Foto: Stck.Xchng |
Parecia um sonho, o cenário era uma praia com areias brancas e sem nenhum vestígio de palitos de sorvete, o mar era cristalino, as pessoas educadas, alegres e dançantes ao som de uma trilha sonora, já que não havia nenhum aparelho de som por perto, todos se conheciam e sabiam muito bem a coreografia, os figurinos eram impecáveis, assim como seus modelos; biquínis, maiôs e sungas (uau, sungas! Há quanto tempo você não vê um homem usando uma?!) em cores que se harmonizavam tanto, que pareciam que tinham sido combinadas; a chuva não era algo anunciado pelo céu, acho que eles devem ter subornado São Pedro, as nuvens não tinham cores porque não apareciam.
Barrigas? Cabelos despenteados (afinal, é algo comum usar chapinha antes de ir pra praia, não é?)? Crianças choronas e perdidas? Bolas e bolinhas voadoras? Bebidas quentes? Vendedores chatos? Repentistas mais chatos ainda? Comidas de procedência altamente duvidosa? Nada disso podia ser visto, não porque não existiam, mas porque eram ignorados.
Aonde vi isto? Não, não foi em uma das minhas terríveis noites de sono neste início de verão (tentem dormir sem ar condicionado, quando lá fora faz mais ou menos 30º!), e sim, nas tardes ociosas das férias de dezembro, mais precisamente, num comercial de cerveja na TV!
Todos parecem comemorar a chegada desta maravilhosa estação: a época das chuvas ocasionais, do calor irremediável, dos preços irreais, das pessoas ardidas e do trânsito infernal (chegou, uhu!). Não quero parecer rabugenta, mas, passar o verão em uma cidade litorânea turística, seja como moradora ou como visitante, não é exatamente como o sonho acima, ou as propagandas espalhadas por aí.
Antes de tudo, aprende-se, (muito bem, para falar a verdade) no litoral paulista, que calor não é sinônimo de sol; o tempo desta época do ano é bastante indefinido, chove e faz sol no mesmo dia, em horários diferentes; às vezes, chove enquanto faz sol e vice-versa; há também o esplêndido tempo nublado, nunca se sabe quando irá chover ou não, o que, no final das contas, nos impossibilita de sair de casa, fato que nos leva ao número dois da "listinha": o calor!
Ficar dentro de casa, quando se tem televisão a cabo, internet, uns bons livros, cds (objetos que estão se tornando obsoletos, diga-se de passagem), pessoas legais pra conversar, pode ser bastante divertido; tudo isso é mais legal ainda quando não estamos suando o tempo inteiro, lógico. O calor faz com que a estadia dentro de uma casa sem ar condicionado seja quase como em uma sauna mista onde todos usam roupa e não tem horário para sair (isto porque não falarei aqui, por pura falta de espaço e de experiência, daqueles apartamentos de veraneio que mais de 10 pessoas dividem!); e mesmo para aqueles que têm ar condicionado, o resultado de tal estadia aparece no final do mês em forma da conta de luz!
E, pensando em altos valores, chego ao terceiro item da lista: os preços no verão. Turistas, contarei um segredinho para vocês (adoro segredinhos, mas que menina fofoqueira!): a água de coco não custa R$ 2,50 ou 3,00 normalmente, pelo menos não em cidades de praia, os vendedores aumentam descaradamente o preço para aproveitar a "nova" clientela; por causa da felicidade extrema e do deslumbre pelo local, os turistas se tornam presas fáceis para aqueles que querem explorar. O pior é quando os moradores locais têm que entrar na dança dos preços altos, como acontece no caso da água de coco, citada acima (para ser justa, não acho que nenhum dos dois, nem moradores nem turistas deveriam pagar um preço muito mais alto por algo que não merece!).
Falando em turistas e em pessoas felizes por estarem de férias, o quarto item da lista surge espontaneamente: aqueles que exageram no sol, os famosos camarões! A cor do verão, a cor do pecado, não pode ser atingida quando se toma sol sem nenhum protetor ou óleo de bronzear, e em apenas um dia! Este é um fato conhecido por todos os mortais-de-país-tropical da face da Terra; mesmo assim, o tempo passa, e sempre aparecem aqueles "seres" com a pele vermelha, quase em carne viva. Ok, atire a primeira pedra aquele que nunca exagerou no sol (e aquele que nunca experimentou alguma tática caseira para aliviar o ardido, eu particularmente usava água e maisena, sempre quis saber se mais alguém usava também!), mesmo assim, não tem como não sentir aflição ao ver tais pessoas passarem ao nosso lado na rua, ou ver quando nossos amigos ficam assim.
Aflição por aflição, se formos medir , aquela que sentimos quando estamos presos no trânsito do verão pesa muito mais; não é um trânsito regular, ou um trânsito típico de São Paulo, que já é muito estressante, é o trânsito de pessoas ardidas, num sol de rachar, na frente da praia, sem nenhuma vaga para estacionar; ou o trânsito de uma noite de 30º a procura de um bar aceitável e a céu aberto; ou, pior ainda, o trânsito de volta para casa, com o carro cheio de pessoas e malas, os vidros fechados por causa da garoa e do tempo indefinido. Conseguiram imaginar?
Bem, claro que o verão não é igual aos nossos sonhos, ou a comerciais de TV; claro que o verão não é redondo, cheio de modelos, com praias limpas e com o calor aceitável; claro que a estação irá voltar ano que vem, por isso temos que saber como lidar com ela, eu, por exemplo, guardo dinheiro para ver se passo próximos dezembro, janeiro e fevereiro na Sibéria, e vocês?
Quem é a colunista: Camila de Lira.
O que faz: Estudante de Jornalismo.
Pecado gastronômico: Brigadeiro de colher à meia-noite.
Melhor lugar do Brasil: Duas cidades: Santos e São Paulo!
Fale com ela: [email protected]
Atualizado em 6 Set 2011.