É bastante incômodo assistir a uma discussão de relacionamento na tela expandida do cinema. Principalmente, quando enxergamos nos personagens um pouco de nós mesmos e nos vemos em suas expectativas frustradas, como acontece em “Força Maior”, longa do sueco Ruben Östlund que estreia neste mês.
O filme pode ser falado numa língua incompreensível ou encenado num ambiente branco e nevado, mas os conflitos, as trocas de olhares e as expressões de decepção são as mesmas em qualquer lugar do mundo. Como a expressão de Ebba (Lisa Loven Kongsli) diante das fotos de família tiradas no início da viagem de férias, numa estação de esqui: para as crianças, suspiros de orgulho; para o marido, um silêncio cheio de reticências. Por quê?
A resposta não é simples. Tomas (Johannes Kuhnke) não é nenhum caso perdido: pode ser que trabalhe demais, mas faz o que pode para aproveitar a viagem, sendo atencioso com a esposa e se divertindo com os filhos. Mesmo assim, ela faz questão de alfinetá-lo diante de estranhos - “Estamos viajando para que ele fique um pouco com a família, para variar”, comenta distraidamente. Cá entre nós, quem aguentaria?
Pois o estopim que faltava nessa guerra silenciosa chega na forma de uma avalanche. Durante um almoço ao ar livre, uma massa de neve se desprende da montanha e rola, massiva, na direção do restaurante. Ebba fica paralisada, esperando de Tomas uma ordem de retirada; Tomas, por sua vez, só admite o perigo quando é tarde demais – e comete então seu crime inafiançável: sai correndo sozinho, sem crianças, sem esposa, sem dignidade.
A avalanche acaba se revelando mais um susto do que um perigo real, mas, para aquela família, a neve levara tudo. O que se segue pelo resto do filme são as tentativas mais embaraçosas possíveis de diálogo – culminando numa discussão completa diante de um casal de amigos, no quarto do hotel.
Quem assiste a todo esse teatro questiona o tempo todo as atitudes dos protagonistas: por que eles não conversaram sozinhos? Por que não se perdoam? Por que ele não admite seu erro e pede desculpas? Bem, o que parece fácil muitas vezes se revela impossível quando envolve orgulho.
Östlund captura com realismo as diferenças de comportamento entre homens e mulheres num relacionamento (eles, por exemplo, preferem se expressar fisicamente, enquanto elas precisam conversar), mas deixa-se cair em alguns estereótipos fáceis (como quando afirma que a infidelidade é um instinto masculino ou que a maternidade é uma obrigação feminina).
O filme prende o espectador em diversos momentos de tensão, mas torna-se cansativo nos minutos finais, chegando a usar duas sequências longas para passar a mesma mensagem. Ao fim, o espectador sai da sessão exausto, como se tivesse enfrentado uma DR de verdade. Por garantia, não vá acompanhado.
Por Juliana Varella
Atualizado em 2 Mar 2015.