Guia da Semana

Blasphemous 2 é um jogo de aventura, no amado estilo metroidvania, desenvolvido pela The Game Kitchen e publicado pela Team17. Partindo de onde o último DLC do jogo anterior, Wounds of Eventide, parou, o título joga nosso amigo Penitente de volta no fogo para desbravar um novo mundo de miséria, morte e monstros nada amigáveis.

E aí, será que vale a pena encarar essa nova saga? É o que veremos agora, em mais uma análise antecipada do Pizza Fria.

Novas faces, velhas chagas

Olá novamente, leitoras e leitores incríveis deste maravilhoso site com nome de um popular alimento amado por todos e todas nesse país. Como nosso jogo da vez, Blasphemous 2 lida com a temática de desejos e punições, gostaria de começar nosso papo citando um trecho maravilhoso de um livro chamado Crime e Castigo, de nosso camarada Fiódor Dostoiévsky: “Aquele que tem sentimentos sofre reconhecendo o seu erro. É seu castigo, independentemente da prisão”. Interessante, não é? Pizza Fria também é cultura, amores.

Sob essa perspectiva, todos somos penitentes de alguma forma. Tal qual nosso protagonista, o Penitente. Uma das coisas que mais me interessou no primeiro jogo na série, e nesse agora, é toda a temática quase religiosa que permeia o jogo, desde o seu tema até o visual. Me lembro de pensar, na época de Blasphemous ainda ser novidade, que não me recordava de ter visto nenhum videojogo com essa temática, principalmente em se tratando de metroidvanias.

Falando nisso, vocês sabem o que é esse estilo mágico que amo tanto? Se bem me recordo o gênero caiu nas graças do público com o totalmente excelente Castlevania Symphony of the Night, e se resume a um jogo que pode, ou não, ter elementos de RPG misturado com plataforma e ação. Além disso, temos um mapa grande para explorar que se abre conforme adquirimos novas armas e habilidades. Ele pode ir de jogos em 2D, como o esse que estamos falando agora, até em terceira dimensão como o adorável Batman Arkham Asylum, por exemplo.

Blasphemous 2
Os visuais de Blasphemous 2 são bem maneiros. (Imagem: Divulgação)

Falemos da trama, agora. Blasphemous 2 acompanha o martírio do Penitente, o mesmo camarada que penou no jogo anterior e voltou para provar que pobre, infelizmente, não pode ter um momento de paz nessa droga. Ele foi acordado de seu sono de beleza para dar um fim em uma entidade chamada Milagre, um coração gigante no céu. Saquem só, essa coisinha adora realizar os desejos daqueles que a adoram. Mas, com algumas pegadinhas. Por exemplo, você deseja poder diminuir a dor dos que sofrem? Muito simples, tome metade da dor de todos no mundo no lombo. Prontinho!

Uma coisa que o título faz e sempre acho legal, muito comum nos jogos da FromSoftware (Dark Souls e família), é de contar sua trama através de um misto de descrições de itens, documentos, conversas com outros personagens e inimigos. Isso convida a imaginação e exploração, recompensando o jogador sagaz com uma compreensão mais profunda do que está acontecendo. Quando feito corretamente, fica muito interessante. Como foi o caso aqui, felizmente.

Uma outra coisa que Blasphemous 2 faz muito bem é criar uma atmosfera envolvente, ainda que opressora e deprimente em igual medida. O mundo em que o jogo se passa é uma tristeza só, e tudo – de inimigos até diálogos – constrói essa ideia com maestria e elegância. Em um título que se apoia no estilo narrativo que falei acima, pecar nesse ponto seria tenebroso.

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O braço longo é um dos vários NPCs que encontramos. (Imagem: Divulgação)

A jogabilidade de Blasphemous 2 é bem dentro do esperado no estilo, sem inventar muita moda e nem pisar na bola. Temos uma exploração em 2D, na qual devemos utilizar uma combinação de movimentos básicos, habilidades especiais e armas para chegar a cada cantinho do mapa que, por sua vez, possui um tamanho considerável. Isso é bom na maioria do tempo, menos em partes nas quais precisamos achar uma escadinha ou portinha para seguir com a trama. Essa dificuldade me causou um bom estranhamento em alguns momentos.

O combate é bem divertido, contando com uma boa quantidade de armas e magias. Ainda que possamos utilizar apenas armamentos 3 principais (uma espada balanceada, uma maça forte e lenta e duas espadinhas rápidas e fracas), eles são suficientemente únicos para garantir variedade e liberdade na hora da confusão. Levando em conta que esse é um jogo bem desafiador, usar o equipamento adequado é essencial. Não fossem algumas magias e melhorias, eu talvez nem teria passado de certos chefes.

Falando neles, devo admitir que são consideravelmente desafiadores. Principalmente nas dificuldades mais altas. Todos necessitam de um misto de conhecimento dos padrões de ataque, uma boa estratégia e rapidez nas reações. Felizmente, nesse caso, que não tenho o que reclamar dos controles. São precisos e respondem corretamente, sem nenhum movimento em falso. Todas as vezes em que morri foi por vacilo meu, mesmo.

E morrer iremos, várias vezes. Blasphemous 2 não pega leve conosco. Ao sermos derrotados recebemos uma penalidade em nossa mana, que diminui enquanto não recuperarmos nossa alma no local do falecimento ou pagarmos um NPC, que pode ser bem problemático. Mas, em contrapartida, isso traz outros benefícios como certas melhorias para o Penitente. Saber quando arriscar e quando recuperar dessa limitação é essencial para a vitória.

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O combate é bruto e divertido. (Imagem: Divulgação)

Também podemos equipar esculturas nas costas de nosso protagonista, que conferem uma série de habilidades e melhorias tanto para magias quanto para as armas. Liberamos mais espaços conforme o jogo avança, e colocar imagens com certas afinidades geram benefícios aumentados. Por fim, também podemos comprar novas habilidades que fortalecem o Penitente e aumentam seu poder ofensivo.

Outra coisa que achei bem legal foram as missões secundárias. Todos que encontramos tem algo para falar, e alguns deles podem nos pedir ajuda com questões que vão do mais simples até coisas complexas como encontrar X itens e depois derrotar Y oponentes. Ajuda a aumentar a vida útil do título, e também dá uma moral na hora de tornar nosso herói mais fortinho.

Contudo, Blasphemous 2 também me puniu na sanidade. Duas coisas que me deixaram bem ressabiado foram alguns problemas com a câmera e um bug que me prendia no lugar. O primeiro ocorre, geralmente, em lugares altos, nos quais o foco fica indo para cima e para baixo toda hora. Isso atrapalha bastante, além de ser chatinho. O segundo ponto foi o mais triste, pois fazia com que o Penitente se plantasse em um lugar e não andasse até eu morrer ou, muitas vezes, reiniciar o jogo. Nada legal no meio de um chefe chato que eu estava quase matando, após muitas tentativas. Que absurdo!

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Olha a labareda na cara. (Imagem: Divulgação)

Sons e Visuais em Blasphemous 2

Blasphemous 2, seguindo seu predecessor, possui visuais espetaculares. Não bastassem os modelos e cores, os cenários do jogo são de tirar o fôlego. Raramente vemos áreas com tanta personalidade e peso, principalmente em títulos que utilizam apenas duas dimensões. O pessoal do departamento visual está de parabéns, realmente.

A trilha sonora também não deixa a desejar, com canções que transmitem uma série de emoções -em toda amplitude- com sons de batalha e confusão que vendem muito bem a brutalidade do combate. Devo dizer que foi, ao lado de Final Fantasy XVI, uma das melhores experiências que tive esse ano, até o momento.

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Os visuais de Blasphemous 2 são bem maneiros. (Imagem: Divulgação)

Vale a pena comprar Blasphemous 2?

É chegado o momento mais complexo do meu cyber dia, leitores e leitoras. Repassar conceitos abstratos em valores numéricos. Oras pois, que seja. Resumindo o que falamos, Blasphemous 2 é um jogo muito bonito de se ver, com uma jogabilidade precisa e refinada. Além disso, temos uma trama cheia de atmosfera e um mapa bem maneiro de explorar.

Do outro lado da moeda, temos alguns momentos nos quais achar o lugar para onde ir fica confuso, e alguns bugs com a câmera e o terrível agarrador de Penitente conseguem dar uma magoada legal no jogador. Mas, tudo em tudo considerado, até que deu para levar de boa sem maiores desgraças e lamentações. Na maior parte do tempo, ao menos.

Por fim, digo que Blasphemous 2 é um jogo muito agradável, em todos os departamentos. Curti todo meu tempo com ele, e ouso dizer que talvez seja um dos melhores metroidvanias que joguei este ano, até o momento. Para os fãs do gênero, a recomendação é certa. Mas, até os desconhecidos deveriam dar uma chance. Acredito que irão curtir bastante.

Blasphemous 2 será lançado no dia 24 de agosto para PC, via Steam, Nintendo Switch, PlayStation 5 e Xbox Series X|S.

*Review elaborada em um Nintendo Switch, com código fornecido pela Team17.

Pizza Fria

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Por Matheus Jenevain, Pizza Fria

Atualizado em 16 Ago 2023.