Um dos assuntos que tem criado muita polêmica e incomodado DJs, promoters, empresários e pessoas ligadas às noites brasileiras em termos de baladas é justamente o tempo de vida de uma casa noturna.
Uma pesquisa recente divulgou que a média de tempo de uma casa noturna paulistana é de seis meses diretos - prazo extremamente baixo para uma empresa funcionar e depois quebrar.
Mas é um dado real, e um dos reflexos disso é a notícia do fechamento da Pink Elephant, casa frequentada pela nata paulistana e sinônimo de conceito musical. A Pink anunciou o fechamento acompanhando a tendência da casa de Nova York, que também fechou. Os responsáveis do local disseram que a casa fecha, mas mudará de nome, seguindo o mesmo conceito, ou seja: o nome se vai, a ideia fica e logo teremos mais uma casa em funcionamento.
Todo empresário que quer abrir uma casa de sucesso no Brasil tem milhares de dúvidas e problemas e, para estas casas funcionarem, devem seguir o conceito do relógio, com todas as engrenagens em pleno funcionamento e uma ajudando a outra a fazer o relógio trabalhar perfeitamente.
Como todos sabemos, dificilmente isso acontece no Brasil, pois aqui em tudo é dado um "jeitinho". Grosso modo, jogando as sujeiras para baixo do tapete, que vão se acumulando e, geralmente os tais seis meses depois, a sujeira toma conta do local.
Muitos fatores são o segredo do sucesso ou do fracasso das casas no Brasil: atendimento, espaço aconchegante, sonorização equilibrada, bons DJs, atrações diferenciadas diariamente, qualidade nas bebidas e comidas servidas aos clientes, educação, valorização dos serviços e profissionais, etc ...
Geralmente a quebra de uma casa ocorre pela administração de seus donos. Os caras pagam milhares de reais para deixar as casas perfeitas e, quando contratam um DJ, querem pagar R$ 50 e ainda acham muito. O termo "contratar" também é engraçado, porque geralmente pegam aquele segurança ou barmen que diz que sabe tocar.
Depois de alguns meses, o "empresário" começa a "batizar" a bebida para ter mais lucro e, por último, passa a cobrar dobrado pelo que os clientes consomem. Acham que eles estão bêbados e nunca irão notar o "roubo".
Nas noites, as pessoas querem se divertir e a maioria percebe quando está sendo "sacaneada". Em vez de tomar uma atitude na hora, deixam passar e resolvem o problema de outra forma, falando mal do espaço, por exemplo. Isso vai refletindo aos poucos, e o empresário tem um problema indireto muito maior: o público vai sumindo da casa e ele nunca saberá o motivo.
Uma casa vive de indicações no começo e, depois de um tempo, ela passa a viver de novidades - é neste momento que a coisa fica mais complicada. Participei por três anos de uma casa de nome Absoluto, junto com o DJ Marcelo Sá. Nesses anos, a casa foi classificada como a melhor de São Paulo. Realmente dava gosto de estar lá. Tudo era quase perfeito.
Em 1999, saí para começar um projeto novo na mesma região. A casa abriu, mas uma pessoa ocupou meu lugar de maneira desonesta. O resultado disso foi que a casa durou 60 dias e depois quebrou, ou seja: começa errado, termina rápido. A casa em que eu estava começou a cair aos poucos, até fechar, mesmo tendo mudado de nome.
Um bom planejamento faz a diferença, e um local bem administrado traz retorno sem muito esforço. As pessoas comentam e a curiosidade faz o resto. Os frequentadores ficam satisfeitos e as casas sobrevivem mais.
O processo de valorização das casas é demorado e deve ser encarado de maneira consistente, pois, como todos sabem, demora um pouco para conseguir um bom conceito, mas, para perder tudo, é questão de uma festa.
Quando uma casa possui uma administração ao dia e outra à noite, com pulso forte e cautelosa com tudo que acontece, com certeza as coisas andam bem e não precisam de publicidade, divulgação, muito menos atrações de milhares de reais. Elas andam sozinhas e conquistam seus públicos para cada dia de funcionamento.
Estas casas existem e funcionam muito bem há anos, e eu não preciso escrever o nome delas nesta matéria. Já toquei em algumas e posso garantir que a receita do seu sucesso é justamente a valorização dos funcionários em primeiro lugar e, na sequência, a valorização dos clientes. Esses dois motivos fazem a diferença.
Leia as colunas anteriores do DJ Fabio Reder:
Fechada a Galeria dos DJs
Tecnologia nas baladas
Baladas 2011
Quem é o colunista: DJ há 18 anos, produtor musical há três anos, divulgador de músicas para rádios desde 1997.
O que faz: DJ, produtor de música eletrônica e empresário do ramo de rádio.
Pecado gastronômico: Lasanha e pavê de Sonho de Valsa.
Melhor lugar do Brasil: Meu estúdio de produção musical.
O que está ouvindo no carro, iPod ou mp3: Música eletrônica e diversos outros estilos que contenham letras bacanas e melodias.
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Atualizado em 1 Dez 2011.