A Netflix nem deixou seus usuários se recuperarem da febre de “Stranger Things” e já colocou no catálogo uma nova série original chamada “The Get Down”, que está conquistando os corações de um público apaixonado por música e arte. Criada e dirigida por Baz Luhrmann (“Moulin Rouge”, “Romeu + Julieta” e “O Grande Gatsby”), a série narra o nascimento do Hip Hop a partir da história de um jovem poeta que, em meio à destruição do Bronx nos anos 70 e no auge da Disco Music, se alia a um DJ para transformar suas rimas em música e em protesto.
Se você está procurando uma nova série para mergulhar nas próximas noites, confira 6 motivos para colocar “The Get Down” no topo da sua lista:
1. História da música
Se você ama música, vai querer viver dentro de “The Get Down” para sempre. A série mostra o início do Hip Hop, mas também contextualiza o momento mostrando o sucesso da Disco Music (Donna Summer é uma referência para uma das protagonistas), a transformação da música gospel a partir de influências pop e a popularização do punk rock entre jovens da metrópole. O roteiro não se limita a expor esses movimentos musicais, mas também explora a concorrência e a troca de experiências entre eles, tanto sob a perspectiva da indústria quanto do consumo e produção independente.
2. Política e movimentos sociais
A história da música, em “The Get Down”, aparece intimamente conectada à história da política e dos movimentos sociais naquele contexto específico do sul do Bronx nos anos 70. Apesar da especificidade, essa história não parece tão distante da trajetória de qualquer periferia e de suas expressões artísticas – e o uso de imagens de arquivo aproxima ainda mais a ficção da realidade. A série mostra como um candidato à prefeitura branco e elitista, que associa a arte do gueto à criminalidade, alia-se a um líder local para ganhar votos em troca da promessa de reconstruir o bairro durante o seu período mais decadente.
3. Grafite e cultura underground
Além da música, também é forte a presença do grafite e de outras referências culturais da época – como os filmes de artes marciais (que inspiram toda uma simbologia junto aos DJs) e as HQs de super-heróis. Um dos protagonistas, interpretado por Jaden Smith, é um grafiteiro que circula pelos túneis ao lado de outros artistas para marcar carcaças de trens com mensagens inspiradoras. Nesse universo secreto, sempre escondido dos olhos públicos, existe uma cultura de territorialidade conquistada por meio de talento e respeito – assim como no nascente Hip Hop (que ainda nem tem esse nome).
4. Poesia
A série é contada pela perspectiva de Ezequiel (Justice Smith), um jovem brilhante que tem um dom com palavras e descobre que pode usá-las para fazer música, narrando histórias em forma de rap em festas secretas ou duelos de DJs. Por causa desse personagem, muitos diálogos têm uma cadência musical e são compostos como versos, ora discretamente, ora mais ostensivamente.
5. Espetáculo audiovisual
“The Get Down” não fala apenas de arte, mas explora a arte em sua composição. A trilha musical é quase sempre dançante e, em muitos momentos, a mixagem combina duas ou mais cenas embaladas por canções diferentes numa mesma batida, como se simulasse o trabalho do DJ (há apenas um episódio em que isso não funciona tão bem). Quanto ao design, a série explora uma paleta retrô, quente e vibrante, e envolve seus personagens em cenários visualmente explosivos – por todos os lados, há estampas, cartazes, texturas, globos espelhados, carros coloridos e artes em grafite. Já a câmera é ágil e abusa de enquadramentos expressivos, dando ao produto uma linguagem poética que remete a filmes de artes marciais, videoclipes e à própria obra de Luhrmann.
6. Sem preconceitos
Além de retratar a diversidade artística da época, a série também aborda a diversidade étnica e sexual, sem rodeios. Por se passar quase inteiramente numa comunidade porto-riquenha na periferia de Nova York, a maior parte dos personagens são negros ou pardos e seus cabelos se expressam em magníficos black powers. Além disso há, no elenco principal, pelo menos um personagem homossexual e, num episódio, parte da ação se passa numa balada gay, onde ocorre um concurso de Vogue (um estilo de dança inspirada em poses glamorosas popularizada anos antes da famosa interpretação de Madonna).
Por Juliana Varella
Atualizado em 30 Ago 2016.