ULTROS é um metroidvania psicodélico, oferecendo uma reviravolta interessante na fórmula roguelike, desenvolvido pela Hadoque e publicada pela Kepler Interactive. O título nos coloca na roupa espacial de uma viajante que se vê perdida no sarcófago, um tipo de útero cósmico de dimensões titânicas que serve de casinha para um demônio da pesada chamado Ultros.
Após fazer uma prévia para a galera, é hora de ver se o produto final conseguiu realizar minhas expectativas ou, como muitas coisas na vida, acabou sendo apenas mais uma fonte de tristeza e amargura. Oh, céus! E aí, qual será que foi? É o que saberemos agora, em mais uma análise mara do Pizza Fria!
Que doideira, cara!
Uma das piores coisas da vida, leitores e leitoras, são as promessas de ano novo. Irei me exercitar mais, começar aquele hobby que nunca tentei, aprender a tocar violão ou tentar subir o monte Everest sem equipamentos tipo o que o povo maluco de Final Fantasy VII fez. Vários sonhos que, na maioria das vezes, não se concretizam. Como dizem por aí, c’est la vie.
Do meu lado, me prometi parar de abusar das balinhas de goma e sundaes de morango. Afinal, as doses cavalares de doces e guloseimas estavam começando a romper meus elos, notadamente frágeis, com a realidade. Mas, como já imaginam, acabei abusando nas sobremesas e creio que o esforço do meu corpo para quebrar todo o açúcar acabou me fazendo ter uma experiência transcendental.
Nela, joguei um metroidvania muito louco chamado ULTROS, possuidor de algumas mecânicas bem intrigantes e um estilo visual verdadeiramente único. Se bem me lembro, essa vibe é chamada biopunk, por unir a carne e a máquina em uma única entidade. Bem interessante, não é mesmo? Bom, deixemos de lado meus devaneios de sempre e nos foquemos no que interessa: será que esse joguenho é dos bons?
História
ULTROS conta a história da protagonista, uma cosmonauta que acorda dentro de uma nave/sarcófago que serve como local de descanso e aprisionamento de uma entidade transcendental chamada Ultros (mas não aquela que cantava ópera e atacava jangadas). Como toda desgraça pouca é bobagem, nossa heroína ainda descobre que o lugar está preso em um ciclo infinito de destruição e renovação que não parece ter fim. Ou será que tem?
Para resolver essa questão, e se possível dar o fora dessa pocilga, nossa chegada precisará explorar a nave de uma ponta até outra, ciclo por ciclo, a fim de tentar encontrar um modo de destravar o loop, impedir que Ultros se livre e, com sorte, sair dali com vida. Além dela, outros personagens também habitam o local, cada qual com suas personalidades, motivações e particularidades. Eles, junto com a atmosfera, são a cola que mantém a narrativa unida.
A trama de ULTROS é exposta de uma maneira bem leve, com poucos diálogos, deixando a exploração e observação como maiores forças que mantém as coisas andando em frente. Por um lado isso é bom, pois dá ao jogador um mistério para resolver que, em um lugar como esse, é o que não falta. Mas, por outro lado, me senti mais confuso do que tudo em alguns momentos, e achei que algumas respostas mais claras seriam uma boa mudança de paradigma.
Jogabilidade
Em sua alma, ULTROS é um bom e velho metroidvania. Sendo assim, exploramos um extenso mapa em duas dimensões enquanto ficamos fortes enfrentando inimigos e conseguindo melhorias que nos permitem encontrar novos segredos e acessar outras partes da nave. Habilidades como pulos duplos, planar, e mais algumas coisas que não vou dar spoiler aqui.
Além disso, o título aposta na ideia de ciclos, remontando muito ao que vemos nos rogues da vida. Toda vez que chegamos até um determinado lugar, e fazemos uma determinada coisa, a entidade faz o tempo voltar e o ciclo reiniciar. Voltamos lá do começo, quando nossa protagonista acorda, sem nossas habilidades ou um equipamento que nos permite explorar mais lugares. Contudo, o layout das coisas muda, e cada ciclo nos deixa mais equipados para enfrentar as tretas do sarcófago.
Além disso, ULTROS nos permite encontrar certos itens que “travam” algumas habilidades, garantindo que teremos acesso elas desde o começo. Do contrário, precisaremos nos focar em matar inimigos, comer as partes que eles deixam para ganhar experiência e, então, comprar todas as skills novamente. Admito que achei um esquema engenhoso, pouco visto na praça e muito bem explorado aqui.
O lance do sarcófago reiniciar e mudar também é legal, mas senti que acabei ficando perdido em alguns momentos sem saber onde minha habilidade ia ajudar. Fiquei um pouco frustrado, mas nada que um pouco de exploração não resolva. Outro ponto maneiro é que podemos plantar várias árvores alienígenas, que servem tanto como fonte de alimento quanto apoio para alcançar lugares mais altos ou correr em paredes. Além disso, a permanência de algumas entre ciclos ajuda na hora de acelerar pelos lugares que já conhecemos.
Do lado da ação, ULTROS nos entrega um grande foco no combate corpo a corpo e na variação de golpes. Matar os monstros com criatividade e variedade faz com que derrubem alimentos mais nutritivos, aumentando a experiência que ganhamos. Para dar essa mexida, podemos contar com combos curtos, um deslize para se esquivar, contra-ataques, golpes aéreos, e muito mais. A maioria deles, contudo, precisa ser liberado em cada ciclo ou travado para não esquecermos. As coisas da vida, não é mesmo?
Fora isso, estamos sempre correndo e pulando de um lado para o outro. Eu senti um pouco de dificuldade com a movimentação, muito devido a algumas pequenas ações da protagonista. Tenho a vívida impressão de que ela dá uma cambalhota sempre que sobe ou pula nas coisas, e isso me fazia ter uma dificuldade considerável de acertar um ou outro pulo mais maldoso. Mas, tudo em tudo considerado, o jogo controla bem.
Por fim, acho apenas que ULTROS poderia expandir um pouco mais o combate com diferentes tipos de armas e mais habilidades, talvez, em linha com o que vemos em outros títulos do gênero. Nesse caso, sendo mais com a finalidade de aprimorar e expandir as boas mecânicas já implementadas.
Sons e Visuais
Um dos pontos mais impactantes de ULTROS, de longe, é seu visual. O jogo é cheio de cores e formas, criando um quadro psicodélico e maluco que tanto chama nosso olhar quanto nos deixa impressionados. Somando com animações bem executadas, temos um título que é bonitão e sabe disso. Contudo, por algumas vezes o excesso de informações e estímulos pode dar uma bugada na nossa cabeça.
Do lado sonoro, temos efeitos muito bem feitos e utilizados corretamente para tanto aumentar a atmosfera quanto dar a ideia de que estamos numa nave viva, cheia de carnes e maluquices. Quanto às músicas, não senti muito impacto nas que ouvi, sendo mais para manutenção do ritmo do que tudo.
Vale a pena comprar ULTROS?
É chegada a hora, pequenas formas biológicas habitantes da esfera de água e terra. Será que ULTROS vale o investimento de nosso suado papel moeda? Bom, hora de juntar as pecinhas que lançamos na massa disforme até agora e tentar chegar a uma conclusão. Logo de cara, podemos dizer coisas alegres e felizes da apresentação do jogo, com seus visuais coloridos e malucos, além de uma aplicação interessante do conceito de ciclos e reinícios.
Além disso, temos uma jogabilidade divertida em uma nave que sempre muda, na qual sempre estamos indo mais e mais longe a cada mudança. Somando ao combate agradável, chegamos em um jogo que agrada e não irrita demais. De negativo, citaria apenas o fato de que é muito fácil se perder e ficar confuso sobre onde ir em alguns momentos, que o combate e movimentação poderiam ser um pouco mais refinados e que os visuais podem causar confusão.
Mas, no fim das contas, ULTROS é um boa pedida para os fãs do gênero. Estava vendo de títulos de ponta no gênero, TEVI e Astlibra, e devo dizer que essa doideira maravilhosa no espaço me agradou demais. Se curte metroidvanias pode ir sem medo, não irá se arrepender.
ULTROS tem o lançamento marcado para o dia 13 de fevereiro para PC, via Steam e Epic Games Store, PlayStation 4 e PlayStation 5.
*Review elaborada no PlayStation 5, com código fornecido pela Kepler Interactive.
Pizza Fria
Reviews, notícias e tudo sobre o mundo dos gamesPor Matheus Jenevain, Pizza Fria
Atualizado em 12 Fev 2024.