VICIANTE
"As cinzas que nunca somem
o pó de tudo que se desfaz
se reproduz
e voa
tudo que voa
e chega e some
e continua...
cinza que é preto com branco
que retorna e se une e renasce".
Em meados do ano passado, recebi o EP de um tal grupo chamado O Quarto das Cinzas. Apesar de ter sido recomendado por alguns amigos "confiáveis" juro, pelo nome estranho achei que fosse mais um daqueles grupos de rock choroso que estavam começando a pipocar pela cena.
Mas a minha má expectativa acabou assim que apertei o play: algumas faixas de A Chave não saíram do meu iPod por alguns meses seguidos. A música envolvente, hora eletrônica dançante, ora melancólica era boa demais de se ouvir! Ah sim, o nome (e a essência) da banda é explicado nos versos acima e é sempre declamado nos shows.
Como consta no release, o som do Quarto é difícil de explicar porque incorpora vários estilos musicais diferentes. Eu diria que é um trip-hop (um tipo de música eletrônica assim mais ´água com açúcar´, pra resumir rapidinho) com MPB. Escrevendo assim, nenhuma novidade. Acho que você já leu (e ouviu) isso em algum lugar, não?
Pois é, foi no palco que a banda ganhou meu ´adoooro´ definitivo. Sob os holofotes, as faixas de A Chave ganham ainda mais graça. Circulares tem o charme da guitarra à la Postishead. A etérea Flora Pura faz sonhar. Anoiteço e principalmente Incontrolável fazem todo mundo se mexer horrores. E finalmente Viciante, disparado a minha favorita (não tem como não ficar cantando o refrão por uns dias).
Ela também lembra dos Doces Bárbaros (Gil, Caetano, Betânia e Gal) e de Clara Nunes e "seus cantos de sereia" (e aqui eu abro um parêntese, porque até o figurino da Laya tem um quê de Clara Nunes, com vestidões brancos e flores no cabelo). Das cantoras contemporâneas, ela cita "uma rainha chamada Bjork", Lauryn Hill e Emillie Simon.
O Quarto das Cinzas existe desde 2003 e começou em Fortaleza. Laya conheceu Carlos Gadelha (guitarrista) durante o espetáculo Bagaceira, a Dança dos Orixás, onde ela dançava e ele fazia a trilha musical com seu grupo da época, o Unit. Lançaram no mesmo ano um CD demonstrativo produzido por David Brasileiro, antigo integrante e um dos fundadores do Quarto. Desde então, a banda teve várias formações, até a mudança definitiva para São Paulo, quando o baixista Raphael Haluli se uniu à trupe. Sobre trocar o sol do nordeste pela "Terra da Garoa", Laya comenta: "Pra mim Sampa é como uma ponte. Fomos percebendo que precisávamos vir atrás do nosso sonho, o músico tem essa missão mesmo né? De mensageiro, de andante. Fortaleza é uma cidade linda, adoramos nossa terra, fazemos muitos bons shows lá, mas pra expandir nosso trabalho percebemos que São Paulo é uma boa opção".
Para ouvir e saber mais:
Trama Virtual
Myspace
Show no idch - 07 de março
www.idch.art.br
Quem é o colunista: Miss Má é jornalista formada em 98 pela Metodista de SBC.
O que faz: É professora de educação infantil, e dj e produtora (e agora colunista) nas horas vagas. Comanda o projeto quinzenal "Rockload", as terças-feiras no Studio SP.
Pecado gastronômico: batata frita e pizza (não juntos necessariamente!)
Melhor lugar do Brasil: Sampa. Sempre Sampa.
Atualizado em 6 Set 2011.