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Antes de tomar meu café da manhã eu ligo o som. Sem nenhuma intenção "troacadilhesca", a música alimenta minha alma. Adoro rádio, não dispenso meus CDs, mas gosto muito de me surpreender com o que vai tocar, é muito bom ouvir de repente algo que você não ouve há muito tempo. Normalmente corro pra aumentar o volume e sempre empolgado canto alto, independente de acertar a letra ou não.
Faça um exercício. No meio de um filme, uma novela ou até um comercial em que a trama esteja perto do clímax, coloque sua TV no mudo. Pronto. Junto com o áudio, saiu a música, o clima, o sentido da cena, tudo. É impressionante. Somos seres musicais. Darwin devia ter nos batizado de homo sapiens auditivus.
Curioso é que não sou muito fã de musicais. São lindos, até gosto no cinema, mas no teatro ver o cara cantando quando abre uma porta ou uma mocinha que rega planta dando aqueles agudos acho uma água com açúcar.
Todo mundo tem um cantor dentro de si, ou pelo menos a vontade de ter. Sempre invejei aqueles meninos na escola que tocavam violão e ganhavam todas cantando música da Legião Urbana na hora do recreio. Intervalo, para os mais novos.
Antigamente - é horrível ter que falar isso, mas enfim, eu sou antigo - a gente gravava fitas cassetes e era um inferno esperar o momento certo de apertar o pause. Isso quando você gravava da rádio e o locutor falava antes de acabar a música. Quando saíram os aparelhos de som com dois decks foi uma maravilha. Hoje poder gravar um CD com suas músicas preferidas é o máximo, quem nunca comprou um por apenas duas ou três músicas que conhecia?
Tenho feito viagens longas de carro com meu espetáculo e, claro, chega uma hora que a rádio sai do ar e eu de co-piloto fico responsável pelo som. Isso tem sido uma tortura, é muito grande a diferença de idade entre as pessoas. Outro dia aconteceu uma situação hilária. Eu com receio na hora de colocar o CD da Amy Winehouse e ouvir o coro das "tiazinhas" com They tried to make me GO to rehab, but I said: ´no, no, no´.
Falo da diferença de idade porque é engraçado como nosso gosto musical muda com o tempo. E se antes eu reclamava das músicas que minha mãe ouvia, hoje quando as ouço eu adoro porque me faz lembrar dela. Meu pai, por exemplo, acordava eu e meus irmãos aos domingos pra assistir o programa Som Brasil, e isso certamente influenciou meu gosto musical.
A música tem um poder incrível. Desperta sentimentos, lembranças, fatos, pessoas que passaram pela tua vida ou que passam por ela. Pra nós atores então funciona até na construção de um personagem. Eu mesmo costumo criar uma música pra cada um que faço.
Quando amamos, sentimos saudade, quando estamos felizes ou quando queremos relaxar ou extravasar a música é um ótimo caminho. Fiz uma peça em que um dos personagens falava pra outro de uma música que tinha escolhido "pra ser nossa". Às vezes nos identificamos tanto com uma que quando acontece um fato em nossa vida parece que o compositor escreveu pensando na gente.
Estou ouvindo muito um CD que gravei e certamente vai marcar essa época da minha vida daqui a alguns anos, mas enquanto espero minha próxima trilha sonora, vou acabar por aqui e ligar o som, porque como dizia o grande Bob Marley: "A música tem uma coisa boa: quando bate você não sente dor".
Quem é o colunista: Guilherme Gonzalez.
O que faz: Paraense, radicado em São Paulo, Guilherme Gonzalez é uma mistura de ator e produtor cultural. É um dos fundadores da Cia. Teatro de Janela.
Pecado gastronômico: Sorvete de tapioca.
Melhor lugar do Brasil: Praia do Amor em Pipa (RN) bem acompanhado.
Fale com ele: gonzalezguilherme @hotmail.com
Atualizado em 6 Set 2011.