Sou apaixonado por jogos que exploram a cultura japonesa. E quando soube de Sengoku Dynasty, game da Superkami e da Toplitz Productions disponível para PC via Steam, fiquei logo interessado. A ideia de jogar um título de sobrevivência situado no período Sengoku, uma fase de grande instabilidade política e guerra no Japão, que ocorreu entre a metade do século XV e o final do século XVI, me pareceu promissora. Mas será que este é só mais um survivor no meio da multidão? Ou Sengoku Dynasty traz algo totalmente novo? Essas e outras perguntas serão respondidas nesta análise. Confira!
O período Sengoku
Sengoku Dynasty nos transporta para o período Sengoku, também conhecido como “Período dos Estados Beligerantes”, ocorrido especificamente entre 1467 a 1573. Esse recorte histórico, marcado por conflitos incessantes e instabilidade política, é o pano de fundo para o jogo, que oferece uma experiência que mistura estratégia, ação e elementos de RPG. Sendo assim, somos introduzidos a esse mundo como um náufrago, que terá a difícil tarefa de sobreviver em um lugar ainda desconhecido. Portanto, teremos de começar desde o princípio a coletar diversos recursos para construir ferramentas e outras estruturas.
A partir daí, a missão é clara e explicada pelo próprio jogo, que vai nos designando tarefas. Temos que reconstruir a vida do personagem, começando pela interação com Ako, outra sobrevivente do naufrágio. Assim, somos apresentados a mecânica central de construção e gestão de vilarejos, criando literalmente a sua dinastia do zero. A tarefa de construir casas, atrair moradores e oferecer sustento e empregos é desafiadora, mas também recompensadora, criando uma dinâmica que equilibra sobrevivência e planejamento estratégico. Ou seja, Sengoku Dynasty vai além de um jogo de sobrevivência, mesclando diversos outros estilos, o que é interessante.
A atenção aos detalhes históricos e culturais de Sengoku Dynasty é notável. Desenvolvido em cooperação com especialistas em história japonesa, o jogo busca ser uma recriação fiel da era Sengoku, desde os elementos arquitetônicos até as interações sociais. As saudações respeitosas dos NPCs, que variam conforme o nível de satisfação e status da sua vila, são um exemplo de como a ambientação é trabalhada para criar uma experiência imersiva. Para se ter uma ideia, o jogo nos permite se tornar um samurai e até mesmo se casar e ter herdeiros. Isso é surpreendente, ainda que o jogo tenha lá suas limitações.
Jogabilidade bem explicada
Sengoku Dynasty não conta com um tutorial robusto explicando passo a passo do que fazer, embora a cada nova mecânica apresentada, surjam textos um pouco mais detalhados. Porém, mesmo sem os textos, o jogo seria tranquilo. Isso é possível graças ao seu formato de missões, que nos leva pelas diversas mecânicas de gestão, sobrevivência e construção. E, particularmente, achei isso muito bem elaborado. O jogo não tem lá tantas firulas quanto outros do mesmo estilo, nos permitindo uma adaptação fácil. O negócio é sair coletando coisas, construindo e executando tarefas tradicionais da época, como agricultura, ferraria e pesca. Essas mecânicas adicionam profundidade ao gameplay e reforçam o compromisso com a precisão histórica.
Essa ideia de progresso apresentada em Sengoku Dynasty é bem interessante. Conforme a vila vai crescendo, somos incentivados a explorar novos territórios, expandindo sua dinastia e estabelecendo novas comunidades. O sistema de favores e missões oferece uma forma interessante de ganhar respeito e recursos, enquanto a construção de pontes, santuários e estruturas de defesa fortalece sua posição como líder. Essa evolução de simples sobrevivente para um grande líder é uma das principais forças do jogo, oferecendo um senso de progressão tangível. Porém, é uma tarefa demorada e exaustiva. Afinal de contas, você terá que criar um vilarejo do zero.
E não é só isso: a relação com diferentes personagens, como mestres que ensinam diferentes ofícios e monges, que nos permitem criar novos vilarejos, mostra a complexidade da ideia de Sengoku Dynasty, que gradativamente, nos coloca como um gestor de uma dinastia, tendo objetivos como sanar a fome dos aldeões, se preocupar com questões de guerras, segurança e até mesmo de trabalho. São muitas funções, e tudo é executado de forma relativamente simples.
Porém, é perceptível que a movimentação dos personagens acaba sendo simples, mas funcional ao que se propõe. Sengoku Dynasty é um jogo indie com uma grandiosa ideia. Portanto, creio que detalhes como a física do jogo mereça receber alguns ajustes, com problemas relacionados ao movimento dos NPCs e bugs na ambientação, que pulam em nossa tela vez ou outra. Além disso, a limitação das vozes nos diálogos reduz um pouco a imersão, e a identidade dos NPCs poderia ser mais distinta para facilitar as interações. Neste ponto, é tudo muito simples, inclusive a criação de nosso personagem, sendo muito limitada. Por fim, a coleta de recursos é engraçada e desajeitada, com as árvores sendo cortadas de forma muito estranha.
Gráficos e outras questões
Sengoku Dynasty é um jogo simples, mas conta com uma experiência visual envolvente, com gráficos simples, mas totalmente condizentes com a proposta, simulando bem o ecossistema japonês, bem como as construções e itens do período Sengoku. A questão sonora também é bem simples, com poucos diálogos e sons meio repetitivos durante a coleta de recursos. Portanto, na questão audiovisual, o título entrega o necessário, sem ser esteticamente desagradável. É aquilo: o simples às vezes é o suficiente.
Os menus são simples e nos levam diretamente para onde precisamos ir. E, felizmente, o jogo é legendado para português brasileiro, algo que facilita todo o processo dos diálogos e até mesmo na compreensão de cada uma das missões apresentadas. Neste quesito, não notei problemas de tradução, algo que vem acontecendo com muita frequência em outros títulos.
Por fim, preciso mencionar que tive dois problemas durante o jogo. O primeiro deles era relacionado ao uso do DLSS, que simplesmente deixava o título injogável por conta dos bugs visuais que pulavam na tela. Além disso, uma das missões propostas para avançar na história acabou travando, me obrigando a destruir uma casa e fazê-la toda do zero. Porém, tudo teve jeito de ser contornado, não travando a experiência de jogo, mas me fazendo gastar mais tempo.
Vale a pena jogar Sengoku Dynasty?
Olha, vou direto ao ponto. Se você tem tempo disponível, descobrir as diversas mecânicas de Sengoku Dynasty pode ser uma ideia maravilhosa e profunda. Afinal, o jogo oferece uma experiência rica e multifacetada, combinando elementos de sobrevivência, gestão e RPG em um cenário histórico fascinante. Suas mecânicas de construção e expansão, aliadas a uma atenção cuidadosa aos detalhes culturais e históricos, tornam o jogo uma escolha sólida para fãs do gênero. Por isso, ressalto a questão do tempo: o jogo é muito detalhado e demanda muito, mas muuuito tempo para ser dominado. Portanto, se você não é daquele tipo de jogador que fica horas no mesmo título, é melhor abrir mão de Sengoku Dynasty.
O jogo é interessante e profundo, mas ainda precisa de algumas melhorias. Algumas questões, como a física engraçada da movimentação dos personagens e até mesmo na simplicidade de seus menus, poderiam ser revistas para dar uma aparência mais consistente ao jogo. Mas, de toda forma, é inegável que o título se destaca como uma aventura envolvente e estratégica no Japão feudal.
No geral, Sengoku Dynasty é bom no que se propõe, tendo uma precisão histórica interessante do período japonês, mas poderia ser melhor em alguns outros aspectos. Aliás, é provável que os desenvolvedores ainda apresentem mais atualizações que corrijam alguns dos problemas citados.
*Review elaborada em um PC equipado com uma GeForce RTX, com código disponibilizado pela Toplitz Productions.
Pizza Fria
Reviews, notícias e tudo sobre o mundo dos gamesPor Álvaro Saluan, Pizza Fria
Atualizado em 24 Nov 2024.