Foto: Ezequiel Lopez/ Site Oficial: www.djmagal.com.br |
Quem disse que ser DJ não põe mesa? Casado e com duas filhas pequenas, Magal consolidou carreira nos picapes. Desde 1983 na cena, ele completa um quarto de século inteiramente dedicado à música eletrônica. Com cinco discos no currículo, três residências e convites mil para tocar em todos os bons clubs do circuito off playboy da capital, o paulista está lançando disco novo e programando a agenda que inclui apresentações no exterior. Em entrevista ao Guia da Semana, Magal dá mais detalhes de suas influências e mostra sua visão atual sobre a e-music por aí.
Guia da Semana Nesses 25 anos de carreira, o que você viu de positivo e negativo no desenvolvimento da cena eletrônica no Brasil?
Magal A cena no todo está muito boa. Nossos clubs estão no nível internacional, temos uma imprensa especializada, bons festivais... Isso é muito positivo. O aspecto negativo é que isso não tem acontecido nas outras cidades e, quando acontece, é numa velocidade diferente da de São Paulo.
GDS Seu primeiro emprego nos picapes foi no Madame Satã. Como era a cena da época?
Na época, o Madame Satã era um club de vanguarda, o público era formado por pessoas normais, artistas, punks e tudo o mais. Lá eu tocava coisas de selos independentes ingleses. Tocava isso porque eu gostava e porque o público estava preparado. Tudo era novidade, não existiam muitos clubs, os que tinham na época eram o Madame, Carbono 14 e o Rose Bom Bom.
GDS De lá pra cá, seu som passou por quais vertentes?
Eu comecei em 1983 tocando New Wave e Pós Punk. Depois eu fui pro EBM, New Beat, Industrial, House, Acid House, Garage, Big Beat, Breakbeat, Electro e finalmente o Techno. Estou adorando tocar Techno por causa de suas variações, do funk ao minimal, do EBM ao electro.
Top 10 Madame Satã - 1983 1 New Order - Blue Monday 2 Test Dept - The Faces of Freedom 3 Section 25 - Inspiration 4 Quando Quango - Atom Rock 5 The Sisters Of Mercy - Alice 6 This Mortal Coil - Drugs 7 The Smiths - How Soon Is Now 8 Alien Sex Fiend - E.S.T. Trip to The Moon 9 Joy Divison - Love You Tear Us Apart 10 Cocteau Twins - Lorelei |
Foto: Ezequiel Lopez/ Site Oficial: www.djmagal.com.br |
GDS O que você acha da "invasão" de DJs gringos no Brasil?
Eu acho ótimo! É legal você poder ouvir um DJ de fora aqui. Às vezes um set baixado na Internet não é referência. Ao vivo é sempre melhor. Todo tipo de intercâmbio cultural é valido.
GDS Aqui no Brasil as pessoas costumam vangloriar DJs gringos, às vezes sem nem saber direito quem ele é. Lá fora acontece o mesmo? Como é ser ícone da e-music brasileira no exterior?
O que existe é uma curiosidade natural. Se um grande produtor vem tocar aqui, as pessoas querem ouvir para saber se ele é realmente bom ao vivo. E isso não é diferente lá fora. Ser ícone da e-music é uma grande responsabilidade e eu gosto disso. Me faz ter muito mais motivação para continuar trabalhando e pesquisando.
GDS O que você achou de a Tati Quebra Barraco fazer show no primeiro baile funk de Londres? Você tem vergonha de o Brasil ser lembrado musicalmente por ritmos com o funk carioca?
Londres é uma cidade que transpira música por todos os lados. Lá você pode ver e ouvir shows de rock, música eletrônica, música brasileira e tudo mais que você imaginar. Quando eu fui para lá, em 2005, o DJ Marlboro estava em tour, portanto isso não é novidade para mim. O funk é um estilo genuinamente carioca, portanto, brasileiro. Não tenho vergonha disso.
GDS O que você não escuta de jeito nenhum? O que você não toca de jeito nenhum?
M Não escuto Axé e nem tocaria. Aliás, perdi um emprego porque me neguei a tocar esse estilo.
GDS Em que as rádios FM daqui pecam? Como seria a divulgação ideal e democrática de música eletrônica por meio desse veículo?
As rádios daqui acham que nós só ouvimos um tipo de música. Não existe uma rádio que toque só Disco, 80´s ou música eletrônica underground em sua programação. O problema é que essas rádios precisam de audiência para sobreviver e o público que ouve esse tipo de musica é minoria. Existem alguns programas que divulgam a música eletrônica de maneira séria, porque eles são feitos por pessoas envolvidas na cena. No momento, essa é a única maneira de divulgar esse tipo de música para uma massa.
Foto: João Sal/ Site Oficial: www.djmagal.com.br |
GDS Quem são os "caras" da e-music no Brasil e no mundo para você?
M Renato Cohen e Gui Boratto estão bem à frente dessa geração. Eles fazem música inteligente e estão no mesmo nível dos produtores europeus. Lá fora o destaque é o alemão Ben Klock, que faz techno com uma pegada industrial. Ele me fez dançar por quatro horas numa noite em Berlin. Outro grande é o sueco Adam Beyer, além de ótimo DJ e produtor, ele administra um dos melhores selos de techno no momento, o Drumcode.
GDS Quais foram e quais são suas fontes de informação sobre música?
Antigamente eu lia os semanários ingleses New Musical Express e Mellody Maker. Hoje, eu tenho várias fontes: Myspace, lojas virtuais, sites e etc...
GDS Quais os sites que você indica para baixar música?
O Beatport é o mais famoso e tem uma ótima diversidade de estilos. O myspace também é legal porque você pode ouvir e às vezes baixar coisas inéditas dos artistas.
GDS Quanto você gasta por mês com novidades em vinil?
Eu compro uma média de 40 discos por mês. Gasto de 250 a 300 euros por mês.
GDS Está mais fácil ser DJ hoje em dia?
A internet sem dúvida inspirou mais gente a tocar, mas para sobreviver nesses dias o DJ deve ter boa técnica, saber muito sobre música e ter um excelente background. No momento eu estou dando aulas de discotecagem no curso de Música Eletrônica da Faculdade Anhembi-Morumbi. Nessa aula, eu dou dicas para os alunos comprarem seu primeiro toca-discos. Faço também uma simulação de uma festa com um line-up variado para eles saberem como se portar em caso de se depararem com uma situação dessas. Além disso, eles também têm aulas de música e produção com diversos softwares.
GDS Sua agenda no Myspace está lotada. O que você tem feito na noite: projetos, festas, residências, visitas ao exterior programadas?
Eu tenho três residências: D-Edge, na noite Cio (projeto de Glaucia ++), Vegas, na noite Old School Friends, que é um projeto meu, e no Clash, na festa Circuito. Fora isso, sempre me convidam para tocar em outros clubs: Glória, A Lôca e SPKZ, todos em São Paulo. Em julho, eu vou para Berlin, divulgar o lançamento do meu disco, DJ Magal Presents Killa Beat Goes to Sao Paulo e, em outubro, pretendo tocar em Santiago do Chile e Buenos Aires.
GDS Como você classificaria a noite paulistana? O que tem de bom e ruim na sua opinião?
Eu adoro a noite de São Paulo. Para mim, ela é sem dúvida uma das melhores do mundo. A única coisa ruim é que poderíamos ter mais clubs no circuito underground e mais shows ao vivo.
Conversa Fiada ? Pecado gastronômico: O Barbaro, restaurante argentino em São Paulo ? Um lugar na noite: Na cabine de som ? Lugar no mundo: Berlin ? Drinque: cerveja ? Música: "Thieves Like Us" New Order ? Livro: "O Cobrador", de Rubens Fonseca ? Filme: Apocalipse Now ? Clichê necessário: Dá licença, por favor? ? Mico: tocar para pessoas desinteressadas ? Orgulho: Minha familia ? Noite memorável: Vegas (Old School Friends com Ben Klock) ? Sonho: Ter um club |
Atualizado em 6 Set 2011.