Guia da Semana

Jagged Alliance 3 é um jogo de estratégia, com combate em turnos e elementos de RPG, desenvolvido pela Haemimont Games e publicado pela THQ Nordic. O título, continuando uma franquia relativamente popular entre fãs do gênero, nos coloca no controle de um esquadrão de mercenários com o objetivo de resolver um caso de sequestro do presidente de uma nação em guerra.

E aí, será que vale a pena assumir essa B.O? É o que veremos agora, em mais uma análise agradabilíssima do Pizza Fria!

Pagando bem…

A internet é uma coisa maravilhosa, leitores e leitoras. Já desde sua primeira versão, nos cavernosos anos de 1969, a grande teia nos permitiu fazer coisas maravilhosas que vão do compartilhamento de informações e arquivamento de uma parte significativa do conhecimento humanos até a divulgação de memes de gatos ou a disponibilização das maravilhosas reviews do Pizza Fria.

Essa mesma ferramenta maravilhosa me permitiu aprender algumas coisas interessantes, dentre elas do lançamento de nosso jogo da semana: Jagged Alliance 3. Eu me lembrava de já ter ouvido falar algo dos jogos mais antigos da série, e de fato. Tendo seu primogênito lançado em 1995, a série tinha a proposta de trazer uma jogabilidade de estratégia misturada com gerenciamento de recursos e uma dose de humor ácido, que fazia graça dos filmes de ação tão famosos e adorados por todos na época.

Devo dizer que só o fato de ter um combate por turnos e essa pegada de ironizar os grandes filmes de tiro, porrada e bomba tão famosos da terra dos fast foods já me intrigou a ponto de querer jogar e vir resmungar para vocês como sempre faço, com tanto carinho e dedicação. E, diferente do costume, até que terei mais do que aplaudir do que, dentro dos padrões de etiqueta desta amável plataforma, xingar e vociferar. Fantástico!

Jagged Alliance 3
Bombástico, fantástico. (Imagem: Divulgação)

A trama de Jagged Alliance 3 gira em torno do sequestro do presidente de uma nação chamada Grand Chien, conhecida por suas praias paradisíacas, vistas de tirar o fôlego, recursos naturais abundantes e uma guerra ferrenha entre o governo central e um grupo paramilitar chamado Legion. Um pedacinho do céu na terra, não é mesmo?

Nossa missão, se escolhermos aceitá-la, é a de montar, gerenciar e comandar uma trupe de mercenários para resgatar o líder do país e tentar trazer um pouco de ordem para o lugar. A família do presidente reuniu uma quantidade de fundos para iniciar a empreitada, e daí partimos para nossa missão quase impossível. Desse ponto, a trama vai se desenvolvendo conforme conhecemos novos personagens, moldamos certos acontecimentos de acordo com nossas escolhas (o que é sempre agradável) e ficamos mais por dentro dos motivos que levam ao atual estado do lugar.

A trama e as escolhas múltiplas deixam Jagged Alliance 3 com um embalo satisfatório e agradável, mas é no humor que o roteiro realmente brilha. O jogo faz graça de muitos clichês comuns em filmes e videojogos eletrônicos de ação, apontando e rindo de figuras caricatas que todos conhecemos e amamos. Por exemplo, um dos mercs que podemos contratar no começo se chama Steroid (esteroide, em tradução livre) e possui os mesmos maneirismos de um certo ex-governador estadunidense que fez sua fama interpretando um certo exterminador que veio do futuro. Admito que o humor possa não ser para todos, mas a ironia aliada à falas engraçadas e situações inusitadas é mais do que suficiente para divertir, acredito.

Jagged Alliance 3
Get to the choppa! (Imagem: Divulgação)

A jogabilidade de Jagged Alliance 3 é bem recheada, e abrange da contratação de nossos mercenários até aquela trocação honesta de dano. Para fins de facilidade de compreensão, vou tentar ir comentando na mesma ordem que aprendemos ao jogar. Para começar, precisamos utilizar nossos fundos para contratar os bonecos que formarão nosso esquadrão. Temos uma quantidade legal de opções, divididas pela senioridade de cada um e suas determinadas habilidades e atributos.

Além disso, precisamos pensar na duração de cada contrato, e se podemos arcar com o valor. Será que vale mais a pena contratar um mercenário super habilidoso, mas careiro, ou três menos poderosos com especialidades variadas? Saber como gastar, como gerenciar nossos recursos e como administrar os contratos de nossos “heróis” é parte essencial da experiência. Afinal, não queremos saber que o seu Zé demolidor vai dar o fora logo antes de atacarmos uma base inimiga, não é mesmo?

O mapa de Gran Chien é dividido em quadrantes, que possuem ou habitações ou áreas que vão de zonas florestais até partes costeiras e urbanas. Uma coisa maneira é que podemos coletar intel sobre cada quadrante, que nos permite ter uma visão tática de cada área de combate enquanto estivermos nela. Saber coisas como o posicionamento de inimigos, entradas secretas, tesouros escondidos e afins é essencial para um tiroteio tranquilo e livre de surpresinhas desagradáveis.

Amarrando esse aspecto de Jagged Alliance 3, resta dizer que é muito importante pensar em como gastaremos nossos recursos, bem como procurar fontes de renda assim que possível. Dificuldades mais baixas tornam as penalidades por ingerência bem menores, mas não é incomum ver uma campanha falhar porquê empolgamos demais contratando um mercenário a mais, esquecendo que o contrato dos outros estava por vencer. Existem mecânicas além dessas, que deixarei de surpresa para vocês, mas fica fácil notar que essa faceta da experiência é tão interessante quanto complexa.

Jagged Alliance 3
Cada quadrante pode ser visitado, sendo ele para combate ou não. (Imagem: Divulgação)

Agora, falemos sobre aquela trocação de tapas honesta. Jagged Alliance 3, como falamos anteriormente, é um título de estratégia por turnos com uma forte influência de RPG. Fazemos nossos bonecos, que possuem atributos e especialidades variadas, andar por quadradinhos e atacar outros bonequinhos, dependendo das armas, alcance e pontos de ação que possuímos. Cada mercenário possui suas próprias habilidades, excedendo especialidades que vão de coisas bombásticas como armamento pesado e explosivo até furtividade e golpes de lugares escondidos.

Na hora de atirar, escolhemos determinadas partes do corpo que possuem chances de acerto e efeito específico ao serem acertadas. Será que vale mais arriscar uma quantidade extra de AP para acertar a cabeça, potencialmente finalizando o inimigo ou errando, ou mirar no peito para um dano quase garantido? Será que vale a pena atirar do longe na chuva, que diminui a precisão, ou arriscar se aproximar e ser revelado?

Nossos mercenários possuem uma série de atributos e características que, além de influenciarem no combate, também mudam a forma com que interagimos com o cenário e com certos acontecimentos. Por exemplo, imagine que encontramos um homem pisando em uma mina. Salvá-lo dá acesso a uma resolução diferente para uma missão secundária, mas para isso precisamos de alguém com certa especialização nos atributos de demolição. Será que temos essa pessoa? Ou podemos contratar?

Novamente, essa ideia de pesar opções e escolhas é um dos pontos fortes do jogo, ainda que adicione uma camada de dificuldade que pode ser frustrante. Por exemplo, tudo que fazemos leva tempo. Andar pelo mapa, executar ações como recuperar a vida dos mercenários, descansar ou consertar as armas, essas coisas. Cada segundo nos aproxima do fim de um contrato de nossos mercenários, e perder um que seja pode causar problemas enormes. Desafiador e divertido? De fato. Mas com grande potencial de frustração.

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Bastante coisa, não é mesmo? E , provavelmente, devo estar me esquecendo de algo. Jagged Alliance 3 é um jogo bem recheado e complexo, unindo diversas mecânicas e facetas de uma maneira muito bem feita, na maioria das vezes, e engenhosa. Tudo que fazemos nos aproxima sempre, por menor que seja, do objetivo final, e cada ação pode ser desastrosa se impensada.

O maior negativo disso é que o título pode ser, por vezes, confuso e intimidador. Mesmo nas dificuldades menos punitivas, Jagged Alliance 3 não perdoa e rotineiramente nos pune com ataques errados, lamentações por falta de munies e mercenários que se acham o último biscoito do pacote e se recusam a continuar empregados sem um aumento substancial. Que absurdo!

Jagged Alliance 3
Montar a arma perfeita também é essencial. (Imagem: Divulgação)

Sons e Visuais

Jagged Alliance 3 conta com cenários muito bonitos e vistosos, além de zonas destruídas pela guerra que demonstram muito bem a dualidade na qual vive Grand Chien. Além disso, possuímos modelos bem construídos e uma atenção ao detalhe que agrada. De negativo, senti apenas que algumas arenas ficam difíceis de enxergar por conta da folhagem, e de que a interface do jogo poderia ser um pouco menos confusa. Algumas telas, como a de contratar mercenários ou de atributos, poderiam ser um pouco menos pesadas.

A trilha sonora é competente, assim como os efeitos sonoros. Aqui, gostaria de exaltar mais a dublagem dos personagens, que ficou muito variada e divertida, principalmente nas vozes caricatas de alguns dos mercenários. Isso foi essencial para construir aquele jeitão brincalhão e sério que deu uma cara única ao jogo, o diferenciando dos demais.

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Os cenários são bem coloridos e lustrosos. (Imagem: Divulgação)

Vale a pena comprar Jagged Alliance 3?

É chegada a hora, leitores e leitoras de meu coração. Jagged Alliance 3 vale a pena? Merece nossa atenção, em um ano com diversos lançamentos de peso e orçamentos cada vez mais apertados? Ah, a pergunta de milhões. Milhos enormes e amarelos, de fato. Bom, vamos começar pelos positivos. O título possui uma experiência de jogo variada, que abrange gerenciamento de recursos, combate em turnos, elementos de RPG e uma liberdade considerável para aproximar seus dilemas e conflitos.

Trocar tiros com os oponentes é legal, e temos um leque de opções para utilizar. Seja furtivo ou bombástico, sempre estaremos servidos. Além disso, o humor do jogo é bem caricato e pode arrancar boas risadas. Contudo, essa liberdade e quantidade de formas de aproximar cada conflito gera certa confusão, tornando o título um pouco complexo e talvez até assustador. A interface bagunçada contribui muito para isso.

Mas, no fim das contas, para mim o que importa de fato é que Jagged Alliance 3 me encantou. Eu estava com uma vontade de jogar algo no estilo faz tempo, e devo dizer que o título saciou-me de uma forma que eu não esperava, sinceramente. Fãs do gênero irão se deleitar, sem sombra de dúvidas. E novatos ou curiosos também terão muito do que gostar, ainda que se assustem no começo. Seja como for, Jagged Alliance 3 é uma boa pedida.

Jagged Alliance 3 foi lançado para PC, via Steam, no dia 14 de julho e alcançou uma média de 81 pontos no Metacritic.

*Review elaborada em um PC equipado com uma GeForce GTX, com código fornecido pela THQ Nordic.

Pizza Fria

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Por Matheus Jenevain, Pizza Fria

Atualizado em 18 Jul 2023.