Ah, a expectativa… Ou melhor, hype, como o sentimento ficou popularmente conhecido na indústria dos jogos. Um dos jogos que mais aguardei nos últimos anos finalmente está próximo de ser lançado e, à convite da Square Enix, pude ser um dos primeiros a jogar Final Fantasy VII Rebirth, a segunda parte da trilogia que vai recriar o revolucionário JRPG, lançado para PlayStation 1 em 1997.
O fim do Remake, a primeira parte, abriu diversas portas para teorias do que poderia acontecer dali pra frente no jogo. Por mais que exista um pilar central do que foi Final Fantasy VII, os acontecimentos finais do game lançado em 2020 deixaram claro que tudo que aconteceria em seguida poderia ser uma novidade até para os fãs mais ávidos. Curioso para saber como essa história se saiu? Vem comigo que te conto quase tudo sobre o game agora, em mais uma review antecipada, e sem spoilers, do Pizza Fria!
O renascimento
Final Fantasy VII Rebirth começa onde o Remake termina, dentro da linha narrativa da obra original. Cloud, Aerith, Tifa, Barret e Red XIII estão em um hotel em Kalm, quando o protagonista começa a contar sobre um episódio em Nibelheim, a cidade natal de Cloud e Tifa, que teria acontecido há cinco anos, explicando como Sephiroth se rebelou contra a o mundo, incendiou o vilarejo e, posteriormente, foi dado como morto. Esse trecho, inclusive, é parte da demo gratuita do jogo.
Eu comecei Final Fantasy VII Rebirth muito empolgado com tudo o que jogava. Não apenas a qualidade gráfica, mas também o design sonoro, os personagens dublados, as legendas em português, além das histórias expandidas, ajudam a dar muito mais brilho à narrativa contada em 1997. A forma como os primeiros capítulos se desenrola dão realmente a sensação de um “renascimento” do game, com a qualidade de conteúdo extra que nos são oferecidos.
No entanto, esse brilho começou a se esvair conforme o jogo progredia, eu ia avançando nos capítulos e fazia repetida vezes as mesmas coisas. Talvez seja a triste constatação de expectativa x realidade, mas pra mim, a enorme empolgação de estar jogando uma nova versão de um dos jogos mais importantes da história se tornou um tanto frustrante. E vou explicar em detalhes por quê.
O mundo aberto de Final Fantasy VII Rebirth
Ao contrário de Final Fantasy VII Remake, que era um jogo mais linear, Final Fantasy VII Rebirth funciona como um jogo de mundo aberto, mas dividido em regiões. É algo bem semelhante ao que foi aplicado em Final Fantasy XVI, de regiões conectadas, por exemplo, e que funcionou muito bem na ocasião. Acontece que o último título numerado da popular franquia não tinha nenhum material de comparação antes de si, ao contrário de Rebirth. Não só a obra original é um dos jogos mais aclamados de todos os tempos, como a primeira parte do Remake alcançou um patamar altíssimo de qualidade – mesmo que seja um tanto linear, por vezes.
Final Fantasy VII Rebirth segue a história do jogo original, ou seja, vai dos eventos de Kalm até os acontecimentos de Forgotten Capital, com algumas mudanças narrativas, que não posso detalhar para não estragar a experiência. É um trecho que, em sua originalidade, leve cerca de 20 horas para ser concluído. Em Rebirth, com a expansão, eu gastei 3x mais tempo, com 61h para terminar o jogo.
E aí entra a minha primeira frustração com Final Fantasy VII Rebirth. O game está repleto de missões principais exageradamente alongadas, missões secundárias que pouco ou nada acrescentam à narrativa ou que são realmente… chatas. O grande problema que o título tem está na dosagem do seu próprio ritmo narrativo, que hora te deixa animado com algo que acabou de acontecer, e nas cenas/capítulos seguintes, você está fazendo algo não relacionado ao anterior. Ou mesmo que determinado acontecimento seja simplesmente ignorado pelo grupo, e o próximo passo é você atrair as galinhas que uma senhora perdeu com uma lata, ou mesmo jogando uma espécie de Rocket League com Red XIII.
É fato que devs de Final Fantasy VII Rebirth ofereceram muito conteúdo adicional, e isso de certa forma, é louvável. Há muita coisa mesmo para ser feita, o que vai aumentar em muito o tempo em tela dos jogadores. À Game Informer, a própria Square Enix disse que a experiência iria variar de 40 horas, para quem quisesse focar nas missões de história, à 100 horas, para os complecionistas. Isso está longe de ser um problema, afinal, o conteúdo secundário é quase que totalmente opcional.
Eu disse quase por que as missões secundárias influenciam no relacionamento que o grupo tem com Cloud. Realizar missões que trazem um símbolo verde no mapa são ligadas diretamente aos personagens da sua party, e vão influenciar em duas coisas especificamente: a sinergia entre a equipe, e quem vai convidar Cloud para um encontro no Gold Saucer.
Final Fantasy VII Rebirth também traz Chadley de volta, o androide que acompanhou o desenvolvimento do protagonista no Remake. Aqui, ele está presente com tarefas secundárias que visam explorar e abrir o mapa, cumprindo o que o game chama de informes regionais. Elas são divididas em seis tipos: desbloquear torres de rádio (que mostram a localização de outras missões), missões de combate (onde temos que derrotar inimigos cumprindo requisitos), cristais de invocação (que nos dão novos summons e são apenas QTE), casa do moogle (onde temos que capturar moogles fujões), nascentes anímicas (que oferecem um importante desafio de combate por região ao serem concluídas, mas também são QTE) e as protorrelíquias.
Explico melhor: ao chegar em uma nova região, temos que capturar um chocobo para que possamos chamá-lo e utilizá-lo para andar pelo mapa. O chocobo é fundamental para que as viagens rápidas estejam habilitadas em cada região, então sua captura é recomendadíssima. Capturar o chocobo é relativamente simples, mas para cada um, é preciso vencer um mini-game diferente. Feito isso, o próximo passo é desbloquear as torres, que ao serem analisadas, mostram a localização de outras dessas tarefas secundárias. Progredindo por elas e temos a localização de quase todas as atividades do mapa, restando apenas o combate final da nascente anímica, e as protorrelíquias.
Eu citei especificamente as protorrelíquias porque elas são as tarefas mais interessantes de Final Fantasy VII Rebirth. Embora na região da Pradaria (Grasslands) não faça nenhum sentido estar envolvido em um combate simples, a evolução do sistema de obtenção delas é divertida. E a recompensa também. É através das mecânicas de obtenção das protorrelíquias, por exemplo, que jogamos o mini-game de Fort Condor, ou mesmo descobrimos mais sobre o passado da Avalanche, antes de Cloud chegar. Como disse acima, são partes mais envolventes da história que compõe a narrativa expandida do jogo.
E eu achei isso muito mais atrativo do que muitas das missões da linha principal, que acabam sem nenhum objetivo real em mente ou que são excessivamente alongadas. Parece que boa parte do conteúdo ali inserido foi apenas para prolongar o tempo de gameplay, e é uma pena que algumas delas sejam obrigatórias.
O brilho está no combate
Feitas minhas considerações sobre o ritmo e o mundo aberto maçante de Final Fantasy VII Rebirth, é preciso voltar os trilhos para os elogios que o jogo merece. E vou começar por onde o título mais se destaca, na minha opinião: o combate.
Final Fantasy VII Rebirth nos permite jogar com todos os personagens do grupo e, além dos já citados anteriormente, temos Yuffie e Cait Sith como membros fixos. A ninja de Wutai, personagem opcional na obra original, ganhou de vez seu lugar ao sol após Episode INTERmission. Outro personagem opcional de Final Fantasy VII, Vincent Valentine, também marca presença, embora não seja jogável em Rebirth, assim como Cid Highwind.
No combate de Final Fantasy VII Rebirth, montamos grupos com três personagens, desde que um deles seja Cloud (ao menos antes de terminar o jogo pela primeira vez) e alternar entre eles, criando diferentes táticas de batalha. A sinergia de combate, que citei acima, aumenta conforme você vence lutas ao lado de personagens, aprendendo novos golpes para serem usados em dupla e também melhorando o relacionamento daquele membro da equipe com o protagonista, além de aumentar o nível do grupo.
Mas o que mais se destaca é a variedade de golpes e estilos que cada personagem tem. Yuffie e Red XIII são agressivos e velozes, Tifa e Cait Sith tem uma força descomunal em golpes físicos, Barret e Aerith são excelentes para enfrentar inimigos voadores. Isso, inclusive, foi difícil de internalizar, visto que eu senti falta de um botão de pulo, ao menos no combate, no começo. Mas depois me conformei e entendi a dinâmica, o vi que funcionaria melhor da forma como foi feito.
O combate de Final Fantasy VII Rebirth é simples, ao mesmo tempo em que é tão complexo. Assim como na obra original, podemos equipar e evoluir matérias, conforme são usadas em combate. Mas também podemos definir habilidades e melhorias para as armas que obtemos, podemos evoluir a sinergia dos personagens nos fólios, encontrados em lojas e pontos de descanso, o que pode aumentar atributos específicos ou ganhar melhorias em equipe, de forma geral.
Além disso, vale uma citação especial para as boss battles. Embora a maioria dos chefes não seja tão criativa, sendo apenas monstros grandes, há ao menos umas cinco batalhas bem memoráveis na narrativa, em especial a última. Os summons, assim como em Remake, oferecem um papel importante na virada de batalhas, mas não são tão marcantes como os Eikons de Final Fantasy XVI.
Mini-games marcantes
O Final Fantasy VII original ficou marcado por oferecer uma variedade de mini-games grande e interessante. O Remake trouxe algumas novidades, mas Rebirth brilha quando o assunto é mini-game. Há muitas opções, algumas incríveis e outras nem tanto. Opções para todos os gostos, com durações variadas, mas que algumas acabam sendo limitadas pela própria história.
O meu favorito foi o Queen’s Blood, um jogo de cartas que traz desafio e aleatoriedade conforme jogamos. Além de uma história secundária bem interessante por trás. Também gostei da nova versão do Fort Condor, embora ele seja limitado à apenas oito desafios. No Gold Saucer, o Brawler 3D e o Salvadores Galácticos foram dois jogos interessantes e que tomaram algum tempo.
Por outro lado, boa parte desses mini-games estão ligados à obtenção de equipamentos melhores, e alguns considerei até bem chatinhos. É verdade que não se pode agradar todos, mas em Costa Del Sol, boa parte do que precisamos fazer – alguns obrigatórios como parte da narrativa – são bem enrolados.
Tecnicamente gratificante
Uma das principais críticas em relação a demo de Final Fantasy VII Rebirth foi relacionada ao visual do jogo, que aparenta estar inferior ao do seu anterior. Confesso que, jogando a versão completa, não senti essa diferença como algumas imagens na internet sugeriram a comparação.
No entanto, é preciso ressaltar que no modo desempenho, tive alguns problemas de carregamento de assets e de pop-ins no mapa, especialmente com imagens de pedras sendo carregadas tardiamente, ou com texturas muito baixas. Não é nada que atrapalhe a experiência, mas é importante dizer que eles existem.
Já a trilha sonora é um espetáculo. Tanto as músicas clássicas como as novas funcionam criam um arranjo ótimo, que são bem agradáveis de se ouvir e combinam bem com as cenas. A dublagem em inglês está excelente, transmitindo emoção quando necessário. Pesa não ter uma sincronia labial, algo que acabou se tornando comum nos dias de hoje.
Final Fantasy VII Rebirth também está com textos totalmente localizados em português do Brasil, e eu sou só elogios para a tradução. É muito bom ver RPGs em nosso idioma e com certeza medidas assim ajudam a “espalhar” a palavra, atingindo mais e mais pessoas.
Outro fator que merece aplausos é o uso dos recursos do PlayStation 5 no jogo. Tanto a velocidade de loading, que faz as viagens rápida, quando desbloqueadas, serem praticamente instantânea, otimizando o tempo de gameplay, quanto ao uso dos recursos do DualSense e o áudio espacial pelo Pulse 3D. Tudo merece elogios.
Para quem jogou o Final Fantasy VII original à época do lançamento, ou em data próxima, como foi meu caso, Rebirth é um prato cheio de nostalgia. Cenas clássicas recriadas ou expandidas, como foi o caso dos eventos de Cloud como soldado em Junon, do passado de Barret no Mt. Corel ou mesmo da relação de Red XIII com Cosmo Canyon e seus habitantes. Quem viveu isso no passado, ver esse universo expandido é um prato cheio para os fãs.
Vale a pena comprar Final Fantasy VII Rebirth?
Depois de tudo que foi joguei, a resposta para a pergunta é um tanto ambígua. Se por um lado, o jogo apresenta mecânicas novas, um visual e trilha sonora bem interessantes, expandindo significativamente a narrativa do clássico de 1997 e trazendo uma experiência em regiões abertas que oferecem uma liberdade inédita para a franquia, por outro, sofre de alguns pontos de frustração que podem abalar a experiência dos jogadores.
A repetitividade no padrão de certas missões e a possível sensação de diluição da narrativa em meio a tarefas secundárias menos envolventes são pontos de crítica. No entanto, o sistema de combate refinado, a inclusão de mini-games variados e interessantes, e a profundidade adicional dada à história e aos personagens compensam esses deslizes, principalmente para os fãs de longa data da franquia e para jogadores que apreciam explorar cada canto dos mundos virtuais que habitam. Não me entendam mal. Mesmo após ter terminado a campanha, retornei através do modo de seleção de capítulo para fazer tudo que não havia terminado.
Por isso, Final Fantasy VII Rebirth se apresenta como uma obra digna de atenção. Para os novatos, pode ser uma porta de entrada fascinante para o universo de Final Fantasy VII, enquanto para os veteranos, representa uma oportunidade nostálgica e renovada de mergulhar em uma história já conhecida, porém repleta de novidades.
No fim das contas, a decisão de compra deve levar em conta o que se valoriza mais em um jogo: a inovação e o respeito pela obra original, mesmo com algumas falhas, ou uma experiência que abrange diferentes aspectos, mesmo que em alguns casos, eles sejam chatos. Para aqueles dispostos a aceitar algumas questões em prol de momentos verdadeiramente épicos e emocionantes, Final Fantasy VII Rebirth certamente vale a pena.
Final Fantasy VII Rebirth será lançado no dia 29 de fevereiro, exclusivamente para PlayStation 5.
*Review elaborada com código fornecido pela Square Enix.
Pizza Fria
Reviews, notícias e tudo sobre o mundo dos gamesPor Lucas Soares, Pizza Fria
Atualizado em 1 Mar 2024.