Guia da Semana

É difícil não se ver na tela em “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho”. Afinal, quem nunca foi adolescente? Quem nunca amou alguém mesmo sem entender direito, sentiu ciúmes, quis fugir, teve raiva dos pais, dos amigos ou da vida? Quem nunca quis ser outra pessoa? O fato de Leonardo, o protagonista, ser cego, às vezes, pode se passar como um detalhe; ou até mesmo ao se descobrir gay, apaixonado pelo melhor amigo. A força do filme está em retratar os nossos mais puros sentimentos, aqueles desprovidos de qualquer distinção. Cego ou gay, no final das contas, pouco importa. É um pouquinho de todos nós que está ali.

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A história não foge muito do curta que deu origem ao filme, “Eu Não Quero Voltar Sozinho”, hoje com mais de 3 milhões de visualizações no Youtube. Leonardo e Giovana são melhores amigos, aparece Gabriel e as coisas mudam. Nascem aí novas emoções, novos dramas e amores, assim como eles tanto queriam. Três anos se passaram desde o primeiro lançamento. Os meninos cresceram e isso, agora, fica claro. Surgem novas tensões, principalmente sexuais. O desejo aparece aqui e ali, mesmo assim, retratado de forma leve e natural. Natural, aliás, é a palavra-chave da história.

O novo formato permitiu, entretanto, novas possibilidades. Adentramos mais a fundo na vida dos personagens com os quais já havíamos nos apaixonado. E nos apaixonamos de novo e de novo e de novo. A cada detalhe do filme, nos deparamos com uma nova sensação. É aquele sorriso bobo que se estampa no rosto ou aquela tensão gostosa do “e agora?”. E somos agradavelmente surpreendidos até o final.

Sim, Leonardo é cego e isso é crucial na história. Para o diretor, Daniel Ribeiro, um artifício. Tirar a visão do protagonista é dizer, literalmente, que o amor é cego. E é aí que está o cerne de “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho”. É a experiência de alguém que nunca enxergou da maneira que nós enxergamos. A visão, aqui, aparece em outras formas, em outros sentidos: quando Gabriel entra na sala pela primeira vez e a câmera foca no ouvido de Leo; quando as mãos se cruzam, sem querer; quando o cheiro do moletom esquecido significa mais do que a própria presença.

E para alguém que nunca viu um homem, tampouco uma mulher, o desejo se cria em cima desses detalhes, que vão muito, muito além das questões de gênero. O amor é puro e ponto. E é assim como ele aparece no filme e, na vida, para aqueles que têm a sorte de assim o sentir.

“Hoje Eu Quero Voltar Sozinho” estreia quinta-feira que vem, no dia 10 de abril.

Por Ricardo Archilha

Atualizado em 20 Mai 2014.