já o diferencia do padrão infantil (apesar de haver uma criança ao seu lado). Além disso, ele discute sonhos, natureza, amizade e o valor da vida e do tempo. Para chorar como um bebê.
Como Treinar o Seu Dragão (2010)
O primeiro filme do que promete ser uma longa franquia colocou a Dreamworks no radar da Pixar e da Disney. Como Treinar Seu Dragão tem um forte apelo pacifista e algumas escolhas muito modernas em comparação aos seus concorrentes: o herói, Soluço, luta pela paz entre homens e dragões e sempre prefere o diálogo à luta. Ele e seu companheiro, Banguela, tornam-se deficientes físicos (e isso é tratado com honra e humor). Além disso, no segundo filme há duas personagens femininas fortes e um terceiro personagem se revela homossexual.
O Mundo dos Pequeninos (2010)
Outro fruto do estúdio Ghibli (mas não de Miyazaki), O Mundo dos Pequeninos mostra uma família minúscula que vive escondida numa casa de campo, usando a comida e os recursos de uma família humana. Quando Arriety, uma pequenina, é vista por um garoto humano, sua raça é colocada em risco e eles precisam fugir por uma causa maior – mesmo que isso signifique nunca mais ver um amigo.
Toy Story 3 (2010)
O último filme da trilogia é, de longe, o mais maduro. Depois de conhecermos os brinquedos de Andy e sentirmos a chegada de novos bonecos, é hora de doar toda a turma para uma creche. Longe do dono, os brinquedos se sentem inseguros e traídos e sofrem o risco, até, de serem destruídos. Quem não sentiu aquela ponta de culpa?
Universidade Monstros (2013)
A vida universitária pode não fazer muito sentido para uma criança, mas, da forma como Universidade Monstros a coloca, é impossível não se divertir. O filme conta como Mike e Sulley se conheceram – primeiro como rivais e, só depois de muitas desavenças, como melhores amigos. A trajetória vai fazer muito marmanjo lembrar de seus antigos colegas.
Frozen (2013)
Jogada para escanteio nos últimos anos, a Disney reafirmou seu valor com Frozen, no final de 2013. Explorando a tradição da casa – princesas, contos de Grimm ou Andersen, canções marcantes – o estúdio conseguiu renovar sua imagem e colocou em cheque seus antigos clichês, como o amor à primeira vista e os papéis de vilão, mocinho e mocinha. O filme conta a história de duas irmãs, cuja mais velha tem o poder de transformar o que toca em gelo. Quando ela, acidentalmente, lança seu poder contra o povo e se isola num castelo, a mais nova parte para resgatá-la.
Uma Aventura LEGO (2014)
Se a maior parte de Uma Aventura LEGO é um filme infantil com sacadas adultas, os últimos poucos minutos são um recado exclusivamente para os pais. O filme conta a história de um boneco de LEGO igual a todos os outros, que vive uma vida controlada pelo governo, até que é confundido com o herói de uma profecia.
Por Juliana Varella
Atualizado em 23 Out 2014.