Ali combinávamos festas, ficávamos de olho nos meninos do basquete e da natação, ríamos muito, contávamos fofocas. Enfim, ali contruíamos nosso Msn ao vivo. Debaixo do sol, cansadas de tanto treinar, alegres com mais um campeonato estadual recém-conquistado.
Percebo uma grande preocupação com a saúde dos nossos filhos. Sempre houve, mas o olhar sobre a dupla obesidade + inércia tem se intensificado devido, logicamente, ao estilo de vida imposto a nós mesmos. Sentamos ao computador, na frente da TV, para ler, para dirigir, jogar videogame. E nossos filhos também. E os índices de obesidade sobem.
Para combater essa realidade, o binômio alimentação adequada + exercícios físicos se impõe. Não tem outro jeito, a criançada tem que voltar a fazer o que as crianças sempre fizeram: pular, pular, correr e pular de novo. Mesmo que tudo seja mais complicado hoje, é preciso, por questões de saúde física e mental, que os pequenos tenham atividades físicas. Não vou entrar nos detalhes dessas questões porque eles são óbvios e bastante explorados por artigos médicos.O que quero reforçar é que praticar esportes é diferente de fazer exercícios. E tão melhor.
O esporte não apenas alimenta o corpo de endorfina e faz bem à saúde. Ele ensina a criança a conviver em grupo diante de situações desafiadoras. E, nesses momentos de desafio, é possível aprender uma série de lições. A criança aprende a perceber suas próprias fragilidades e a respeitar as fragilidades do outro - ninguém é excelente atacante e goleiro ao mesmo tempo. Da mesma forma, a criança aprende a celebrar suas conquistas e a perceber que suas vitórias também são fruto do esforço de um grupo. Assim como as derrotas. A noção de responsabilidade, e não de culpa, vem à tona e está presente em todos os momentos de um treino ou de uma competição.
Mas uma das melhores contribuições do esporte para a formação de uma criança é que a prática ensina a lidar com as frustrações. De uma maneira incrivelmente saudável e natural. Ela aprende que há um melhor atacante no grupo, que o saque da Paula é melhor do que o dela, mas que é possível treinar e aprimorar o seu, que o Pedro é o melhor goleiro, que naquele dia não foi possível marcar o gol de falta... Mas sempre há uma chance no dia seguinte, contanto que haja persistência, objetivos, tolerância e.. bom humor.
Ainda assim, o esporte ensina duras lições sobre frustrações, que nunca saíram da minha memória e que tornaram mais fácil para mim lidar com outras frustrações que tive pela vida . Uma delas é que, por mais que você treine, seja compenetrado e aplicado, você pode não chegar a se tornar o grande esportista que imaginava ser. Ou jamais conquistar o tão almejado campeonato.
E tudo bem, mesmo assim. Porque a delícia do esporte é a prática, não a taça.
Leia as colunas anteriores de Milena Fischer:
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Quem é a Colunista: Milena Fischer, 35 anos, mãe da Manuela, seis anos, e editora-chefe do Guia da Semana para Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
O que faz: mãe em tempo integral (mesmo quando o tempo não permite), é jornalista, escritora e tenista amadora.
Pecado Gastronômico: cheesecake, sempre.
Melhor lugar do mundo: onde eu estiver com a Manu.
O que está ouvindo no rádio, mp3 e iPod: Paul McCartney.
Fale com ela: pelo e-mail [email protected] ou a siga no twitter (@milenafischer).
Atualizado em 6 Set 2011.