A experiência de sentir medo ao assistir a filmes de terror pode trazer efeitos benéficos para a saúde mental e física, comparáveis à sensação de euforia experimentada em atividades físicas intensas, como a corrida. Além disso, compartilhar esses momentos com amigos pode fortalecer os laços sociais, criando um vínculo emocional mais profundo.
Conforme afirma Sarah Kollat, professora de Psicologia na Universidade Estadual da Pensilvânia, para o portal O Globo, desde os tempos da adolescência, muitas pessoas associam o mês de outubro com as festas de Halloween e as casas tradicionais assombradas, que instalaram o famoso "susto controlado".
O entretenimento macabro se tornou uma verdadeira indústria: segundo a America Haunts, somente nos Estados Unidos, os fãs de terror gastam mais de US$ 500 milhões, cerca de R$ 2,8 bilhões, anualmente para viver essas experiências intensas.
Apesar do fascínio pelo medo parecer contraditório, especialmente em um mundo já repleto de tragédias reais, como guerras e desastres naturais, especialistas explicam que essas sensações de solo têm controladas suas vantagens. A psicologia evolutiva sugere que, ao simular situações ameaçadoras de forma segura, o cérebro se prepara para enfrentar perigos reais de maneira mais eficiente.
O prazer do medo controlado
De acordo com o jornal O Globo, quando o corpo é submetido a uma situação de medo, há uma liberação de adrenalina, que provoca reações físicas como o aumento da frequência cardíaca e da respiração. Esse processo, conhecido como "luta ou fuga", prepara o organismo para agir rapidamente diante de ameaças reais. Porém, ao experimentar o medo em um ambiente seguro – como ao assistir a um filme de zumbis –, a pessoa sente essa descarga de energia sem correr perigo.
Após o término da situação assustadora, o corpo libera dopamina, neurotransmissor responsável por sensações de prazer e ruptura. Assim, o medo controlado proporciona uma euforia semelhante à de um corredor após uma longa corrida, mas sem os riscos associados a ameaças de verdade.
Pesquisadores também descobriram que, após participar de experiências intensas, como visitas a casas assombradas, os níveis de ansiedade das pessoas diminuem, enquanto a atividade cerebral se torna menos reativa a estímulos estressantes. Isso pode explicar porque muitas pessoas escolhem filmes de terror como forma de relaxar depois de um dia estressante.
Medo e conexões sociais
Além dos benefícios individuais, o medo controlado também tem um papel importante na criação e fortalecimento de laços sociais. Passar por momentos intensos ao lado de amigos pode aumentar a sensação de pertencimento a um grupo, ajudando a apoiar a solidão, que hoje é considerada uma "epidemia" nos Estados Unidos.
Experiências de susto vívidas em conjunto, como em uma casa mal-assombrada ou durante a exibição de um filme de terror, ativam o sistema emocional de "proteção e amizade", no qual as pessoas tendem a cuidar umas das outras e criar redes mais fortes. Isso se deve à liberação de ocitocina, o "hormônio do amor", que aumenta durante essas vivências intensas.
Treinamento para o futuro
Outro ponto importante é o papel dos filmes de terror como uma forma de preparação para ameaças reais. Durante a pandemia de Covid-19, por exemplo, muitos recorreram a filmes como “Contágio” e “Epidemia” para processar o medo do desconhecido e se preparar psicologicamente para o que estava por vir.
Pesquisas mostram que aqueles que consomem mídia de terror regularmente são mais resilientes em momentos de crise. Eles desenvolvem uma espécie de "treinamento" emocional ao enfrentar o medo em um contexto fictício, o que os ajuda a lidar com situações reais de ansiedade e estresse de maneira mais eficaz.
Desta forma, ao explorar emoções poderosas e fortalecer vínculos sociais, os filmes de terror mostram que há um lado positivo no medo. Ele pode não apenas ajudar a lidar com as adversidades da vida, mas também promover um bem-estar emocional inesperado.
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Por Gabrielly Bento
Atualizado em 1 Nov 2024.