Com certeza você já leu algum livro (ou ouviu falar a respeito) que foi escrito em um tempo muito distante e pensou "não é possível, se encaixa em tudo que estamos vivendo agora". Sim, algumas obras extremamente antigas parecem ter sido escritas nos dias de hoje, não apenas pela forma da narrativa, mas, principalmente, pelos temas e conflitos abordados - algo que é surpreendentemente incrível.
Pensando nisso, o Guia da Semana lista 10 livros incríveis e antigos que se fazem atuais nos dias de hoje. Confira:
1984 (1949)
No último romance de George Orwell, Winston vive aprisionado na engrenagem totalitária de uma sociedade completamente dominada pelo Estado, onde tudo é feito coletivamente, mas cada qual vive sozinho. Ninguém escapa à vigilância do Grande Irmão, a mais famosa personificação literária de um poder cínico e cruel ao infinito, além de vazio de sentido histórico. De fato, a ideologia do Partido dominante em Oceânia não visa nada de coisa alguma para ninguém, no presente ou no futuro. O’Brien, hierarca do Partido, é quem explica a Winston que 'só nos interessa o poder em si. Nem riqueza, nem luxo, nem vida longa, nem felicidade - só o poder pelo poder, poder puro.'
ADMIRÁVEL MUNDO NOVO (1932)
Uma sociedade inteiramente organizada segundo princípios científicos, na qual a mera menção das antiquadas palavras 'pai' e 'mãe' produzem repugnância. Um mundo de pessoas programadas em laboratório, e adestradas para cumprir seu papel numa sociedade de castas biologicamente definidas já no nascimento. Um mundo no qual a literatura, a música e o cinema só têm a função de solidificar o espírito de conformismo. Um universo que louva o avanço da técnica, a linha de montagem, a produção em série, a uniformidade, e que idolatra Henry Ford.
UBIK (1969)
Em uma sociedade futurista, Glen Runciter é dono de uma empresa responsável por rastrear psis, indivíduos com habilidades especiais, como telepatas e precogs. Ele e seus funcionários caem na armadilha de uma empresa rival, e Runciter morre. Seus funcionários passam a receber estranhas mensagens de Runciter em moedas e embalagens de cigarro. O tempo começa a retroceder e eles terão que lutar contra a degeneração física e mental. A solução pode estar no spray Ubik, mas, conforme a trama se desenvolve, fica menos claro quem realmente precisa ser salvo.
INFINITO EM TODAS AS DIREÇÕES (2000)
Este livro é uma versão das conferências Glifford que o físico Freeman Dyson proferiu na Escócia, em 1985. Falando da origem do universo, de ética ou de política, suas teorias estão sempre voltadas para a pesquisa e a preservação daquilo que, para ele, é o maior dom que a vida trouxe ao nosso planeta - a diversidade.
PARIS É UMA FESTA (1964)
O livro revela um Hemingway diferente. Em Paris, aos 22 anos, ele lê, pela primeira vez, clássicos como Tolstói, Dostoievski e Stendhal. Convive com Gertrude Stein, James Joyce, Ezra Pound, F. Scott Fitzgerald, figuras polêmicas e encantadoras para o jovem autor. A cidade e esses 'companheiros de viagem' deram-lhe nova dimensão do humano e maior sensibilidade para alcançar os seus dois objetivos primordiais na vida - ser um bom escritor e viver em absoluta fidelidade consigo próprio. Há, em 'Paris é uma festa', momentos de suave melancolia, alternados com outros de cortante, quase selvagem crueldade.
A PALAVRA PINTADA (1975)
Escrito na época pré internet, Tom Wolf ironiza a questão da arte. De Pollock aos minimalistas, passando especialmente pelos críticos norte-americanos do pós-guerra, ninguém escapa ao humor mordaz e à lucidez de Wolfe. Publicado originalmente em 1975, esta obra-prima ganhou um epílogo em 1981 e permanece atual até hoje, pois continua questionando e fazendo pensar todos aqueles que se interessam pela arte e não apenas pela teoria por trás dela.
EU, ROBÔ (1940)
'Eu, robô' reúne os primeiros textos de Isaac Asimov sobre robôs, publicados entre 1940 e 1950. São nove contos que relatam a evolução dos autômatos através do tempo, e que contêm em suas páginas, pela primeira vez, as célebres 'Três Leis da Robótica' - os princípios que regem o comportamento dos robôs e que mudaram definitivamente a percepção que se tem sobre eles na literatura e na própria ciência.
ANDRÓIDES SONHAM COM OVELHAS ELÉTRICAS? (1968)
Ao contrário da maioria da população que sobreviveu à guerra atômica, não emigrou para as colônias interplanetárias após a devastação da Terra, permanecendo numa San Francisco decadente, coberta pela poeira radioativa que dizimou inúmeras espécies de animais e plantas. Na tentativa de trazer algum alento e sentido à sua existência, Deckard busca melhorar seu padrão de vida até que finalmente consiga substituir sua ovelha de estimação elétrica por um animal verdadeiro; um sonho de consumo que vai além de sua condição financeira. Um novo trabalho parece ser o ponto de virada para Rick: perseguir seis androides fugitivos e aposentá-los. Mas suas convicções podem mudar quando percebe que a linha que separa o real do fabricado não é mais tão nítida como ele acreditava. Em "Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?", Philip K. Dick cria uma atmosfera sombria e perturbadora para contar uma história impressionante, e, claro, abordar questões filosóficas profundas sobre a natureza da vida, da religião, da tecnologia e da própria condição humana.
A MÃO ESQUERDA DA ESCURIDÃO (1969)
Genly Ai foi enviado a Gethen com a missão de convencer seus governantes a se unirem a uma grande comunidade universal. Ao chegar no planeta Inverno, como é conhecido por aqueles que já vivenciaram seu clima gelado, o experiente emissário sente-se completamente despreparado para a situação que lhe aguardava. Os habitantes de Gethen fazem parte de uma cultura rica e quase medieval, estranhamente bela e mortalmente intrigante. Nessa sociedade complexa, homens e mulheres são um só e nenhum ao mesmo tempo. Os indivíduos não possuem sexo definido e, como resultado, não há qualquer forma de discriminação de gênero, sendo essas as bases da vida do planeta. Mas Genly é humano demais. A menos que consiga superar os preconceitos nele enraizados a respeito dos significados de feminino e masculino, ele corre o risco de destruir tanto sua missão quanto a si mesmo.
2001, UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO (1968)
No alvorecer da humanidade, a fome e os predadores já ameaçavam de extinção a incipiente espécie humana. Até que a chegada de um objeto impossível, além da compreensão das mentes limitadas do homem pré-histórico, prenunciasse o caminho da evolução. Milhões de anos depois, a descoberta de um enigmático monolito soterrado na Lua deixa os cientistas perplexos. Para investigar esse mistério, a Terra envia para o espaço uma nave tripulada por uma equipe altamente treinada, assistida por um computador autoconsciente. Do passado distante ao ano de 2001, da África a Júpiter, dos homens-macacos à inteligência artificial HAL 9000, penetre a visão de um futuro que poderia ter sido, uma sofisticada alegoria sobre a história do mundo idealizada pela mente brilhante de Arthur C. Clarke e imortalizada nas telas do cinema por Stanley Kubrick.
Por Nathália Tourais
Atualizado em 13 Out 2016.