Guia da Semana

Dead By Daylight se destacou no gênero de multiplayers assimétrico, trazendo uma proposta única de assassino contra sobreviventes. O jogo conquistou uma grande base de fãs e, com o passar do tempo, cresceu em popularidade, chegando a colaborar com grandes franquias como Alien e Stranger Things. Com esse sucesso, era inevitável que o universo de terror da franquia fosse expandido.

Assim, em parceria com a Supermassive Games, conhecida por títulos como Until Dawn e a série The Dark Pictures, nasce The Casting of Frank Stone. O novo game promete envolver os jogadores em uma narrativa aterrorizante, conectada aos eventos de Dead by Daylight, oferecendo uma perspectiva inédita sobre os horrores enfrentados por um grupo de jovens e a misteriosa Entidade, a força antagonista central do universo de DbD.

Embora a proposta seja interessante, desde o início mantive certa cautela quanto ao projeto, especialmente por considerar a qualidade da série The Dark Pictures um tanto inconsistente. Contudo, como grande fã de Dead by Daylight, minha curiosidade sobre essa nova história foi inevitável. O resultado, no entanto, é bastante misto e mais confuso do que eu esperava. Para entender melhor, acompanhe minha análise antecipada no Pizza Fria!

Duas histórias que se conectam

Em The Casting of Frank Stone, a narrativa é contada de forma não linear, intercalando duas linhas do tempo. A primeira se passa no presente e acompanha Madison e Linda, que visitam uma misteriosa compradora de antiguidades em uma mansão. Elas estão lá para negociar uma fita de um filme chamado Murder Mill, no qual aparece o assassino Frank Stone. A segunda linha do tempo ocorre no passado e foca em uma versão mais jovem de Linda e seus amigos, enquanto gravam o que se tornaria o famigerado filme. Inicialmente, o jogo faz um bom trabalho ao entrelaçar as duas histórias, mas a partir da metade da campanha, as coisas começam a se tornar confusas.

Apesar disso, há aspectos positivos. Os personagens são bem construídos e se encaixam na trama, com personalidades marcantes. Na linha do tempo passada, temos Chris, a melhor amiga de Linda, que é espirituosa e motivada, sendo a força propulsora das aventuras do grupo. Ela também é a responsável por sugerir a filmagem em um local com um histórico de assassinatos e rituais macabros. The Casting of Frank Stone consegue captar bem a dinâmica juvenil, com dramas adolescentes que, felizmente, não parecem forçados, mas surgem de forma natural na interação do grupo.

The Casting of Frank Stone
O game faz um bom trabalho estabelecendo o mistério no começo da campanha. (Imagem: Divulgação)

No presente, a narrativa de Linda é envolvente, mostrando sua evolução após os eventos traumáticos relacionados a Murder Mill. No entanto, nem todos os personagens têm o mesmo impacto. Madison, a segunda protagonista, parece deslocada na história, com desenvolvimento praticamente nulo. Sua única conexão com o filme é ser filha de um dos membros da equipe de filmagem. Isso é decepcionante, já que o jogo inicialmente sugere um grande mistério ao redor de Madison, mas acaba não levando a lugar algum. E aqui reside o maior problema de The Casting of Frank Stone: ele parece não saber qual história quer contar.

Eu não entendo The Casting of Frank Stone

Assim como outros jogos da Supermassive Games, The Casting of Frank Stone segue a tradição de ter uma campanha curta, repleta de escolhas que deveriam levar a diferentes desfechos. Joguei o game três vezes, fazendo escolhas alternativas para tentar entender como a narrativa se desenrolaria. No entanto, quanto mais jogava, mais confuso eu ficava. E não de uma maneira intrigante, mas frustrante. Embora o título dê a entender que os diferentes finais trazem mistérios para serem desvendados, na prática, existe apenas um desfecho, com pequenas variações, e o jogo torna muito claro o que está acontecendo ao final.

The Casting of Frank Stone
The Casting of Frank Stone não sabe a história que quer contar. (Imagem: Divulgação)

O problema central é que The Casting of Frank Stone introduz uma quantidade absurda de elementos aleatórios ao longo da campanha, como viagens no tempo, universos paralelos, versões alternativas dos personagens, monstros, mini games com câmeras no estilo Fatal Frame, além de conexões com Dead by Daylight que apenas fãs da franquia reconheceriam. E mesmo essas conexões centrais não são bem desenvolvidas. Embora eu tenha gostado dos colecionáveis relacionados aos assassinos de Dead by Daylight, a forma como a campanha insere elementos do lore de DbD é desordenada. Informações importantes surgem de repente em diálogos, como se o jogador já devesse conhecer tudo, e, mesmo para alguém familiarizado com o universo de DbD, a narrativa acaba sendo extremamente confusa.

Em certo momento, The Casting of Frank Stone está contando sobre um filme amaldiçoado, e, logo em seguida, introduz uma ameaça completamente diferente, sem amarrações coerentes. Essa falta de coesão é, sem dúvida, um dos aspectos mais frustrantes do game.

Cadê o Frank Stone?

Das surpresas que The Casting of Frank Stone poderia me apresentar, jamais imaginei que a ausência do principal antagonista na maior parte da campanha seria uma delas. E mais curioso ainda é o fato de que, nas poucas vezes em que ele aparece, seu visual não corresponde à imagem divulgada nas campanhas promocionais. Ao invés disso, o personagem surge com uma aparência aleatória de monstro, sem muita conexão com a estética prometida.

Para ser justo, ele até aparece com o visual adequado no prólogo do jogo, mas, depois disso, ficamos aguardando em vão o retorno dessa figura. Essa experiência foi tão inédita para mim que a única vez que vi algo semelhante foi no filme Snake Eyes, onde o protagonista, cujo maior atrativo é o traje icônico, só o veste por três segundos no final do filme. E, infelizmente, nem isso acontece em The Casting of Frank Stone.

Por outro lado, apesar das falhas narrativas, preciso reconhecer que os segmentos de perseguição no jogo foram bem executados. Além dos esperados quick time events, nos quais um erro pode resultar na morte instantânea do personagem — algo que, na prática, torna as “escolhas que importam” totalmente irrelevantes — há momentos em que o jogador é caçado pelo monstro. Para se defender e enxergar melhor, é necessário usar uma câmera, o que adiciona uma camada de tensão interessante. Esses momentos de perseguição foram, sem dúvida, a parte mais imersiva e assustadora do jogo, conseguindo manter um clima de tensão constante.

The Casting of Frank Stone
O antagonista ficar ausente na maior parte da campanha é um dos pontos mais decepcionantes de The Casting of Frank Stone. (Imagem: Divulgação)

Dada a ausência do antagonista durante boa parte da trama, o game tenta desenvolver seu lore através de documentos e fitas espalhadas pelo cenário. Contudo, esse conteúdo adicional é raso e pouco desenvolvido, a ponto de poder ser resumido em um parágrafo, semelhante às descrições de assassinos em Dead by Daylight. No fim, isso revela o maior problema de The Casting of Frank Stone: a sua dependência excessiva das conexões com o universo de Dead by Daylight.

A conexão com Dead by Daylight limitou a história

É irônico que o grande atrativo por trás da criação deste jogo, sua conexão com Dead by Daylight, seja também o fator que mais limita a obra. A impressão que fica é que, ao tentar estabelecer tantas ligações com a narrativa central de DbD, o jogo se perdeu ao tentar ser grandioso demais. A história é recheada de conceitos mirabolantes e fragmentos de informações jogados a esmo, tudo para criar a sensação de uma campanha maior do que realmente é.

No entanto, essa tentativa de expansão acaba prejudicando The Casting of Frank Stone, afastando-o do terror e do desenvolvimento dos personagens, elementos que deveriam estar no centro da experiência. O foco parece ter mudado para algo que supostamente seria “épico”, como a origem de novos personagens, que chegarão ao Dead by Daylight como DLC.

Boa exploração e puzzles

Apesar de seguir o formato tradicional dos jogos cinematográficos da Supermassive Games, com perspectiva em terceira pessoa e movimentos limitados a andar, correr e interagir com objetos específicos, The Casting of Frank Stone acerta nos puzzles e colecionáveis. A maioria dos quebra-cabeças é simples, como religar circuitos, alinhar passarelas ou descobrir códigos de portas trancadas, mas esses elementos adicionam uma camada de interatividade que contribui para o fator replay. Além disso, cada colecionável ser um easter egg de assassinos de Dead by Daylight foi uma surpresa positiva.

Algumas referências são criativas, enquanto outras são mais diretas, como ao coletar a máscara da Caçadora, começa a tocar a sua música tema. Também há outros detalhes divertidos, como o mini game dos geradores, que replica a mecânica do DbD, e um trecho de sonho que simula uma partida do jogo assimétrico original.

Uma atmosfera surpreendentemente aterrorizante

O ponto mais forte de The Casting of Frank Stone é, sem dúvida, a atmosfera. O título constrói um ambiente de tensão e terror nos segmentos de exploração, sem recorrer ao uso excessivo de jump scares. Na verdade, só me recordo de um jump scare, e foi durante o prólogo. Em vez disso, o game aposta em cenários escuros e inquietantes, como túneis e passagens secretas em uma mansão, conseguindo transformar até mesmo lugares aparentemente inofensivos, como uma loja de penhores, em ambientes que causam arrepios, graças ao excelente trabalho sonoro.

A ênfase nos sons ambientais eleva a sensação de perigo iminente, fazendo com que o jogador raramente saiba o que está por vir. A dublagem em português do Brasil também é excelente e ajuda a construir uma atmosfera intrigante, mas infelizmente, essa tensão é muitas vezes desperdiçada, já que, na maioria dos casos, não há uma verdadeira ameaça à espreita.

The Casting of Frank Stone
The Casting of Frank Stone apresenta uma atmosfera que impressiona e consegue causar tensão nos jogadores em vários trechos, principalmente nos segmentos de perseguições. (Imagem: Divulgação)

Desempenho

Minha experiência foi no PlayStation 5, e o jogo rodou de forma fluida e estável. Não encontrei bugs ou travamentos significativos, o que foi um ponto positivo para a experiência.

Vale a pena comprar The Casting of Frank Stone?

The Casting of Frank Stone foi uma experiência decepcionante, que não alcança o potencial que poderia. Para os fãs de Dead by Daylight, o jogo pode até ter algum apelo, especialmente pelas referências e conexões com o universo do multiplayer, mas fora isso, há pouco a ser aproveitado. Apesar de uma atmosfera bem trabalhada e alguns momentos de perseguição intensos, a campanha é confusa, sem uma direção clara e cheia de temas desconexos. A impressão que fica é que o único objetivo do jogo era se conectar ao universo de DbD, preparando o terreno para o próximo pacote de expansão, o que acaba limitando sua própria narrativa e deixando a desejar como experiência autônoma de terror.

The Casting of Frank Stone foi desenvolvido pela Supermassive Games em colaboração com a Behaviour Interactive e chega hoje PlayStation 5Xbox Series X|S e PC, via Steam e Epic Games Store.

*Review elaborada no PlayStation 5 com código fornecido pela Supermassive Games.

Pizza Fria

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Por Leandro Paiva, Pizza Fria

Atualizado em 2 Set 2024.