Guia da Semana

Teoricamente, todo jornalista lê muito. Entretanto, a regra não é praticada por todos os profissionais da área. Por incrível que pareça, muitos jornalistas não têm o costume de ler e, sem dúvida alguma, isso prejudica na hora de efetuar o trabalho e colocar a mão na massa - seja escrevendo, na frente ou por trás das câmeras.

O fato é que independente da área de atuação, existem algumas obras que se encaixam para todo profissional. Por isso, o Guia da Semana listou 10 livros que todo jornalista deveria ler. Confira:

OS ELEMENTOS DO JORNALISMO

Essa é uma obra voltada para todos os jornalistas que querem compreender melhor os caminhos da comunicação social e de que modo ele pode/deve enfrentar os desafios da profissão. Resultante das reflexões dos autores, mas também de uma auscultação de opiniões entre jornalistas, estudiosos dos 'media' e membros do público, este livro preocupou-se, sobretudo, em saber o que é que o jornalismo deve ser.

A NOTÍCIA COMO FÁBULA

Esta obra examina a forma pela qual a realidade e a ficção se entrelaçam nos textos jornalísticos. O foco dirige-se ao âmbito jornalístico, com base na análise de textos publicados em diferentes veículos e em épocas diversas. Partindo da hipótese de que aquilo que se considera como 'fato' e 'imaginação' tem limites mais tênues e permeáveis do que comumente se supõe, o autor desvenda mecanismos presentes no processo de ficcionalização do texto, conforme atuem de modo direto ou indireto. O objetivo da obra é estimular a consciência crítica das novas gerações de jornalistas, contribuindo para uma postura diferente no trato da informação e no ofício da escrita.

O SEGREDO DE JOE GOULD

Em 1942, Joseph Mitchell publicou nas páginas da revista ‘The New Yorker’ o perfil de um literato maltrapilho que vivia perambulando pelo Greenwich Village, bairro boêmio de Nova York. O personagem chamava-se Joe Gould e a reportagem revelava que, apesar de ele viver como um mendigo – ele dormia em pensões baratas, albergues e, às vezes, até na rua –, Gould preparava uma obra monumental: ‘História oral do nosso tempo’. Gould morreu em 1957 e o livro que vinha escrevendo nunca foi encontrado (não se sabia, então, nem mesmo se chegará de fato a existir). Em 1964, sete anos após a morte de Gould e mais de vinte anos após o perfil da ‘The New Yorker’, Joseph Mitchell escreveu para a mesma revista outro texto sobre o boêmio do Village – ‘O segredo de Joe Gould’ –, revelando o mistério guardado por tanto tempo.

O OLHO DA RUA

A autora apresenta uma reflexão sobre o ofício de repórter. Para cada reportagem, a jornalista escreveu um texto sobre os dilemas que enfrentou, as escolhas que fez e os erros que cometeu. 'O olho da rua' pode ser indicado para quem quer se tornar repórter - ou mesmo para quem já é, mas acredita que a prática da profissão exige reflexão constante.

A SANGUE FRIO

O americano Truman Capote foi um escritor versátil: produziu textos de qualidade em vários gêneros, mas sua grande obra foi o romance-reportagem ‘A Sangue Frio’, que conta a história da morte de toda a família Clutter, no Kansas, e dos autores da chacina. Capote decidiu escrever sobre o assunto ao ler no jornal a notícia do assassinato, em 1959. Quase seis anos depois, em 1965, a história foi publicada em quatro partes na revista ‘The New Yorker’. Além de narrar o extermínio do fazendeiro Herbert Clutter, de sua esposa Bonnie e dos filhos Nancy e Kenyon – uma típica família americana dos anos 50, pacata e integrada à comunidade –, o livro reconstitui a trajetória dos assassinos. ‘A Sangue Frio’ é um marco na história do jornalismo e da literatura dos Estados Unidos. Considerado uma reflexão sutil sobre as ambiguidades do sistema judicial do país, o texto desvenda o lado obscuro do sonho americano.

ABUSADO

Este livro é uma lição sobre a lógica, os meandros e o 'modus operandi' das corporações criminosas que comandam o tráfico de drogas e outras atividades ilegais no Estado. Através da história de Juliano VP – sua infância, adolescência, entrada e ascensão no tráfico de drogas na favela Santa Marta (em Botafogo, bairro de classe média) –, temos um retrato da ocupação do morro pelo Comando Vermelho e da implantação de sua disciplina. Mas não é apenas um livro sobre a história do tráfico. Juliano é um personagem fascinante, um criminoso com refinado gosto literário, preocupado com o destino da comunidade favelada do Rio de Janeiro e cujos contatos iam dos violentos chefes do CV até importantes intelectuais cariocas.

CHATÔ - O REI DO BRASIL

Dono de um império de quase 100 jornais, revistas, estações de rádio e televisão - os Diários Associados - e fundador do MASP, Assis Chateaubriand, ou apenas Chatô, sempre atuou na política, nos negócios e nas artes como se fosse um cidadão acima do bem e do mal. Mais temido do que amado, sua trajetória está associada à vida cultural e política do país entre as décadas de 1910 e 1960.

VIDA DE ESCRITOR – GAY TALESE

Este livro fala sobre o ofício da escrita e os possíveis reveses que acometem aos que por ele se aventuram, onde o autor relata sua vida e, especialmente, sua carreira. Os dramas começam no jornalzinho da faculdade (de baixa reputação) que cursou no Alabama. Prosseguem nos 10 anos que trabalhou como repórter do ‘New York Times’, no qual entregava suas matérias de última hora e sempre reclamava das alterações e cortes feitos por redatores. E se tornam mais complexos nas revistas com as quais passou a colaborar.

A APURAÇÃO DA NOTÍCIA

O jornalista e professor Luiz Costa Pereira Junior disponibiliza nesta obra muito mais do que técnicas e métodos para os profissionais e estudantes da área. Sabe-se que atualmente é grande o despreparo dos jornalistas nas redações e as queixas recaem justamente nas instituições de ensino superior. Este livro é uma proposta de mudança de sistema e não de adaptação do meio.

A HISTÓRIA DO JORNALISMO NO BRASIL

Falar na história da imprensa no Brasil é falar da nossa própria história. Nela mesma podemos enxergar, com olhos analíticos e isentos, tanto os momentos em que a imprensa lutou contra governos autoritários, pagando um alto preço, quanto naqueles em que foi, no mínimo, partícipe de sistemas políticos antidemocráticos, alavancada por uma pressão de mídia até então nunca vista, e cuja proeza política sucumbiu, até por ironia, através de matérias publicadas nas páginas de revistas e jornais pelo país. Assim, os pesquisadores Richard Romancini e Cláudia Lago oferecem uma obra em que o jornalismo se mescla com a própria história do Brasil.

Por Nathália Tourais

Atualizado em 16 Jun 2015.