Estudar sobre o racismo e promover obras por artistas negros são algumas das formas de contribuição para o movimento negro. Na história da literatura, os autores negros que chegam à notoriedade são minoria. Eles ou são esquecidos, ou não alcançam as prateleiras das livrarias. Isso se reflete na curadoria de feiras literárias, nas vitrines das lojas e nos prêmios da área. Mas, há aqueles que conseguem se destacar por sua genialidade e representam todos estes escritores que não tiveram suas vozes ouvidas.
Pensando nisso, o Guia da Semana trouxe 10 autores negros que você precisa conhecer o quanto antes e aprender com sua literatura. Confira:
► CONCEIÇÃO EVARISTO
Conceição Evaristo é uma das vozes mais importantes da literatura brasileira contemporânea. Sua história é comparada a de Carolina de Jesus, pois antes de ser escritora, ela era empregada doméstica (até os 25 anos). Hoje, ela é doutora em literatura comparada e escreve sobre a condição da mulher negra. Ela tem uma voz que faz todos do ramo reverem suas posturas.
Quando abriu uma vaga na Academia de Literatura Brasileira, houve comoção popular para que ela ganhasse o posto. Além disso, ela deu voz aos autores periféricos que possuem dificuldades para entrar no mainstream literário, o que levou à revisão da curadoria da Flip, a Feira Literária Internacional de Paraty. Dentre suas obras, os destaques são “Ponciá Vicêncio”, “Poemas da recordação e outros movimentos” e “Olhos d’água”.
► CAROLINA MARIA DE JESUS
Carolina Maria de Jesus era catadora de sucata e morava na favela do Canindé, onde hoje é o estádio da Portuguesa, em São Paulo. O jornalista Audálio Dantas estava fazendo uma reportagem sobre as condições de viver naquele local quando viu Carolina de Jesus ameaçando crianças de “colocá-las no seu livro”.
Ele, curioso, foi perguntar a ela que livro era aquele. Foi assim que “Quarto de despejo” foi descoberto e virou um sucesso imediato, consagrando Carolina de Jesus entre os grandes autores brasileiros. Com a publicação, ela conseguiu sair da miséria e ganhar a vida sendo escritora.
► TONI MORRISON
Toni Morrison foi a primeira mulher negra a ganhar o prêmio Nobel de Literatura, e sua ficção trata sobre a questão racial nos Estados Unidos. Seu livro mais conhecido é “Amada”, que explora as lembranças do passado da escravidão de uma família que se mudou para o Norte, onde a escravidão não era mais permitida. Porém, os fantasmas do passado continuam a pairar sobre suas cabeças, enquanto tentam deixar aquela vida para trás.
► OCTAVIA E. BUTLER
Butler é conhecida como a “grande dama” da ficção científica, o que é um grande feito já que o gênero é predominado por homens. Seu livro “Kindred: Laços De Sangue”, publicado em 2017, fala sobre uma mulher negra contemporânea que viaja no tempo para o passado e começa a conviver com seus antepassados - um fazendeiro branco e a escrava negra por quem ele era obcecado. Ela envolve os leitores com sua escrita e ainda busca tratar sobre questões raciais dentro de sua literatura.
► MARIA FIRMINO DO REIS
Maria Firmino do Reis é maranhense e escreveu seu primeiro romance 30 anos antes da abolição da escravidão, chamado “Úrsula”. A história fala sobre um amor juvenil entre um senhorzinho e uma sinhá moça, mas, com memórias de duas personagens escravas, que descrevem a vida em cativeiro e no navio negreiro.
Ela era professora, abolicionista e dava aula numa escola para meninas no interior do estado. Maria Firmino foi esquecida por muito tempo, mas hoje é celebrada pela publicação de “Úrsula”, que pode parecer um romance simples à primeira vista, mas carrega as memórias escravas entre as páginas.
► ELIANA ALVEZ CRUZ
Eliane Alvez Cruz é jornalista do “The Intercept Br” e escritora carioca. Participou da antologia chamada “Perdidas, Histórias Para Crianças Que Não Tem Vez”, da Imã Editorial. Já em 2018, lançou o livro “O Crime dos Cais do Valongo”, romance histórico policial com alguma dose fantástica. Porém, sua obra individual de estreia foi "Água de barrela", que fala sobre as mulheres negras que trabalham para as patroas brancas, seja lavando roupa ou faxinando suas casas.
► PAUL BEATTY
Paul Beatty é um escritor americano, professor na Columbia University e ganhador do prêmio “The Man Booker Prize”, o maior prêmio da literatura em língua inglesa. Ele é uma das novas vozes da ficção norte-americana, e seu livro “O vendido”, publicado em 2017, fala com humor sobre questões de raça e de identidade.
Eu, o narrador de “O vendido”, passou a maior parte da juventude como cobaia para estudos raciais realizados por seu pai, um polêmico sociólogo. Quando o pai é subitamente morto em um tiroteio com a polícia e é anunciado que Dickens será varrida do mapa da Califórnia por motivos políticos e econômicos, Eu tenta salvar a cidade através de um controverso experimento social: instalar uma segregação racial às avessas.
► DJAMILA RIBEIRO
Djamila Ribeiro é filósofa, escritora e professora brasileira, muito conhecida por ser voz do movimento feminista e negro. Formou-se como doutora em filosofia política pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e é colunista do jornal “Folha de São Paulo”. Seus livros servem como manifesto para os movimentos, e você pode aprender muito com suas obras. Para entender sobre racismo, comece com "Pequeno manual antirracista", que foi lançado em 2019. Já se quiser entender sobre feminismo interseccional, procure "Quem tem medo do feminismo negro", de 2018.
► CHIMAMANDA NGOZI ADICHIE
Chimamanda é uma escritora nigeriana muito reconhecida por sua voz como feminista e negra. Seus romances a apresentam como destaque da literatura africana, e ela obteve muito sucesso com seu primeiro livro, “Hibisco roxo”, de 2003, e o segundo, “Meio sol amarelo”, de 2006.
Chimamanda possui uma carreira acadêmica elogiável, com passagens nas Universidades Johns Hopkins e Yale. Seu mais novo livro se chama "Para educar crianças feministas", e foi publicado em março de 2017. A origem desta obra se baseia em uma carta escrita para uma amiga que havia pedido seu conselho de como educar sua filha como feminista.
► ANGELA DAVIS
Angela Davis é um nome importante do movimento negro, pois participou do Partido Comunista nos Estados Unidos e dos Panteras Negras. Ela denunciava muitas injustiças sociais, raciais e de gênero, e foi protagonista de um dos julgamentos criminais mais importantes dos Estados Unidos.
Seu livro mais famoso, "Mulheres, raça e classe", é considerado um clássico sobre a interseccionalidade de gênero, raça e classe, e fala muito sobre as lutas anticapitalista, feminista, antirracista, antiescravagista e sobre os dilemas contemporâneos das mulheres. É uma leitura espetacular e essencial para entender o movimento negro.
Por Lidia Capitani
Atualizado em 13 Jul 2020.