Digimon World: Next Order é um JRPG, baseado na famosa franquia Digimon, desenvolvido pela B.B Studio e distribuído pela Bandai Namco Entertainment. O jogo nos coloca para realizar o sonho de um punhado de jovens dos anos noventa e além: ir para um mundo digital onde nossos digimons poderão ser campeões. Pegaram a referência? Meu Deus, como me sinto velho.
E aí, será que essa aventura vale o esforço financeiro e temporal? É o que veremos agora, em mais uma análise do Pizza Fria.
Digimons são campeões
Todos nós trazemos lembranças de decepções e alegrias em nossa vida, leitores e leitoras do meu coração. Um dia divertido com amigos, uma nota ruim em uma prova importante, um passeio em família, um boleto extremamente caro e inesperado para pagar. Seguindo essa linha, posso dar o exemplo das duas situações que Digimon World: Next Order me fez lembrar. A primeira, de que eu realmente curtia o desenho quando era novo, e os jogos para PS1. E, segundo, que nunca fui levado para o digimundo. Que droga.
Bom, ao menos temos o mundo mágico dos videojogos eletrônicos para nos permitir viver essas fantasias juvenis. Sejam elas de resgatar filhas de presidentes ou exorcizar o mal do mundo na base da bicuda e dos socões pesados. Já em nosso caso de hoje, o sonho é treinar nossos mons para que evoluam cada vez mais, mudando de forma e se tornando mais fortes e totalmente legais, caras.
Contudo, vale notar de antemão que a experiência que iremos ver aqui é bem diferente do que se esperaria daquele outro joguinho nipônico sobre treinamento de seres fofinhos para que sejam colocados em rinhas. Digimon World: Next Order também os coloca para brigar, não duvide, mas há um foco muito maior no desenvolvimento de nossos amigos virtuais e no controle de suas evoluções. Mas veremos isso logo a frente. Agora, falemos um pouco da trama.
No começo escolhemos nosso protagonista, o rapaz Takuto ou a moça Shiki, que costumavam gostar muito de digimon e até costumavam competir no cenário nacional. Um belo dia, por pura nostalgia, decidiram dar uma olhada em seu velho digivice. O que não esperavam era que o aparelhinho os transportariam para o mundo dos digimons (igual o anime), e veriam de perda a destruição causada por um Machinedramon enlouquecido.
Para evitar que o planeta de nossos queridos mons seja destruído, nossa heroína se une a outros humanos para enfrentar a ameaça dos Machinedramon e trazer um semblante de paz de volta ao digiuniverso. E, bem, é isso. A trama de Digimon World: Next Order é bem básica, e serve como uma motivação básica para entendermos como chegamos ali e o que temos que fazer. Se procurar por personagens multifacetados, complexidades e textos escritos com maestria pode acabar se arrependendo. Mas, de toda forma, é o suficiente para fazer com que nos sintamos assistindo um episódio da animação na hora do almoço e manter nossa atenção mais ou menos focada na tarefa em mãos.
O foco maior da experiência está em sua jogabilidade, que casa elementos de simulação, treinamento e exploração para criar um ciclo de jogo deveras interessante e ,se for sua praia, viciante. Vejam, ao chegar de cabeça no digimundo podemos escolher dois digimons para nos acompanhar. Eles estão em seu estágio inicial, e nosso treinamento e experiências irão ditar para o que irão evoluir.
Mas, ledo engano pensar que poderemos ir direto na evolução daqueles mons bolados do desenho. Não não, caros e caras. Precisamos treinar nossos monstrinhos de uma maneira bem específica para que eles possam chegar no estágio que queremos. É aí que entra uma parte repetitiva e essencial da experiência.
Logo no começo, estabelecemos a cidade de Flotila como nossa base de operações. Nela temos várias coisas como uma plantação de carne para nossos digimons, banheiros, e outras coisas que são liberadas conforme trazemos novos habitantes para ela. Contudo, um de seus pontos mais importantes é o ginásio de treinamento. Nele, podemos colocar nossos monstrinhos para treinar e aumentar seus atributos como vida, mana, força, resistência, e essas coisas. Cada valor pode ser aumentado além do normal se acertarmos um lugar específico em uma espécie de roleta que aparece sempre que utilizamos esse serviço. Um pequeno minigame para quebrar o marasmo da coisa.
Ter quantidades específicas de ponto em cada atributo, bem como de disciplina e elo de amizade digimon-treinador, faz com que nossos parceiros evoluam para diferentes monstrinhos de diversos tipos e habilidades. Parece confuso, não é? De fato, Digimon World: Next Order até tenta explicar os conceitos, e o tempo nos leva a entender um pouco mais. Mas é tanta coisa, com uma interface tão confusa, que não me surpreenderia se alguém simplesmente não tivesse a paciência necessária para tentar aprender todo esse rolê.
Além disso, também precisamos prestar atenção nas vontades de nossos mons. Eles estão felizes? Estão pedindo comida? Estão precisando usar o banheiro, estão doentes, sangrando ou frustrados? Tudo isso influencia na hora da evolução tão almejada, e precisamos ficar ligados se quisermos que eles se mantenham conosco e em bom estado para enfrentar os perigos do mundo.
De fato, notamos com facilidade que Digimon World: Next Order realmente dá um passo além no aspecto da simulação e cuidado dos nossos dois parceiros. Mas, isso traz o negativo de deixar essa faceta extremamente inchada e um tanto quanto confusa. Eu passei horas e horas nesse treinamento, antes de vir escrever esse texto, e admito que até agora não entendi direito como funcionam certos atributos e nem como meus digimons chegaram onde chegaram.
Outra coisa que também faremos muito é explorar os mapas, espaços pequenos interconectados, e brigar. Primeiro, é interessante notar que Digimon World: Next Order deixa com que andemos a nossa bela vontade, tendo apenas inimigos fortes como um lembrete pesado e caro de que não deveríamos estar ali. Eu achei isso um deleite, pois sou a favor de podermos ir onde quisermos contanto que consigamos derrotar os inimigos ou, ao menos, fugir deles.
Outra coisa que faremos muito é lutar. E, novamente, temos um sistema diferente do que vemos normalmente por aí. Saquem só, nossos mons lutam e se movimentam por conta própria na arena, atacando como e quem quiserem. Nós ficamos de fora, jogando itens quando preciso e torcendo para reunir o que o jogo chama de order points. Eles podem ser usados tanto para “forçar” um digimon a utilizar um ataque normal específico ou para lançar um especial muito forte, e que custa mais pontos.
É simples e divertido, mas também pode ser frustrante. Não é incomum ver digimons atacando inimigos cujo elemento eles têm resistência contra, ou atacando alvos fracos e largando os importantes para lá. Ou atacando quando é claro que o alcance da habilidade é insuficiente para atingir o alvo. Podemos, sim, ajustar certos comandos prévios para mitigar isso, mas ainda acredito que a experiência sofra da mesma forma.
Esse é um dos meus maiores problemas com Digimon World: Next Order. O jogo possui uma série de ideias legais e formas pouco habituais de se fazer algo, mas parece que para cada coisa maneira que vejo subir a experiência percebo uma chata que puxa para baixo novamente. Basta ver o que falei de como é legal treinar, e de como o processo pode ser complexo e enfadonho.
Sons e Visuais
Visualmente, Digimon World: Next Order é bem aquém do que se espera. Sim, é fato que o título saiu originalmente para um console esquecido chamado PlayStation Vita. Quanto tempo, não é mesmo? Mas, de todo modo, estamos jogando uma versão relançada como se fosse melhorada, e devemos julgar como tal. Os modelos até que são legais, tanto dos personagens quanto, principalmente, dos digimons. Mas os cenários contam com texturas tão pobres e simples que fica difícil elogiar. Alguns até que são bem legais, pela ideia por trás, mas a execução não é de se elogiar.
A parte sonora é passável, com os sons de batalha e grunhidos dos monstrinhos sendo bem legais e a dublagem dos personagens entregando o suficiente, acredito. As músicas são bem legais, com algumas criando um clima maneiro e prendendo em nossa cabeça por um tempinho.
Vale a pena comprar Digimon World: Next Order?
Pois bem, caras leitoras e leitores. Hora de bater o martelo sobre o que pensamos de Digimon World: Next Order. Mas, como sempre, é hora de recapitular. Como falei acima, achei todo aspecto de treinamento, cuidado e criação de digimons muito divertido. É um excelente passatempo, e as diferentes evoluções e seus atributos necessários dão um boost maneiro na vida útil do título. O combate é bem diferente, e legal, e a exploração desimpedida é revigorante.
Mas, por outro lado, tudo é muito confuso e tem um potencial alto para gerar frustração. Seja tendo de ficar treinando por horas, sem saber direito (mesmo com as dicas de evolução que o jogo dá) no que vai sair de nossos esforços e nas doideiras que ocorrem com o combate. Ainda, não explorei alguns elementos extras que o jogo oferece, que possuem um impacto um pouco menor do que os que falei aqui, e também podem confundir. Além disso, o título peca com força no quesito visual, principalmente. Seja em interface ou nos gráficos propriamente ditos. Seja relançamento ou não, devemos julgar da mesma forma.
Ao fim e ao, cabo, Digimon World: Next Order é um jogo que cai exatamente no fio da navalha. Ele faz muita coisa bem feito, mas para cada positivo temos um negativo para acompanhar. Portanto, acredito que o que vai decidir sua opinião serão o amor pela franquia e o gosto por esse tipo de jogo de simulação. Se forem sua praia, e estiver disposta a relever algumas arestas, vá fundo. Mas, se não tiver paciência com a confusão de algumas mecânicas e um visual meio grosseiro, pode ser que venha a se digifrustrar. Há, clássico.
Digimon World: Next Order está disponível para Nintendo Switch e PC, via Steam. O título conta com legendas em português do Brasil.
*Review elaborada em um Nintendo Switch, com código fornecido pela Bandai Namco.
Pizza Fria
Reviews, notícias e tudo sobre o mundo dos gamesPor Matheus Jenevain, Pizza Fria
Atualizado em 1 Jun 2023.