Guia da Semana

Sempre amei os esportes. Gosto de ver, de praticar, de torcer. Muito cedo fui jogar voleibol na Sogipa, onde passei alguns dos anos mais faceiros da minha pré-adolescência e adolescência. Na ausência de redes sociais digitais, nossa rede era o clube mesmo.

Ali combinávamos festas, ficávamos de olho nos meninos do basquete e da natação, ríamos muito, contávamos fofocas. Enfim, ali contruíamos nosso Msn ao vivo. Debaixo do sol, cansadas de tanto treinar, alegres com mais um campeonato estadual recém-conquistado.

Percebo uma grande preocupação com a saúde dos nossos filhos. Sempre houve, mas o olhar sobre a dupla obesidade + inércia tem se intensificado devido, logicamente, ao estilo de vida imposto a nós mesmos. Sentamos ao computador, na frente da TV, para ler, para dirigir, jogar videogame. E nossos filhos também. E os índices de obesidade sobem.

Para combater essa realidade, o binômio alimentação adequada + exercícios físicos se impõe. Não tem outro jeito, a criançada tem que voltar a fazer o que as crianças sempre fizeram: pular, pular, correr e pular de novo. Mesmo que tudo seja mais complicado hoje, é preciso, por questões de saúde física e mental, que os pequenos tenham atividades físicas. Não vou entrar nos detalhes dessas questões porque eles são óbvios e bastante explorados por artigos médicos.O que quero reforçar é que praticar esportes é diferente de fazer exercícios. E tão melhor.

O esporte não apenas alimenta o corpo de endorfina e faz bem à saúde. Ele ensina a criança a conviver em grupo diante de situações desafiadoras. E, nesses momentos de desafio, é possível aprender uma série de lições. A criança aprende a perceber suas próprias fragilidades e a respeitar as fragilidades do outro - ninguém é excelente atacante e goleiro ao mesmo tempo. Da mesma forma, a criança aprende a celebrar suas conquistas e a perceber que suas vitórias também são fruto do esforço de um grupo. Assim como as derrotas. A noção de responsabilidade, e não de culpa, vem à tona e está presente em todos os momentos de um treino ou de uma competição.

Mas uma das melhores contribuições do esporte para a formação de uma criança é que a prática ensina a lidar com as frustrações. De uma maneira incrivelmente saudável e natural. Ela aprende que há um melhor atacante no grupo, que o saque da Paula é melhor do que o dela, mas que é possível treinar e aprimorar o seu, que o Pedro é o melhor goleiro, que naquele dia não foi possível marcar o gol de falta... Mas sempre há uma chance no dia seguinte, contanto que haja persistência, objetivos, tolerância e.. bom humor.

Ainda assim, o esporte ensina duras lições sobre frustrações, que nunca saíram da minha memória e que tornaram mais fácil para mim lidar com outras frustrações que tive pela vida . Uma delas é que, por mais que você treine, seja compenetrado e aplicado, você pode não chegar a se tornar o grande esportista que imaginava ser. Ou jamais conquistar o tão almejado campeonato.

E tudo bem, mesmo assim. Porque a delícia do esporte é a prática, não a taça.

Leia as colunas anteriores de Milena Fischer:

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Quem é a Colunista: Milena Fischer, 35 anos, mãe da Manuela, seis anos, e editora-chefe do Guia da Semana para Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

O que faz: mãe em tempo integral (mesmo quando o tempo não permite), é jornalista, escritora e tenista amadora.

Pecado Gastronômico: cheesecake, sempre.

Melhor lugar do mundo: onde eu estiver com a Manu.

O que está ouvindo no rádio, mp3 e iPod: Paul McCartney.

Fale com ela: pelo e-mail [email protected] ou a siga no twitter (@milenafischer).

Atualizado em 6 Set 2011.