Guia da Semana

A expressão "coletivo" não é recente, mas tem surgido com cada vez mais freqüência no universo musical. Embora careça de uma definição rígida, pode ser usada para definir um grupo de músicos ou artistas que se reúne para dar vida a um novo trabalho.

De certa forma, os coletivos não deixam de ser projetos paralelos. Sua grande vantagem reside não somente no fato de agregar um amplo leque de gostos e experiências, mas em sua formação flexível, que permite uma grande rotatividade entre seus membros.

No campo artístico, grafites, stickers e outras correntes urbanas se fortalecem com a formação de diversos coletivos. Já no cinema, produções recentes, como Paris, Te Amo e Bem-Vindo A São Paulo, costuraram pequenas tramas - rodadas por gente do calibre de Amos Gitai e Gus Van Sant - em longas inteligentes, cuja diversidade de olhares sobre o mesmo tema compôs um cenário plural, dificilmente alcançado por um único diretor.

Conheça alguns dos coletivos mais badalados do momento:

ORQUESTRA IMPERIAL

Esbanjando as múltiplas formações de seus integrantes, a Orquestra Imperial tem se firmado como um dos nomes mais criativos da cena nacional. E isso se deve, em grande parte, a escalação que conta, entre outros, com Rodrigo Amarante, Kassin, Nina Becker, Thalma Freitas e Nelson Jacobina. A vocação do conjunto é relembrar gafieiras e canções que embalaram os saudosos salões, enveredando ainda por marchinhas carnavalescas apoteóticas.

INSTITUTO

A lista de parceiros do Instituto, coletivo paulistano formado por produtores musicais, abrange nomes como Otto, Nação Zumbi, Rappin´ Hood e BNegão. Não é a toa que as predileções do quarteto tangenciam o hip-hop e ritmos regionais. Com três álbuns na bagagem e participações nos festivais Sónar, em Barcelona, e Planeta Terra, em São Paulo, o Instituto arrebanhou um público cativo com o projeto Tim Maia Racional, que revisita a emblemática obra do Síndico.

NOUVELLE VAGUE

Conhecido pelas elegantes versões de clássicos do pós-punk e da new wave, o Nouvelle Vague conta com dois membros permanentes desde sua fundação: os franceses Olivier Libeaux e Marc Collins. O restante do coletivo, que passou pelo Brasil em 2007, é composto por vocalistas convidadas, como Camille, Melanie Pain e Phoebe Killdeer, entre outras. A escolha de um repertório baseado exclusivamente em covers poderia ser cansativa, mas surpreende ao injetar bossa nova e arranjos acústico em hinos do Joy Division, The Cure e Depeche Mode.

UNDERGROUND RESISTANCE

Mais do que um coletivo, o Underground Resistance é um selo e, mais especificamente, um grupo que tem suas raízes fincadas na old school de Detroit. Primam pela intensa combinação de instrumentos - saxofone, percussão, teclados e sintetizadores são alguns deles - e pela capacidade de revestir o techno primitivo com texturas distintas. Daí, hits que bateram ponto nas pistas durante os anos 1990, como Knights Of The Jaguar e Hi-Tech Jazz.

Com uma clara ascendência dos pioneiros da música eletrônica, notadamente os alemães do Kraftwerk, o Underground Resistance destacou-se nas últimas duas décadas com o projeto Galaxy 2 Galaxy - uma extensão ao vivo de suas criações em estúdio. Em 2007, o coletivo liderado por Mad Mike se apresentou pela primeira vez no Brasil, durante o Nokia Trends, em São Paulo.

BROKEN SOCIAL SCENE

A cena indie tem no Broken Social Scene um de seus principais coletivos. Com quase duas dezenas de membros itinerantes - dentre os quais a badalada cantora Leslie Feist -, o conjunto afirmou o poderio crescente do rock canadense com quatro elogiados álbuns. Nos últimos anos, faixas do BSS têm povoado seriados de TV, como The L World e Nip/Tuck, além de filmes independentes, a exemplo de Snow Cake, de Marc Evans.

THE NEW PORNOGRAPHERS

Também surgido no Canadá, mais precisamente na gélida Vancouver, o The New Pornographers reúne integrantes de pequenas bandas locais inspiradas pelo rock sessentista. Talvez seja um dos melhores exemplos de como a união de artistas desconhecidos do grande público em um projeto maior possa render bons frutos. Embora nenhum dos grupos encabeçados por seus atuais membros ecoe além das fronteiras canadenses, o último álbum do The New Pornographers, Challengers, vendeu mais de 200 mil cópias em poucas semanas.

SUN RA ARKESTRA

Em quase meio século de existência, a Sun Ra Arkestra já mergulhou nas vertentes mais experimentais do jazz, desdobrando o fusion e a vanguarda instrumental em sonoridades desconcertantes, além de flertar com pós-rock e abrir concertos para bandas como Sonic Youth e Yo La Tengo.

Criada por Herman P. Blount (1914 - 1993), nome de batismo de Sun Ra, a orquestra é responsável por intensificar o intercâmbio entre sintetizadores e metais, e mais ainda por concertos hipnóticos, que extravasavam o misticismo cósmico que fez a cabeça de seu líder. Em plena atividade, o conjunto preenche todos os requisitos de um autêntico coletivo, com um sem número de instrumentistas provenientes de distintas formações jazzísticas.

Atualizado em 6 Set 2011.